Prefeitura manda Rio Pax demolir lanchonete construída em frente a túmulos no Cemitério São João Batista

A instalação de uma filial de uma rede de lanchonetes em meio aos túmulos do Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio, provoca estranhamento nos visitantes que passam no local. Com oito metros de frente, a construção fica quase encostada a uma fileira de jazigos. A obra aparenta estar pronta, mas a autorização só foi solicitada na terça-feira (13).

Na última sexta-feira (9) funcionários trabalhavam na finalização da obra da rede de lanchonetes que em um cartaz anunciava: “Em breve aqui”. Na quinta-feira o diretor da Associação de Moradores de Botafogo, André Decourt, resolveu entrar para verificar do que se tratava aquela construção, que ele observava há cerca de um mês, ao cruzar a entrada do cemitério.

“Comecei a ver pelo portão uma construção de alvenaria. No feriado [Corpus Christi], estava passando à pé e vi que estava praticamente acabada. Eu pensava que fosse alguma estrutura de apoio. Quando chego lá dou de cara com uma lanchonete. Deve ter 8 metros de frente, colada aos túmulos, praticamente pronta. Já estavam colocando freezer, geladeira, achei muito estranho”, conta André Decourt.
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O diretor da Associação de Moradores classifica a construção como absurda e pondera que o cemitério possui valor histórico e obras de arte. “No meio do cemitério, eu nunca vi lanchonete. Eles estão fazendo outra lanchonete da mesma rede na capela, o que é normal. Mas ali no meio é absurdo. É uma estrutura de alvenaria. Dá para ver do portão. Tem laje, azulejo”, descreve.

A Coordenadoria de Cemitérios e Serviços Funerários, vinculada à Secretaria de Conservação da Prefeitura, informou que a construção não foi licenciada e, por isso, é irregular. Na manhã desta quarta-feira (14), a coordenadoria notificou a administração do cemitério para que a demolição ocorra em até 48h. Caso não seja realizada, a pasta fará a demolição na segunda-feira.

André Decourt afirmou que a Associação dos Moradores de Botafogo vai acompanhar se a decisão será respeitada. “Imagina se alguém fizesse uma atrocidade dessa em Buenos Aires, em Paris, que têm cemitérios como atração turística? A concessionária não entende o que gerencia ali. Além do respeito às personalidades e pessoas comuns enterradas, o São João Batista tem valor artístico. É um diamante bruto. Em vez de lapidar, fizeram esse puxadinho”, critica Decourt.

Inaugurado em 1852, o Cemitério São João Batista tem aproximadamente 224 mil metros quadrados. Popularmente conhecido como o “Cemitério das Estrelas”, ali foram sepultadas centenas de personalidades que se destacaram nas áreas da cultura, política, artes, esportes, além de nove ex-presidentes da República. A Necrópole abriga diversas sepulturas adornadas por esculturas, aclamadas como obras da arte tumular.

A Igreja São João Batista, projetada pelo arquiteto Francisco Joaquim Bitencourt da Silva em estilo neoclássico, foi inaugurada por Dom Pedro II em 24 de junho de 1874. O cemitério também guarda o imponente Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, onde estão enterrados mais de 60 imortais, entre eles o fundador da ABL, Machado de Assis.

No São João Batista estão sepultados José de Alencar, Cândido Portinari, Carmem Miranda, Tom Jobim, Santos Dumont, Vinícius de Moraes, Chacrinha, Clara Nunes, Cazuza, nove ex-presidentes da República, Carlos Chagas, Carlos Prestes, entre outros.
Por meio de suas redes sociais, o prefeito Eduardo Paes foi duro nas críticas à localização do negócio. “Se não demolir em 48h, a prefeitura vai lá e faz! E multa pesada. É uma mistura de desrespeito, burrice, mal gosto com falta de civilidade e empatia”, escreveu em sua conta no Twitter.

 

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