Score: entenda como pontuação funciona e quais hábitos financeiros impactam na liberação de crédito
Métrica avalia o risco de inadimplência do consumidor com base em seu histórico financeiro
Quando o assunto é dinheiro, o comportamento também entra na conta. Hoje, cada vez mais consumidores sabem que dependem do score de crédito e que ele afeta sua vida financeira. Apesar disso, ainda há dúvidas de como o seu histórico na relação com dinheiro é avaliado e quais são os reais benefícios ou prejuízos. Por isso, O DIA ouviu especialistas que explicam como a função score e como ele pode contribuir positiva ou negativamente na obtenção de crédito.
Criado por órgãos como a Serasa e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), o score é uma pontuação individual e funciona como um espelho do momento financeiro do consumidor, indicando quais as chances do cliente pagar as contas em dia nos próximos meses. Assim como a vida financeira tem altos e baixos, o Score também pode aumentar ou reduzir, de acordo com os movimentos e escolhas do usuário.
Refletindo o histórico e comportamento financeiro, a pontuação de crédito vai de 0 a 1.000. O cálculo considera não só a pontualidade de pagamento de bancos, mas também de empresas de telefonia, cartão de crédito, água, energia elétrica e de contas de consumo em geral. Muitos bancos e lojas olham essa pontuação antes de conceder crédito. Um score alto, por exemplo, facilita o financiamento de carros e até mesmo a negociação de um aluguel.
“Quando o score é baixo, as instituições financeiras entendem que existe maior risco de inadimplência, o que pode gerar dificuldade na aprovação de empréstimos, financiamentos, abertura de crediários e até na obtenção de cartões de crédito. Mesmo quando o crédito é aprovado, em muitos casos os juros podem ser mais altos justamente por causa do risco percebido”, Bruna Kusumoto, especialista em direito do consumidor.
Wesley Brandão, especialista da Serasa em score, aponta que não existe uma faixa por idade ou gênero. Esses dados são considerados apenas nas informações cadastrais do consumidor. Entretanto, o cálculo considera o tempo de relacionamento com o mercado e, por isso, vemos uma tendência de acordo com a faixa-etária, já que consumidores mais jovens ainda estão construindo seu histórico de crédito.
“De modo geral, a pontuação é calculada a partir de informações do Cadastro Positivo, histórico de crédito e pagamentos, dívidas em aberto, consultas ao CPF e dados cadastrais”, disse.
A pontuação de crédito é baseada em diversos fatores que refletem o comportamento financeiro do consumidor. Na Serasa, cada um dos seis pilares principais conta com um peso específico na composição da pontuação.
– Hábitos de pagamento de contratos (como empréstimos, parcelamentos, crédito de crédito e contas de consumo oriundos do Cadastro Positivo): 29%
– Experiência de mercado: 24%
– Dívidas em aberto: 21%
– Busca por crédito e consultas ao CPF: 12%
– Informações cadastrais: 8%
– Quantidade e tempo de contratos de crédito ativos: 6%
Como são divididos os scores?
Bruna Kusumoto explica que cada “birô de crédito” possui critérios próprios de cálculo e bancos de dados distintos, ainda que muitas informações sejam semelhantes.
“Isso faz com que um mesmo consumidor possa ter pontuações diferentes em cada serviço. Na prática, o impacto vai depender de qual birô a instituição financeira consulta no momento da análise de crédito. Entre os mais utilizados, a Serasa costuma ser o mais consultado, mas todos têm relevância”, apontou.
SPC Brasil e a Boa Vista são organizações diferentes que prestam serviços semelhantes de proteção ao crédito. O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) é mantido pelas Associações Comerciais, enquanto a Boa Vista opera o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), que também é um banco de dados de informações sobre inadimplentes.
Já a Serasa Experian é uma empresa brasileira de análises e informações para decisões de crédito e apoio a negócios. Faz parte do grupo Experian. Ela atua por meio de acordos com empresas de informações de todos os continentes.
– Serasa
Dentro da pontuação do Serasa, que vai de 0 a mil, existem quatro categorias de pontuação:
– 0 a 300 – baixa
– 301 a 500 – regular
– 501 a 700 – boa
– 701 a 1000 – muito boa
– SCPC
Já a Boa Vista tem três categorias:
– 0 a 550 – baixo
– 550 – 700 – médio
– 700 a 1000 – alto
Segundo dados divulgados pela Serasa, a média nacional do Score está em 548 pontos. Esse valor se enquadra na faixa “bom”, que abrange pontuações entre 501 e 700. Já o Estado do Rio de Janeiro possui média de 540 pontos, também dentro da faixa “bom”.
“Um perfil considerado positivo, é dentro da baixa “bom”, que considera 500 a 700 pontos. Em linha
com a média nacional, em geral, os fluminenses contam com boas chances de cumprir compromissos
financeiros nos próximos seis meses”, aponta Wesley Brandão, especialista da Serasa em Score.
com a média nacional, em geral, os fluminenses contam com boas chances de cumprir compromissos
financeiros nos próximos seis meses”, aponta Wesley Brandão, especialista da Serasa em Score.
As faixas etárias revelam diferenças significativas no comportamento de crédito. No Brasil, a população com mais de 65 anos possui a maior média nacional, com 609 pontos, seguida pelo grupo de 51 a 65 anos, que registra 584 pontos. Os jovens de 18 a 25 anos possuem a menor média, com 505 pontos.
