9 de setembro de 2025
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CPI da ALERJ identifica possível esquema de laranja em empresa de proteção veicular

Em depoimento durante oitiva, presidente da Associação Rio Ben disse desconhecer suas funções no cargo e que assumiu a presidência por indicação de um tio. A Comissão anunciou também que vai ouvir em sede prisional os principais detentos por roubo de veículos no Estado.

A CPI das Câmeras, da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que investiga o uso de sistemas de monitoramento em espaços públicos, ouviu nesta segunda-feira (08/09) representantes de seguradoras e empresas de proteção veicular. Em seu depoimento, a presidente da Associação Rio Ben Benefícios, Nathália David, disse desconhecer suas funções no cargo e afirmou que assumiu a presidência por indicação de um tio apontado por ela como verdadeiro dono da empresa. Diante das declarações, os deputados deliberaram pela quebra dos sigilos bancário e fiscal dela e de seus familiares vinculados à associação, além da convocação para prestarem esclarecimentos em próxima oitiva.

O colegiado também questionou a atuação das companhias na recuperação de veículos roubados, inclusive em casos de pagamento de resgates, e deliberou as conduções coercitivas de Carla Caldas, da empresa Pontual, e Ronald Silva, da Mais Prime, por não comparecerem à convocação para audiência. A CPI anunciou, ainda, que na próxima segunda-feira (15/09) ouvirá presos apontados como líderes de roubos de carros no Estado para apurar possíveis vínculos com as empresas investigadas.

O presidente da CPI, deputado Alexandre Knoploch (PL), afirmou que as investigações já apontam o uso de “laranjas” em associações de proteção veicular, prática utilizada para ocultar movimentações milionárias e conferir aparência de legalidade a esquemas de recuperação de veículos roubados. “Não restam dúvidas sobre as irregularidades, tanto na sonegação fiscal quanto na atuação de estruturas criminosas organizadas. O próximo passo é identificar todos os envolvidos em cada caso, para nomeá-los e incluí-los no relatório final”, destacou.

Oitiva com presos por roubo de veículos

Entre os detentos que serão ouvidos na próxima oitiva estão Vinicius Sebastian dos Santos Catrinck, o “Capetão”; Thiago Fernandes Virtuoso, o “Tio Comel”; Gildásio Esteves Lima; Luciano da Silva Teixeira, o “Sardinha da CDD”; e Jefferson Dias Lino, o “Rouba Cena”. Segundo Knoploch, todos já receberam resgates de empresas ligadas a associações de proteção veicular.

Já o relator da CPI, deputado Felipe Poubel (PL), informou que vai oficiar à Polícia Civil e ao Ministério Público para que aprofundem as investigações sobre essas associações. Para ele, o esquema já configura crime organizado. “Essas empresas fomentam o crime, escondem e lavam dinheiro. O pagamento de resgates virou mais uma receita do tráfico. Hoje, não se trata apenas de tráfico de drogas, mas também de roubo e resgate de veículos, algo que cresceu de forma alarmante nos últimos anos”, comentou.

Depoimentos inconsistentes

Ainda durante a audiência, o colegiado questionou representantes das empresas Black Hawk, Tokio Marine e Car System sobre a atuação das concessionárias na localização e recuperação de veículos roubados.

Na sabatina com a Black Hawk, especializada em pronta-resposta para localizar carros, o colegiado considerou inconsistente o depoimento da presidente Lidiane Ferreira. Ela afirmou localizar, em média, 95 veículos por mês, mas não soube detalhar como o processo é realizado. Diante disso, a comissão deliberou pela quebra de sigilo bancário de Lidiane e solicitou uma relação completa de todos os veículos localizados nos últimos seis meses.

O deputado Alan Lopes (PL) criticou duramente o que chamou de “máfias instaladas no Rio de Janeiro” envolvendo associações de proteção veicular. Segundo ele, esses esquemas geram grandes lucros, burlam a legislação e prejudicam tanto o Estado quanto os cidadãos. “O Rio de Janeiro se tornou um celeiro de corrupção, onde esquemas ilegais movimentam milhões, prejudicam empresas legítimas e afastam investimentos. Muitas empresas não querem permanecer aqui porque sofrem extorsão e pressão. É hora de investigar e acabar com essas máfias. Esse é um mercado gigante e ninguém está incomodando esses caras”, afirmou.

Os deputados Luiz Paulo (PSD) e Rodrigo Amorim (União) também questionaram de forma firme as empresas convocadas ante as inconsistências nos depoimentos. Os parlamentares Marcelo Dino (União) e Sarah Poncio (SDD) também marcaram presença na sabatina.

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