Assinatura do acordo UE-Mercosul é adiada para janeiro
Texto é negociado há 25 anos e criaria a maior zona de livre comércio do mundo
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, expressou nesta sexta-feira (19) confiança de que será possível assinar o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul em janeiro, após o adiamento impulsionado por França e Itália em meio a protestos de agricultores.
O texto é negociado há 25 anos e criaria a maior zona de livre comércio do mundo. Com esse acordo, os europeus poderiam exportar produtos como veículos e maquinário aos países do Mercosul: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Em troca, facilitariam a entrada nos países do bloco de carne, arroz, mel e soja sul-americanos, considerados mais competitivos devido a suas normas de produção, o que os agricultores europeus veem com temor.
O presidente Lula abriu o caminho para esse adiamento horas antes, após conversar por telefone com a chefe de governo italiana, Giorgia Meloni.
Segundo ele, Meloni lhe pediu “paciência”, assegurando que a Itália acabaria apoiando o tratado.
‘Disputa interminável’
Este prazo adicional representa um revés para a Comissão Europeia, a Alemanha, a Espanha e os países nórdicos, que queriam que o acordo fosse assinado nos próximos dias.
Contudo, a poderosa federação alemã de indústria e farmácia (VCI) expressou sua “frustração” diante de uma “disputa interminável”.
O Executivo Europeu esperava assinar o tratado no próximo sábado durante uma cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu (PR). Mas, para isso, Von der Leyen precisava do aval de uma maioria qualificada dos Estados-membros da União Europeia reunidos em Bruxelas, que não obteve, sobretudo, pela oposição de França e Itália.
Ao final da reunião de cúpula, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu que o texto “mudasse de natureza”, com mais garantias para os agricultores.
Macron não descarta aceitar o acordo em janeiro, mas “é cedo demais para dizer”, destacou.
O maior sindicato agrícola francês, FNSEA, advertiu que o adiamento “não é suficiente” e instou seus militantes a permanecerem mobilizados, pois “o Mercosul continua sendo um NÃO!”.
Agricultores revoltados
Segundo a polícia de Bruxelas, 7.300 pessoas com cerca de 50 tratores participaram do protesto autorizado, a maioria pacificamente.
Mas outros 950 tratores chegaram ao bairro europeu, bloqueando várias ruas, com registro de vários incidentes.
Os protestos deixaram um panorama de pneus incendiados, batatas e projéteis arremessados, jatos d’água e bombas de gás lacrimogêneo lançados pela polícia. A situação ficou especialmente tensa nas imediações das instituições europeias, protegidas por um importante dispositivo policial.
Além disso, pessoas mascaradas quebraram várias janelas de um prédio do Parlamento, constatou a AFP.
Os agricultores protestavam contra diversos temas, não só contra o acordo UE-Mercosul, mas também contra as taxas sobre os fertilizantes e a reforma da política agrícola comum (PAC) da UE, explicaram alguns participantes à AFP.
Florence Pellissier, uma agricultora francesa, denunciou a “concorrência desleal” de produtos importados tratados com substâncias proibidas na Europa.
“Estamos aqui para dizer não ao Mercosul”, declarou à AFP o pecuarista belga Maxime Mabille. “É como se a Europa tivesse se tornado uma ditadura”, acrescentou, ao acusar a presidente da Comissão Europeia de tentar “impor o acordo à força”.
Von der Leyen se reuniu esta manhã com uma delegação da Copa-Cogeca, a principal organização agrícola europeia, e no final da reunião assegurou, em uma mensagem transmitida na rede X, que “a Europa estará sempre ao seu lado”.
A Copa-Cogeca reivindicou 10 mil manifestantes procedentes de vários países, sobretudo da França.
Muitos agricultores europeus acusam os países do Mercosul de não acatarem as normas ambientais e sociais que eles são obrigados a cumprir, o que permitiria vender seus produtos mais baratos.
Também há preocupações com a reforma de subvenções da PAC, que a Comissão Europeia busca, segundo eles, “diluir” no orçamento europeu.

