Poze reúne multidão de fãs ao deixar presídio em Bangu
O cantor Marlon Brandon Coelho Couto, o MC Poze do Rodo, deixou a cadeia na tarde desta terça-feira (3) em clima de festa, com direito a trio elétrico na porta do Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste. No local, o funkeiro foi cercado por uma multidão de fãs que o esperavam desde o início da manhã.
Ao sair, por volta das 14h50, Poze entrou em um carro e apareceu no teto solar do veículo abraçado com a mulher Vivi Noronha. Ele saudou os fãs e balançou a camisa em comemoração. Amigos músicos, como MC Cabelinho, Borges, Chefin e Oruam, também estiveram presentes. Já em casa, Poze reclamou da atitude da Polícia Militar durante uma confusão momentos antes da saída do artista.
“Sou trabalhador e artistas. Inclusive, eu saindo de lá agora, com a recepção maravilhosa, milhares de fãs… E o tratamento com meus fãs foi spray de pimenta na cara, tiro de borracha na cara… Eu que sou bandido? Fica essa pergunta no ar. Eles derrubando todo mundo de moto, dando tiro de borracha nos outros, agredindo os outros, dando spray de pimenta nos outros, mandando eu tomar no … Por que estão fazendo isso comigo? Por que eu sou preto ou por que sou favelado? Tive minha luta, fui atrás, corri para construir meu castelo. Não é com dinheiro de nada de errado não. É com minha luta, meu show. Parem de me perseguir e atacar meus fãs. Meus filhos pequenos têm trauma de polícia. Se meus filhos veem polícia, eles choram. Não param de vir aqui em casa. Me deixem em paz”, desabafou.
Por volta das 13h50, Mauro Davi Nepumuceno, o Oruam, chegou ao local de moto acompanhado de outros motociclistas. Na sequência, ele subiu e correu em cima dos ônibus que passavam em frente à unidade enquanto era ovacionado pelo público. Cerca de 10 minutos depois, houve uma confusão na entrada da penitenciária envolvendo militares e o grupo que aguardava pelo MC, incluindo Oruam. Houve empurra-empurra entre alguns dos presentes e policiais, que utilizaram cassetetes, balas de borracha, gás de pimenta e bombas de efeito moral. Fãs passaram mal e agentes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) foram acionados.
Em nota, o Rio Ônibus repudiou o comportamento do grupo que subiu nos tetos dos ônibus e informou que as linhas 765 (Mendanha x Deodoro) e 812 (Bangu x Carobinha) estão sofrendo desvios de itinerário. “Os atos criminosos de vandalismo aos ônibus são casos recorrentes, que se repetem a cada verão, ocasionando num prejuízo de mais de R$ 2 milhões por mês em reparos. Mais uma vez, o Sindicato apela às autoridades de segurança pública para que tomem providências efetivas. Aos cidadãos cariocas, pedimos ajuda para preservar um bem que é de todos”, comunicou.
Nas redes sociais, Oruam pediu desculpas por ter subido nos coletivos. “Se não querem tumulto em frente ao presídio, então prendam bandidos. MC não é bandido. Nós somos artistas, onde chegamos , geral começa a gritar. Eu não tenho culpa: cheguei lá e todo mundo começou a me gritar. Peço desculpas para todo mundo, não quisemos fazer bagunça, mas chegamos e já virou bagunça. Fui receber meu amigo. Tive a atitude errada de subir em cima do ônibus”, disse em vídeo.
Ainda nesta manhã, fãs do Poze relataram que vieram de longe para prestigiar o artista. Dentre eles, um grupo saiu de Recife. Com caixa de som, música alta, cartazes e blusas personalizadas com a frase: “Mc não é bandido”, o público comemorou a liberdade de Poze, que estava preso desde a última quinta (29) por apologia ao crime e associação criminosa.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) concedeu o habeas corpus ao funkeiro na segunda (2). Na decisão, o desembargador Peterson Barroso Simão, da 1ª Vara Criminal da Região de Jacarepaguá, alegou que a prisão temporária do MC é “excessiva para o prosseguimento das investigações” e que as provas coletadas são suficiente para a continuidade da apuração do caso. O magistrado acrescentou que não há, até o momento, comprovação de Poze tinha “armamento, drogas ou algo ilícito em seu poder”.
O desembargador também destacou que a prisão temporária do artista “não é exatamente a solução almejada pela população” e que é preciso “prender os chefes, aqueles que pegam em armas e negociam drogas”. Ele ainda questiona a ação dos policiais que resultou na prisão do MC, a considerando “desproporcional, com ampla exposição midiática”.
Apesar da soltura, uma série de medidas cautelares deverão ser seguidas por Poze. São elas: comparecer mensalmente em juízo, até o dia 10 de cada mês, para informar e justificar suas atividades; não deixar o Rio; informar telefone para contato imediato caso seja necessário; não ter contato com outros investigados no inquérito ou com pessoas ligadas ao CV; entregar o passaporte.
Músicas fazem apologia ao crime, diz Polícia Civil
De acordo com as investigações, o cantor realiza shows exclusivamente em áreas dominadas pelo CV, com a presença ostensiva de traficantes armados com armas de grosso calibre, como fuzis, garantindo a “segurança” do artista e do evento. Além disso, a investigação identificou que o repertório das músicas entoadas por ele faz clara apologia ao tráfico de drogas, ao uso ilegal de armas de fogo e incita confrontos armados entre facções rivais.
Ainda de acordo com a DRE, esses eventos são estrategicamente utilizados pela facção para aumentar seus lucros com a venda de drogas, revertendo os recursos para a aquisição de mais drogas, armas de fogo e outros equipamentos necessários à prática de crimes.
Em coletiva de imprensa na última semana, o secretário de Estado de Polícia Civil, Felipe Curi, reforçou que as músicas de Poze, são “instrumentos de propaganda para a facção Comando Vermelho”. Na ocasião, o funkeiro alegou estar sofrendo perseguição.
Operação investiga Vivi Noronha
Ainda na manhã desta terça-feira (3), agentes da Polícia Civil cumpriram mandados de busca e apreensão na residência do casal no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, durante operação que investiga Vivi Noronha por lavagem de dinheiro para o Comando Vermelho.
Segundo o apurado, o Comando Vermelho é responsável pela lavagem de mais de R$ 250 milhões. Investigações revelaram ainda que Vivi Noronha e sua empresa figuram como beneficiárias diretas de recursos da facção, recebidos por meio de pessoas interpostas (“laranjas”) com o objetivo de ocultar a origem ilícita do dinheiro. As análises financeiras apontam que valores provenientes do tráfico de drogas e de operadores da lavagem de capitais do CV foram canalizados para contas bancárias ligadas à mulher, que passou a ser um dos focos centrais do inquérito.
A posição dela, segundo os agentes, na estrutura criminosa é simbólica, pois representa o elo entre o tráfico e o universo do consumo digital, “conferindo aparente legitimidade a valores oriundos do crime organizado e ampliando o alcance da narcocultura nas redes sociais.”