No Rio, os fluminenses com idade de 18 a 25 anos também têm a menor média de pontuação de Score, com 472 pontos. A população com mais de 65 anos possui a maior média, 601 pontos, seguida pelo grupo de 51 a 65 anos, que registra 572 pontos.
Ainda de acordo com a pesquisa da Serasa, 84% dos brasileiros já consultaram a pontuação de crédito. Entre esse público, 3% dizem consultar o Score na Serasa todos os dias e 35%, uma vez ao mês.
Paguei a minha dívida, o score realmente aumenta?
Os brasileiros ficaram mais endividados e mais inadimplentes em agosto, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A proporção de consumidores com contas em atraso subiu de 30,0% em julho para 30,4% em agosto, maior nível de inadimplência da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), iniciada em janeiro de 2010. Há um ano, a proporção de famílias inadimplentes era de 28,8%.
A fatia de consumidores que afirmaram não ter condições de pagar suas dívidas vencidas, ou seja, que permanecerão inadimplentes, subiu para 12,8%. A pesquisa considera como dívidas as contas a vencer nas modalidades cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa.
Manter o pagamento das contas em dia é o fator de maior peso no cálculo do score. Especialista em direito do consumidor, Bruna Kusumoto explica que sair da lista de inadimplentes é só o começo, a reconstrução da confiança leva tempo e depende de hábitos financeiros saudáveis.
“O score, ele não aumenta automaticamente, mas tende a melhorar ao longo do tempo. Isso porque o histórico de inadimplência deixa de pesar negativamente, e o comportamento financeiro positivo (como pagar contas em dia e manter dívidas sob controle) começa a ter mais peso no cálculo da pontuação. Ou seja, o aumento é gradual e depende dos próximos passos do consumidor”, disse. Ela ainda acrescentou que o nome é retirado da restrição em até cinco dias úteis após a quitação ou negociação da dívida.
Já Wesley Brandão afirma que depende do método de pagamento:
“Neste começo de ano, a Serasa lançou a atualização da ferramenta com o “Score em Tempo Real”. Na nova dinâmica, ficou ainda mais prático regularizar o status financeiro dos consumidores após a negociação de dívidas: em questão de segundos, quem paga sua dívida via app da Serasa, por Pix, tem a baixa da negativação na hora e o Score atualiza automaticamente”, explica.
“Já via boleto ou cartão, a baixa da negativação deve ser informada pelo credor a Serasa em até cinco dias úteis, possibilitando a movimentação do Score após esse período. Vale dizer que, a disponibilização da proposta para pagamento das dívidas negativadas via Pix depende exclusivamente da política do credor, assim como a informação sobre a baixa da negativação, já que a Serasa atua como banco de dados das comunicações enviadas pelas instituições parceiras”, acrescenta.
Jailson Ribeiro, de 45 anos, conta que já tentou realizar a compra de um carro duas vezes, mas com o score baixo, ainda não conseguiu fazer a retirada do veículo.
“Eu sempre sonhei em ter um carro. Já tentei juntar dinheiro para pagar uma boa quantia na entrada, mas a vida nem sempre foi fácil comigo. Minha mãe ficou doente, tive que pegar um empréstimo, porque não podíamos esperar o SUS nos exames. Acabei me enrolando, ficando endividados e com juros altos rolando”, desabafa o montador de móveis.
Ele relata que não fazia ideia do que era o score e que só se deu conta da importância do indicador quando recebeu o primeiro não.
“O vendedor chegou falando sobre essa ferramenta. Disse que estava baixo e que eu não ia conseguir fazer a compra enquanto não aumentasse. Pedi para me explicar como funciona. Desde então, tento me reorganizar financeiramente. Está difícil, mas vou conseguir realizar o meu grande sonho do carrinho”, afirmou.
Como ver seu score
– Serasa: pelo site ou aplicativo no celular;
– SPC: no aplicativo no celular ou ou acessando o Portal do Consumidor;
– Boa Vista: pelo site Consumidor Positivo.
Dicas para manter o nome limpo
Para Bruna Kusumoto, bons hábitos criam um histórico financeiro positivo e aumentam a chance de aprovação em financiamentos e cartões de crédito. A especialista em direito do consumidor deu algumas dicas de como manter o nome limpo e não ter problemas na hora de tentar contratar um crédito.
– Pagar as contas em dia: atrasos, mesmo pequenos, podem impactar o score;
– Evitar o acúmulo de dívidas: manter um bom equilíbrio entre renda e despesas mostra responsabilidade financeira;
– Negociar débitos antigos: limpar o nome reduz restrições e melhora a avaliação de crédito;
– Manter dados atualizados nos cadastros: isso aumenta a confiabilidade das informações;
– Usar crédito de forma consciente: contratar apenas quando necessário e evitar comprometer grande parte da renda com parcelas.
– Evitar o acúmulo de dívidas: manter um bom equilíbrio entre renda e despesas mostra responsabilidade financeira;
– Negociar débitos antigos: limpar o nome reduz restrições e melhora a avaliação de crédito;
– Manter dados atualizados nos cadastros: isso aumenta a confiabilidade das informações;
– Usar crédito de forma consciente: contratar apenas quando necessário e evitar comprometer grande parte da renda com parcelas.
A reportagem entrou em contato com o Boa Vista e SPC, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.