Presidente do CREA-RJ: ‘Engenharia está fora dos principais debates públicos que a envolvem’
Ao participar de painel da quarta edição do Fórum de Soluções Comexlog 2025 – um dos maiores eventos de infraestrutura e logística do país – o presidente do CREA-RJ, engenheiro Miguel Fernández, afirmou que um dos problemas que agravam a falta de planejamento e os desafios para o estado investir em infraestrutura é a ausência de representantes das engenharias dos debates públicos que interessam ao setor:
“Há 40 anos o Brasil não tem líderes da engenharia atuando na política; a engenharia está fora dos principais debates públicos que a envolvem; a engenharia se omite nessa discussão, mas as engenharias precisam retomar seu protagonismo”, afirmou o presidente do CREA-RJ, acrescentando que o próprio governo federal não tem a função de engenheiro na máquina pública.
Na mesa de abertura, Miguel Fernández afirmou que desde o início de sua gestão, em janeiro do ano passado, tem pensado o Conselho muito além de um sistema cartorário. Por isso, o CREA está reorganizando toda sua base de informações sobre os serviços de engenharia realizados no estado. O CREA-RJ é o patrocinador master do evento.
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“Essas informações nunca foram compiladas. As Anotações de Responsabilidade Técnica (ART), que são exigidas dos profissionais, agora vão se tornar um banco de dados. E isso vai reverter num novo modelo de fiscalização das atividades profissionais no Conselho”, disse Fernández, lembrando que o novo banco de dados vai permitir uma visão panorâmica de todo o sistema, com o cruzamento de dados da contratação de engenheiros e se as empresas estão ou não cumprindo a lei, e sendo registradas no Conselho.
Para Fernández, o banco de dados que será criado a partir da informatização da ART poderá contribuir para a produção de um diagnóstico de obras e serviços prestados pelos cem mil profissionais e as 20 mil empresas registradas no CREA. “A nova ART vai dar subsídios para as empresas do setor influenciarem na engenharia de resultados”, disse Fernández.
Também participaram do painel “Engenharia de Resultado – otimizando a infraestrutura para comércio exterior e logística” as seguintes autoridades: Tetsu Koike, diretor de Programa da Secretaria-Executiva do Ministério de Portos e Aeroportos; Mario Povia, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Infraestrutura: Delmo Pinho, especialista em Transporte e Mobilidade Urbana; e Alexandra Souza, consultora em compliance e logística. O debate foi mediado pela arquiteta e urbanista Mica Fernandez, vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio (CAU/RJ).
Representando o ministro Silvio Costa Filho, de Portos e Aeroportos, Tetsu Koike defendeu a necessidade de haver maior planejamento para se alcançar melhor integração entre todos os modos de transporte para a escoação da produção brasileira. “Não adianta investir bilhões numa infraestrutura se aquilo não atende a visão de Brasil”, observou Koike.
O especialista em transporte e mobilidade urbana, Delmo Pinho, destacou a importância de o governo federal se preocupar em ouvir os atores do Rio de Janeiro para implementar o Plano Nacional de Logística (PNL), a mais eficaz ferramenta do estado para planejar o desenvolvimento da infraestrutura de transportes do país a longo prazo. “A base da infraestrutura tem que partir do estado; a iniciativa privada não vai resolver tudo”, pontua Delmo.
O diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Infraestrutura, Mario Povia, lembrou que a greve dos caminhoneiros em 2018 – que provocou o desabastecimento de alimentos, medicamentos e combustíveis e paralisou setores da economia – comprovou a necessidade de se criar alternativas ao transporte rodoviário.
“A matriz de transporte está desequilibrada com a opção de privilegiar as rodovias. Regredimos nas ferrovias. Não avançamos no modal hidroviário. A maioria das empresas de navegação já está preparada para a cabotagem, mas é fundamental termos uma infraestrutura para isso. Não será por decreto que vamos ajustar nossa matriz de transportes”, afirmou Povia.
Pela manhã, além do presidente do CREA-RJ participaram da mesa as seguintes autoridades: o diretor de Programas e Políticas Setoriais, Planejamento e Inovação do Ministério de Portos e Aeroportos, Tetsu Koike; o secretário de Desenvolvimento Econômico do município do Rio, Osmar Lima, que preside a Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar), representando o prefeito Eduardo Paes; o diretor de relações institucionais da Firjan, o ex-ministro das cidades Márcio Fortes de Almeida, representando o presidente da Firjan, Luiz Cesio Caetano; e o subsecretário de Energia e Economia do Mar do Estado do Rio, Sergio Chaves Junior, representando o governador Cláudio Castro.
Chaves destacou que o Fórum Comexlog se tornou fundamental para consolidar o papel do Rio de Janeiro no comércio exterior. Ele lembrou que o Estado do Rio produz hoje 89% do petróleo e 66% do gás de todo o país.
Em mensagem lida pelo ex-ministro Márcio Fortes, o presidente da Firjan, Luiz Caetano, lembrou que o Estado do Rio de Janeiro ocupa a segunda posição no comércio exterior brasileiro em exportações e a terceira posição em importações. Segundo a Firjan, entre importações e exportações, o Estado do Rio movimentou 59 bilhões de dólares, o que equivale a 12% de todo o comércio exterior brasileiro.
O secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio, Osmar Lima, parafraseou o ex-ministro Márcio Fortes (“a vida acontece nas cidades”) e, para isso, o Rio de Janeiro precisa cada vez mais de cadeias logísticas eficientes, mecanismos de suprimento, conectando o Porto ao município e ao estado.
O fórum foi aberto pelo presidente do Distrito Empresarial do Porto do Rio, Leandro Ribeiro. O Distrito Empresarial do Porto é uma iniciativa que reúne empresários, empreendedores locais, representantes do poder público e privado, mídia e usuários do Porto do Rio.