Advogado de George Santos no Brasil foi condenado por integrar grupo de extermínio

O advogado contratado pelo deputado republicano George Santos para defendê-lo em um processo de estelionato no Brasil foi condenado por participar de um grupo de extermínio ligado à antiga “máfia das vans” em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Jonymar Vasconcelos, 47, foi sentenciado a 18 anos de prisão em 2007 pela juíza Patrícia Acioli, assassinada quatro anos mais tarde por policiais milicianos. Em 2004, o advogado foi pago para matar um mecânico que se recusou a consertar kombis de graça e não se conformou em ser expulso da cooperativa de transportes.

No dia 3 de dezembro daquele ano, por volta das 6h30, quatro homens em duas motos foram à casa de Aristeu Vieira de Mattos, renderam sua mulher e atiraram nele na frente de seu irmão. Vasconcelos permaneceu na moto, aguardando a execução, segundo o Ministério Público.

Na época em que cometeu o crime, o advogado era 3º sargento da Marinha. Ele perdeu suas funções na Força por decisão da magistrada e, anos depois, foi licenciado pelo Conselho de Disciplina militar.

“Verifica-se que o acusado é integrante das Forças Armadas e, nesta condição, teria maior responsabilidade no cumprimento da lei. E, ao contrário, usa de sua condição para infligir o medo e a barbárie na comunidade onde vive, juntamente com terceiras pessoas”, escreveu a juíza.

Procurado, Vasconcelos diz que já respondeu pelo crime e que o processo já foi extinto. Ele cumpriu cerca de cinco anos em regime fechado, até 2009, quando progrediu para a prisão domiciliar e passou a cursar direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua pena foi extinta em junho de 2022.

Folha perguntou a George Santos se ele tinha conhecimento do passado de seu defensor e como o encontrou, uma vez que ele não é ligado a escritório de advocacia nem tem contatos listados na internet.

Vasconcelos representa Santos no caso em que o político confessou ter usado cheques furtados e sem fundo para comprar roupas e sapatos em Niterói, em 2008 —reaberto quando as mentiras sobre o currículo do deputado começaram a ser reveladas. No último dia 18, o advogado conseguiu que a ação corresse em sigilo, como revelou a Folha.

Em resposta à reportagem, Santos primeiro escreveu, por mensagem, que não entendia português, apesar de ser filho de brasileiros e ter vivido por anos no Brasil. Quando as questões foram enviadas em inglês, o deputado deixou de responder.

Vasconcelos afirma que o cliente o achou por seu bom desempenho em tribunais. “George chegou até mim por indicação, por ver o número de processos em que eu atuo com êxito. Tenho sucesso em mais de 350 processos de que já participei”, diz.

Depois que se formou, o advogado chegou a tentar uma revisão e uma anulação de sua sentença de homicídio doloso pelo Tribunal do Júri, alegando o surgimento de novas provas. A Justiça fluminense, porém, manteve a condenação. Segundo ele, o caso agora está em Brasília.

Além dessa, o defensor possui outras três anotações criminais junto à Polícia Civil. A primeira delas é de 1994, quando foi preso em flagrante por lesão corporal e ameaça, armado, mas absolvido após acordo entre as partes. A última, por outra ameaça, é de 2010, quando ainda cumpria pena, em processo arquivado seis anos mais tarde.

Entre esses dois registros, em meados de 2008, seu nome constou num inquérito que investigou uma associação criminosa e outro assassinato por encomenda. Na ocasião, uma longa apuração da Draco (delegacia de repressão ao crime organizado) terminou numa megaoperação que prendeu mais de 30 pessoas por envolvimento com a máfia da vans.

O grupo era chefiado pelo sargento reformado da Marinha e então vereador de São Gonçalo Edson da Silva Mota, o Mota da Coopasa, e dois de seus filhos.

Meses antes dessa operação, o nome de Jonymar Vasconcelos apareceu em uma denúncia anônima ao Disque-Denúncia: a juíza Patrícia Acioli foi informada de que o então presidiário estaria planejando sua morte. O Tribunal de Justiça apurou essa e outras ameaças e concluiu que a juíza não precisava de seguranças. Três anos depois, ela foi assassinada.

O advogado diz que todos esses fatos foram investigados, e sua inocência, reconhecida. “O próprio promotor de Justiça achou um absurdo [eu ser acusado de ligação com a máfia], porque na época eu estava preso”. A reportagem, de fato, não encontrou denúncia em seu nome.

Sobre a suposta ameaça à juíza, ele afirma que há um despacho do ex-desembargador José Murta Ribeiro, então presidente do TJ-RJ, confirmando que ele não tinha relação com o caso —ele, porém, não enviou esse documento ao ser questionado pela Folha.

“Disque-Denúncia qualquer um pode fazer. Tanto é que as pessoas que foram acusadas da morte da juíza já foram todas condenadas. Eu nem sequer fui indiciado ou interrogado sobre isso. No dia [em que ela foi morta], eu estava a quilômetros de distância, e foi tudo apurado pela delegacia de homicídio”, declara.

Onze policiais militares do 7º Batalhão (São Gonçalo) foram condenados pelo homicídio de Acioli, a única juíza da vara criminal da cidade na época. Ela foi assassinada com 21 tiros numa emboscada ao chegar em casa, em Piratininga, bairro nobre de Niterói.

Questionado sobre o processo contra Santos no Brasil, o advogado diz que não foi autorizado por seu cliente a dar entrevistas.

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