Nova Iguaçu é referência no tratamento da tuberculose grave com projeto inédito no Brasil
Nova Iguaçu se tornou referência nacional no combate à tuberculose grave ao implantar, em parceria com o Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF/Fiocruz), o primeiro ambulatório itinerante do país voltado exclusivamente para o tratamento da doença. O serviço funciona duas vezes por mês no Centro de Saúde Vasco Barcelos e oferece atendimento multidisciplinar com médico, enfermeiro, assistente social, nutricionista, farmacêutica e técnica de enfermagem, além da entrega gratuita de medicamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Pacientes que antes precisavam se deslocar até Curicica, na Zona Oeste do Rio, agora recebem acompanhamento completo sem sair da cidade.
“O ambulatório itinerante é um avanço no enfrentamento à tuberculose em suas formas mais graves, quando a bactéria se torna resistente à medicação normalmente utilizada. Essa parceria com o Centro de Referência Professor Hélio Fraga amplia nosso acolhimento e a assistência aos pacientes”, afirma o secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Nobre Cavalcanti.
Um dos maiores desafios do país é garantir a continuidade do tratamento da tuberculose, especialmente nos casos em que o organismo apresenta resistência ao medicamento rifampicina. Nessa fase, a doença é classificada como tuberculose multirresistente, considerada grave. No primeiro semestre de 2025, a rede municipal de saúde registrou 638 atendimentos, com 34 pacientes já curados. No ambulatório itinerante, cerca de 60 pessoas estão em acompanhamento desde janeiro, com apenas três abandonos — uma das menores taxas já registradas. O tratamento pode durar de seis a 18 meses, dependendo da gravidade.
“Antes, os pacientes de Nova Iguaçu precisavam buscar atendimento em nosso hospital, em Curicica. Com a implantação do ambulatório na cidade, conseguimos avaliar mais de perto a adesão, reduzir faltas e oferecer acompanhamento contínuo, com consultas e medicamentos acessíveis”, explica Paulo Victor Viana, pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz.
Além do ambulatório, o município conta com quatro unidades de referência — o próprio Vasco Barcellos, o Hospital Geral de Nova Iguaçu, a Clínica da Família do Ambaí e a de Vila de Cava — além das 58 Unidades Básicas de Saúde (UBS). Para agilizar o diagnóstico, as amostras coletadas são enviadas para análise por motoboys ao Vasco Barcelos, onde passam por Testes Rápidos Moleculares (TRM). Todos os pacientes, com resultado positivo ou em investigação, têm consulta marcada para avaliação detalhada, o que garante a detecção precoce de casos ainda não identificados.
“Há três anos, Nova Iguaçu registrava cerca de 700 casos de tuberculose. Esse número dobrou, chegando a 1.300, o que mostra que estamos diagnosticando mais pessoas e garantindo tratamento eficaz”, explica Lígia Maria Domingos, gerente de Doenças Crônicas da Secretaria Municipal de Saúde. “Quando o resultado é positivo, o paciente já sai com consulta marcada e toda a família também é acompanhada.”
O trabalho integra ainda a rede de assistência social do município. Os pacientes recebem apoio psicológico e social e podem contar com o cartão alimentação de R$ 250 mensais fornecido pelo Governo do Estado.
O estudante Allan Caíque Gonçalves, de 18 anos, é um dos beneficiados. Morador do Ambaí, ele antes percorria 60 quilômetros até Curicica para se tratar. Hoje, faz o acompanhamento a poucos metros de casa. “Foi um choque receber o diagnóstico, mas agora consigo me tratar perto da família e recuperar minha saúde e dignidade. Digo a todos: não tenham vergonha, façam o teste e procurem ajuda”, aconselha.
A tuberculose é uma doença infecciosa transmitida pelo ar. Entre os sintomas estão tosse persistente, febre no fim do dia, suor noturno e emagrecimento. O tratamento é gratuito pelo SUS, dura pelo menos seis meses e deve ser seguido até o fim para garantir a cura.