Água mineral imposta pelo crime na Gardênia é considerada imprópria para consumo

Galões de água e garrafas pets com material de limpeza foram apreendidas em depósitos de bebida da Gardênia Azul nesta terça-feira, durante uma operação da Polícia Civil que mira uma possível guerra pelo monopólio por venda de água na favela da Zona Oeste do Rio. O material foi recolhido para análise. Uma perícia no local constatou que os estabelecimentos armazenavam esses galões de forma irregular, expostos ao sol, o que tornaria a água imprópria para consumo.

— A apuração, a partir de denúncias, identificou que esses depósitos armazenam águas impróprias para consumo e de marcas desconhecidas. A perícia e o andar das investigações vão identificar a origem desses galões, bem como a procedência da água — explicou a delegada Carolina Cavalcante, da delegacia de repressão às ações criminosas organizadas (Draco).

Seis donos de depósitos de bebidas da região foram presos em flagrante por crimes de saúde pública. No local, os agentes encontraram galões de água com rótulos vermelhos, denominado “Cachoeiras Leve”, e azuis, “Império de Cachoeiras”, que, segundo a polícia, são marcas desconhecidas. A operação foi deflagrada após a execução do vendedor de água Ironaldo Salvador de Alcantara, de 51 anos, com 30 tiros, na última quarta-feira (22), em um depósito de água mineral na comunidade. De acordo com a polícia, o comerciante foi alvo de retaliação de traficantes que atuam na localidade, já que se recusava a comercializar a água determinada por eles.

— Sabemos que o tráfico age coagindo moradores e comerciantes, impondo que eles vendam a marca adquirida pelo tráfico. Ainda estamos apurando quanto o tráfico ou a milícia está lucrando com essas vendas ilegais. Ainda não podemos afirmar quem está comando este monopólio de água, mas sabemos que essa venda de água imprópria para consumo é oriunda de organizações criminosas que atuam na região — afirmou a delegada.

Ainda conforme as investigações — que envolve também a delegacia do consumidor (Decon) —, cada galão era adquirido pelos comerciantes a R$10 reais e vendidos aos moradores por R$11. Os depósitos comercializavam rótulos misturados, no entanto, a polícia ainda apura se a cor das marcas indica quem está por trás das vendas — milicianos ou traficantes. O envolvimento dos seis presos com as organizações criminosas também está sendo investigado pela polícia.

— Estamos levantando a participação deles. Essa parte da investigação será importante para descobrir os verdadeiros responsáveis. O interessante é que a gente sempre viu essa disputa por serviço na comunidade por parte da milícia. Agora, o tráfico, além da venda de drogas, também está vendo lucro nessa atividade. Por isso, existe essa disputa pelo monopólio. As organizações criminosas têm diversos braços e atuam em diversas frentes. Estamos apurando para identificar cada uma delas — acrescentou a titular da Draco.

Delegada da Decon, Carina da Silva Bastos revelou que a delegacia já vinha recebendo inúmeras denúncias sobre a venda de água de procedência duvidosa. A operação em conjunto buscou fiscalizar a comercialização dos galões e o envolvimento com a organização criminosa:

— Existe uma possibilidade de uma venda imposta pelo tráfico ou milícia. Ainda não contabilizamos a quantidade exata do material comercializado. Estamos analisando o flagrante para verificar se há necessidade de interdição dos locais.

Segunda a delegada, a vigilância sanitária não esteve presente na ocorrência, mas ela deve comparecer ao local para uma perícia.

Disputa por território

Nas últimas semanas, a Gardênia Azul e bairros vizinhos convivem com o medo causado por uma disputa entre traficantes e milicianos pelo domínio de territórios.

Uma distribuidora de água enviou para um cliente uma mensagem em que, na resposta a uma solicitação para entrega de um galão de 20 litros, cita “impossibilidade de trabalhar” na região: “Prezados clientes, estamos impossibilitados de trabalhar com a fonte com a qual trabalhávamos, a segurança local voltou a fornecer água para os depósitos locais, e a nossa opção é trabalhar com a água fornecida por eles ou fechar. No momento, preferimos fechar”.

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