13 de outubro de 2025
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Seleção sem técnico, sucessão de ídolos, Liga incerta: o futebol brasileiro no limbo

Símbolo do país do futebol, a seleção brasileira, que hoje enfrenta Guiné em amistoso na Espanha, às 16h30 de Brasília, está num limbo. E representa o momento de entressafra do futebol brasileiro como um todo. Sem treinador há seis meses, a CBF promove o processo seletivo mais longo deste século, e cogita aguarda mais um ano para ter o italiano Carlo Ancelotti, do Real Madrid, já que não tem um projeto de futebol. Em campo, o Brasil vive a passagem de bastão da geração de Neymar para a de Vini Jr, que assume hoje a camisa 10, e se consolida como principal nome para a Copa do Mundo de 2026, que não se sabe ainda se Neymar jogará e em que pé estará a renovação da equipe.

Enquanto isso, a CBF vê os clubes brasileiros não conseguirem organizar uma liga e precisará entrar em cena para seguir na gestão do Brasileirão a partir de 2025. Técnicos formados no país são cada vez menos prestigiados externa e também internamente. Tite, que deixou a seleção no fim do ano, não conseguiu até agora viver o sonho de trabalhar na Europa. Por outro lado, o multicampeão com o River Plate na América do Sul, Marcello Gallardo, recebeu proposta do Olympique, da França.

Por aqui, as soluções antigas voltaram. Felipão, o último campeão mundial, em 2002, aceitou o convite para assumir o comando do Atlético-MG, adiando a aposentadoria da beira do campo já declarada. O movimento de resgate de medalhões nacionais já havia se iniciado com Cuca e depois Vanderlei Luxemburgo no Corinthians. Os líderes do Brasileirão – Botafogo, Palmeiras e Flamengo – têm estrangeiros no cargo: Luis Castro, Abel Ferreira e Jorge Sampaoli. Fernando Diniz, que foi sensação com o Fluminense no primeiro semestre, está em viés de baixa. Nenhum desses treinadores está inserido no projeto da CBF, que descarta também Jorge Jesus.

Único campeão sem treinador

A CBF segue contando os dias no segundo processo seletivo mais longo neste século. Desde 2001 a Seleção só ficou tanto tempo sem treinador depois da conquista do penta. Luiz Felipe Scolari deixou o cargo em agosto de 2002 e Carlos Alberto Parreira foi anunciado 140 dias depois, em janeiro de 2003. Atualmente o cargo está vago há 190 dias. Entre os oito países campeões do mundo, apenas o Brasil continua sem técnico.

O Uruguai demitiu Diogo Alonso e anunciou Marcelo Bielsa em maio. A Espanha trocou Luis Enrique e anunciou Luis de la Fuente dois dias depois: Alemanha, Inglaterra e França mantiveram, respectivamente, Hansi Flick, Gareth Southgate e Didier Deschamps. Ao procurar um técnico que não seja brasileiro, a CBF desafia a lógica: técnicos estrangeiros jamais conquistaram uma Copa do Mundo. O primeiro e único a levar uma seleção à final foi o austríaco Ernst Happel, vice com a Holanda em 1978.

Aproximação por Ancelotti e falta de projeto

O processo seletivo é liderado pelo presidente Ednaldo Rodrigues. Além de Tite, a CBF também abriu mão do coordenador Juninho Paulista e aguarda que o próximo treinador indique este profissional. Há expectativa de estreitar laços com o presidente do Real Madrid no amistoso de hoje e entender se Ancelotti viria agora, mas o técnico já deu indícios que cumprirá o contrato até o meio de 2024. Até lá, a seleção tem apenas jogos de Eliminatórias, e poderia economizar no período cerca de R$ 50 milhões com os salários da do treinador. Em conversa com jogadores, Ednaldo Rodrigues citou apenas o nome de Ancelotti como prioridade, sem listar outras opções. Os atletas e funcionários da seleção aguardam a definição. Além de Ramon Menezes, outros profissionais não sabem se continuarão na seleção.

Uma das preocupações após o fracasso na Copa do Mundo era enxugar o quadro de funcionários da seleção, mas não exatamente por problemas financeiros. A antiga comissão técnica contava com 74 profissionais. Hoje a delegação tem cerca de um terço desse número, poucos com emprego fixo. O problema, apontam alguns profissionais, não era quantidade nem qualidade, mas o projeto de futebol dependente da figura de um treinador, que terceiriza o comando ao lado de um diretor de seleções, mas está sempre sujeito às políticas da CBF.

Não há, e não havia, por exemplo, funções que ganham espaço em grandes seleções, como a de um “Head Scout”. O profissional seria responsável por mapear todos os brasileiros pelo mundo, em diferentes ligas, e fazer o direcionamento de observadoers em torneios de base, com análise in loco. A tarefa é importante para auxiliar na montagem do elenco desde as categorias inferiores e criar uma identidade em toda a cadeia de trabalho, e já poderia estar em curso, mesmo sem técnico. No Uruguai, por exemplo, há seis pessoas que ocupam a função apenas na base.

O contexto de limbo em que a seleção brasileira se encontra passa também pela mudança de gestão da entidade, que desde que Ednaldo Rodrigues assumiu tem se notabilizado por um perfil personalista, centralizador, mas com capacidade de diálogo. Apesar das pautas progressivas, dentro e fora de campo, recentemente houve divergências com vários vice-presidentes, e perda de apoio. Esse pano de fundo, somado às diferenças de clubes e dirigentes em relação à Liga, pode fazer a pressão e as críticas em relação à busca por um treinador aumentarem gradualmente.

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