‘Situação ainda é muito crítica’, diz secretário sobre UPA de Costa Barros fechada há dez dias
PM ocupou região, mas SMS ainda aponta insegurança para retomada dos atendimentos
A Unidade de Pronto Atendimento de Costa Barros, na Zona Norte, permanece fechada por tempo indeterminado. A UPA fica próxima aos Complexos do Chapadão e da Pedreira, controlados por facções criminosas rivais, que travaram uma disputa violenta pelo controle do território. Apesar da ocupação da Polícia Militar, uma semana após a invasão do local por bandidos armados, o secretário municipal de saúde afirma que a insegurança na região ainda impede a retomada das atividades.
Em entrevista ao DIA, Daniel Soranz explicou que a secretaria tem avaliado diaremente as condições para reabertura da unidade, que até o momento não se mostraram seguras. O secretário diz ainda que muitos profissionais pediram transferência para outras UPAs e suportes psiquiátrico e psicológico, devido ao ataque ocorrido em 30 de setembro, quando pacientes foram agredidos e levados pelos bandidos, mas liberados em seguida, e funcionários sofreram intimidações.
Na ocasião, uma ambulância chegou a ser sequestradas e havia 11 pessoas internadas no local. A invasão aconteceu porque criminosos estariam procurando por baleados em um confronto das facções Comando Vermelho, que controla o Chapadão, e Terceiro Comando Puro (TCP), que domina a Pedreira, pelo controle das comunidades da região. Para Soranz, reabrir a unidade sem a estabilização da área representa riscos para profissionais e pacientes.
“Infelizmente, a situação ainda é muito crítica, são muitas pessoas baleadas na região. A Secretaria quer muito retomar o funcionamento da UPA, é nosso objetivo, mas a situação de violência lá está muito intensa e muito crítica. Então, a gente não consegue ainda que os profissionais voltem e também há o risco de atender pacientes numa zona de guerra, de conflito, como está acontecendo. A gente está monitorando todos os dias, para verificar se a gente consegue voltar ou não”, afirmou o secretário. A UPA já está fechada há dez dias.
Desde a invasão, a PM reforçou o policiamento com um veículo blindado posicionado em frente à UPA e, na última terça-feira (7), quando a unidade completou uma semana fechada, sob protestos de moradores, a corporação anunciou a ocupação por tempo indeterminado da região de Costa Barros. Além disso, ao longo dos últimos dias, equipes do 41º BPM (Irajá) e do Comando de Operações Policiais Especiais (COE) realizaram operações contra as ações criminosas no Chapadão e na Pedreira. As medidas, no entanto, ainda não são suficientes para que o espaço seja reaberto, segundo Soranz.
“A própria equipe da polícia só consegue ficar lá com carro blindado, a área é totalmente dominda pelo tráfico e, infelizmente, a gente não consegue ter segurança para esse atendimento. O número de pessoas baleadas que chegam na unidade triplicou e a gente não está conseguindo ter um território tranquilo para poder atuar. A polícia ainda não conseguiu ocupar a região, está tendo dificuldade nessa ocupação e, até agora, ninguém foi preso”, destacou Soranz.
Dados da SMS apontam quem entre janeiro e setembro deste ano, a UPA de Costa Barros atendeu 78 baleados, uma média de um caso a cada quatro dias. Os números representam um aumento de 105% em comparação com o mesmo período de 2024, quando foram registrados atedimentos de 38 pessoas feridas por tiros na unidade. Os casos triplicaram em relação ao ano de 2023, quando 25 atingidos por disparos de arma de fogo receberam cuidados no local.
Nos últimos dias, moradores de comunidades próximas têm se queixado sobre o fechamento e relataram ao DIA ter precisado procurar atendimento longe de casa, durante a madrugada e com ajuda de vizinhos, porque não havia atendimento no local. Um grupo chegou a realizar mais de uma manifestação pedindo a retomada das atividades da UPA e do Centro Municipal de Saúde (CMS) Portus e Quitanda, que também está fechado. De acordo com o secretário, é necessário que, no momento, eles se desloquem para outros locais, para que não sejam vítimas de violência dentro da unidade.
“É inadmissível a gente ter uma unidade onde os pacientes são sequestrados, os profissionais de saúde são sequestrados, que traficantes e policiais entrem armados para trocar tiros e que carros de profissionais tenham sido alvejados. Então, para que não aconteça mais essa situação, a gente precisa que as forças de segurança protejam a unidade e a comunidade. E a gente espera que as pessoas que invadiram a unidade sejam presas e punidas”. A pasta informou que encaminhou ofícios e comunicados oficiais para as forças de segurança pedindo planejamento para dar mais segurança à região.
A PM informou que o 41º BPM lidera o ranking de fuzis apreendidos em 2025, com 90 armas retiradas de criminosos. A nota ressalta que a região “apresenta grande complexidade, marcada por disputas entre grupos criminosos armados e pela presença de comunidades que demandam atenção constante do Estado” e que “mantém esforços permanentes de policiamento e ações de proximidade, com o objetivo de proteger vidas, restabelecer a ordem e ampliar a sensação de segurança da população”. A corporação completou dizendo que “permanece aberta ao diálogo e seguirá atuando de forma integrada e contínua para garantir mais tranquilidade aos moradores de Costa Barros e áreas vizinhas”.