Vacina contra vírus causador da bronquiolite chega ao SUS em novembro
Muito aguardada pelas famílias, a vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR) — principal causador da bronquiolite em bebês — começará a ser distribuída na rede pública na segunda quinzena de novembro. O anúncio foi feito na última quarta-feira (10/9), quando o ministro da Saúde Alexandre Padilha assinou uma parceria para produzir o imunizante no país.
As primeiras 1,8 milhão de doses adquiridas por meio do acordo envolvendo o Instituto Butantan e a farmacêutica Pfizer serão entregues até o fim deste ano ao Sistema Único de Saúde (SUS). A vacina é uma importante aliada e pode reduzir a pressão sob as unidades hospitalares. Abaixo, confira o impacto do vírus na saúde dos pequenos.
- O VSR é responsável por 80% dos casos de bronquiolite e 60% de pneumonias em crianças menores de 2 anos.
- A cada cinco crianças infectadas pelo VSR, uma necessita de atendimento ambulatorial e, em média, uma em cada 50 acaba hospitalizada no primeiro ano de vida. No Brasil, cerca de 20 mil bebês menores de um ano são internados anualmente.
Entre os prematuros, o risco é ainda mais elevado — a taxa de mortalidade é sete vezes maior do que a de crianças nascidas a termo — grupo que representa 12% dos nascimentos no país.
De 2018 a 2024, foram registradas 83 mil internações de bebês prematuros por complicações associadas ao vírus, como bronquite, bronquiolite e pneumonia.
Atualmente, a principal estratégia para proteger esses bebês na rede pública é o Palivizumabe. O anticorpo é indicado para prematuros com idade gestacional menor ou igual a 28 semanas no primeiro ano de vida, com recomendação de uma aplicação mensal durante a sazonalidade do VSR, até no máximo cinco aplicações.
Em fevereiro deste ano, a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias) recomendou a incorporação da vacina Abrysvo como mais uma aliada contra o VSR.
Durante a XXVII Jornada Nacional de Imunizações da SBIm, em São Paulo (SP), o Diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Éder Gatti, já havia adiantado à CRESCER que a vacinação das gestantes começaria ainda este ano. “O Ministério trabalha na perspectiva de começar a vacinar ainda em 2025, para que os bebês que nascerem e passarem pela temporada do ano que vem já estejam protegidos pelos anticorpos maternos oferecidos por essa vacina”, explicou.
Segundo o Ministério da Saúde, em novembro, se inicia o processo de envio das primeiras 832,5 mil doses da vacina contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e, até dezembro, serão distribuídas mais de 1 milhão de doses para todo SUS.
A distribuição aos estados e municípios permitirá a organização de calendários locais, com aplicação nas unidades básicas de saúde e pontos de vacinação de cada região. “É uma proteção dupla: protege a gestante e o recém-nascido. E, ao mesmo tempo, garante transferência de tecnologia, incorporação de inovação e geração de emprego, renda e conhecimento ativo no nosso país”, afirmou o ministro Alexandre Padilha durante o evento.
Como funciona a vacina contra o VSR?
A vacina contra o VSR destinada às gestantes — fabricada pela farmacêutica Pfizer — é produzida com a proteína S do VSR a partir de técnicas de engenharia genética. Seu objetivo é proteger o bebê antes mesmo do nascimento.
Ao ser aplicada durante a gravidez, a Abrysvo estimula o organismo da mãe a produzir anticorpos que atravessam a placenta e chegam ao bebê, oferecendo imunidade nos primeiros meses de vida — período em que ele corre maior risco de complicações graves por causa do vírus, como bronquiolite e pneumonia.
Os estudos apresentados à Conitec apontaram que a vacina para gestantes pode prevenir aproximadamente 28 mil internações anuais.
Segundo o pediatra e infectologista Renato Kfouri, a câmera técnica do Ministério da Saúde recomendou a vacinação das gestantes no Brasil a partir das 28 semanas de gestação. Com a implementação da vacina, será possível avaliar, no Brasil e em outros países, a necessidade de novas doses em futuras gestações.
Qual é o esquema de doses?
A vacina Abrysvo é aplicada em dose única.
Novo aliado chega em 2026
Em fevereiro, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias também recomendou a inclusão do anticorpo monoclonal Nirsevimabe em seu Programa Nacional de Imunização. O Beyfortus, desenvolvido pela Sanofi, é um anticorpo monoclonal usado para prevenir infecções respiratórias graves em bebês, principalmente aquelas causadas pelo VSR.
Diferentemente das vacinas, que estimulam o sistema imunológico a produzir seus próprios anticorpos contra o vírus, o medicamento fornece o “anticorpo pronto”. Dessa forma, os bebês não precisam gerar sua própria defesa para lutar contra o vírus.
O anticorpo monoclonal é um imunizante indicado somente para bebês de até 2 anos. Segundo o Ministério da Saúde, ele pode ser aplicado em:
- Todos os recém-nascidos e bebês de até 12 meses.
- Crianças de 13 a 24 meses que fazem parte de grupo de risco, como aquelas com doença pulmonar, doença cardíaca, Síndrome de Down, fibrose cística, anomalias congênitas das vias aéreas e sistema imunológico comprometido.
Em entrevista à CRESCER, Éder Gatti mencionou que a expectativa é disponibilizar o anticorpo monoclonal no próximo ano. “A ideia é estar com o anticorpo [nirsevimabe] distribuído e já acessível para a população na próxima temporada [de VSR], que começa em fevereiro”, afirmou o diretor do PNI. “Com as duas estratégias associadas, todos os nascidos vivos vão ter a oportunidade de acessar alguma tecnologia de combate ao vírus sincicial respiratório, que é uma doença que todos os anos coloca as nossas terapias intensivas pediátricas em colapso. Vai ser um grande avanço de saúde pública”, destacou.