Mortes na Ilha: adolescente baleado por PMs será enterrado na tarde deste domingo
O enterro do adolescente Wendel Eduardo, de 17 anos, morto na manhã desse sábado após ser baleado por policiais militares, será na tarde deste domingo, às 16h, no Cemitério do Cacuia, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio. Ele foi atingido por disparos após, segundo a PM, não respeitar uma ordem de parada. Já o corpo da menina Eloah da Silva dos Santos, de 5 anos, morta baleada também na manhã desse sábado, na comunidade do Dendê, segue no Instituto Médico-Legal (IML) aguardando a liberação da família. Ela foi baleada enquanto brincava dentro de casa.
De acordo com parentes, Wendel estava em uma motocicleta, junto de um motoxista, e voltava de uma festa com os amigos no alto da comunidade, quando foi surpreendido pelos policiais. Após uma abordagem, os agentes teriam feito disparos que atingiram o jovem. Ele não resistiu.
O corpo do adolescente foi liberado do IML ainda na tarde de sábado.
— O Dendê não é uma comunidade violenta. Os meninos estavam numa festa no alto da comunidade. Ele pegou um mototáxi até a casa da avó dele. Quando os meninos desceram de moto, a polícia falou “perdeu”, ele levantou a mão e ouviu os disparos. O tiro pegou na mão e no peito dele. Não tinha arma nenhuma. Meu sobrinho não estava armado. Minha família mora no morro há muito anos. Minha mãe tem 80 anos e sempre morou aqui na comunidade. Não é por isso que a polícia vai chegar aqui e dizer que a gente é bandido. Minha mãe está em estado de choque — afirmou o tio do jovem.
Wendel era o caçula de mais dois irmãos, de 28 e 21 anos. O adolescente completaria 18 anos na próxima segunda-feira. A família conta que os preparativos da festa já estavam em andamento, iriam fazer um grande churrasco em comemoração a data. No entanto, o sonho de ver o jovem alcançar a maior idade foi interrompido pela violência do estado.
Eloah morreu enquanto pulava na cama dentro de sua casa, na localidade conhecida como Cova da Onça, na comunidade do Dendê. O tiro foi disparado durante uma manifestação de moradores da favela devido à morte de um jovem de 17 anos – que, segundo a PM, teria trocado tiros com agentes da corporação. Em nota, a PM informou que “não havia operação policial no interior da comunidade” no momento em que Eloah foi atingida.
A menina Eloah era a filha do meio, além dela seus pais tem outras duas crianças, de 8 anos e 3 meses, recém-completados.
— A mãe está no chão. Ela e o pai mal conseguem falar, só chorar. Estão inconformados com essa injustiça que sofreram. A gente tenta proteger nossos filhos mas não conseguimos nem dentro da nossa própria casa — lamenta a prima Indiane Passos, de 25 anos, que tem uma filha da mesma idade de Eloah.
Comandante suspenso
O comandante do 17º BPM (Ilha do Governador), o tenente-coronel Fábio Batista Cardoso, foi afastado do cargo, por determinação da Secretaria de Estado de Polícia Militar. O anúncio foi feito na tarde deste sábado, horas depois da ação que resultou nas mortes de Eloah e Wendel.