E-mail do Planalto registra que Bolsonaro recebeu saco de ‘pedras preciosas’ e guardou em cofre
Mensagens trocadas por militares vinculados à Presidência da República, obtidas pela CPMI do 8 de Janeiro, sugerem que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro receberam um envelope e uma caixa com supostas pedras preciosas na cidade de Teófilo Otoni, Minas Gerais, no ano passado. A troca de e-mails indica também que os presentes não teriam sido cadastrados oficialmente.
O Estadão teve acesso a dois e-mails trocados pelos primeiros-tenentes do Exército Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti e pelo segundo-tenente da Força Cleiton Henrique Holzschuk. Os três foram ajudantes de ordens da Presidência da República durante o governo Bolsonaro. Crivelatti era braço direito do tenente-coronel Mauro Cid — ‘faz-tudo” do ex-presidente e preso desde maio por inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema do Ministério da Saúde.
A existência do e-mail foi revelada pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), durante sessão da CPMI do 8 de janeiro na terça-feira, 1º. A parlamentar declarou que havia obtido a informação sobre as “pedras preciosas” após análise de “mil e-mails” que haviam chegado à comissão.
“Essas pedras nunca foram registradas nem como presente ao presidente da República e à primeira-dama nem em lugar nenhum”, afirmou Feghali.
A deputada declarou ao Estadão nesta quarta-feira, 2, que requereu a convocação de Osmar Crivelatti e de Cleiton Holzschuk, que assinam as mensagens. Feghali disse que vai denunciar o caso ao Tribunal de Contas da União (TCU), ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Polícia Federal (PF).
“Ele era presidente à época, então presta contas ao TCU”, disse “Pedimos a quebra de sigilo da Michelle, do Bolsonaro e a movimentação do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) dos dois. Importante saber o volume de recursos que circularam. ”
Presentes
O procedimento de praxe para presentes recebidos por qualquer presidente da República começa com um cadastro. Os bens ficam sob responsabilidade da Diretoria de Documentação Histórica, que faz parte do gabinete da Presidência. O órgão analisa o que vai para o acervo pessoal do presidente e o que deve ser incorporado ao patrimônio da União — e só o que vai para esse segundo grupo tem seu valor avaliado. A listagem não possui o valor dos bens.
Bolsonaro recebeu mais de 19 mil itens enquanto esteve na Presidência da República. A lista oficial de presentes recebidos por ele indicam que, em Teófilo Otoni, o então presidente ganhou uma placa do Sindicato Rural da cidade, um quadro e o livro “Cinco minutos com Jesus”, de apoiadores, e um item de consumo da Indústria e Comércio Mate Cola LTDA.
Joias
Como o Estadão revelou em março, o governo Bolsonaro tentou entrar ilegalmente no Brasil, em 2021, com um conjunto de colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes da marca Chopard, de valor milionário. Segundo declarações iniciais, tratava-se supostamente de um presente do governo da Arábia Saudita para o então presidente e para a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
O tenente da Marinha Marcos André Soeiro, ex-assessor de Bento Albuquerque, almirante de esquadra da Marinha que atuava como ministro de Minas e Energia, foi o responsável por tentar entrar com as joias no País, apreendidas no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Procurada, a assessoria de Bolsonaro ainda não havia se manifestado até a publicação desta matéria.