No ‘clube dos 90 metros’ do lançamento do dardo, Luiz Maurício chega ao Mundial de Atletismo Tóquio 2025 como candidato ao pódio

Em entrevista para o Olympics.com, mineiro de Juiz de Fora falou sobre o momento inédito e surpreendente na carreira. Em agosto passado fez a segunda melhor marca do ano na disciplina, o que faz dele bastante cotado a medalha na capital japonesa.

No esporte é muito comum se ouvir a máxima: “não é só força, é jeito”. Quer seja na cobrança de uma falta no futebol ou no ataque indefensável do vôlei, sem precisão não há resultado. O lançamento do dardo, no atletismo, talvez seja o melhor exemplo disso.

O brasileiro Luiz Maurício é o principal representante do país na disciplina e chega para o Mundial de Atletismo Tóquio 2025 como candidato ao pódio. Isso porque constrói uma temporada sequer imaginada – ou melhor, uma carreira.

“Voltando três anos antes dos Jogos de Paris, eu não pensava que seria atleta Olímpico”, disse Luiz Maurício.

O mineiro de Juiz de Fora vem de um ano sem precedentes. Sem tradição internacional no dardo, depois de quase 100 anos o país voltou a uma inesperada final Olímpica através dele. Em Paris 2024, fez 85,91m na fase classificatória.

Desde então passou a lançar cada vez mais longe e entrou no “clube dos 90 metros” ao ultrapassar a marca (90,68m e 91m) durante o Troféu Brasil 2025, em agosto. Isso lhe daria uma prata na capital francesa, um ano atrás.

“O mais especial, mais que o de 91m foi o de 90,68m, porque foram os primeiros noventa da minha vida”, refletiu Luiz sobre a quebra de índice mais especial que teve na temporada.

Estudioso perspicaz do dardo, ele e o treinador Fernando Barbosa, ficam revendo lançamentos e analisando o que ainda pode ser melhorado. Por estas bandas, são verdadeiros “desbravadores” dos segredos da disciplina.

Tudo em nome da precisão, em busca da perfeição.

Por outro lado, comentários de lendas como Neeraj Chopra (IND), Julius Yego (KEN) e Thomas Röhler (GER) iluminam o quão longe o brasileiro poderá chegar – ou “lançar”, literalmente.

Para quem não imaginava ser atleta Olímpico, Luiz Maurício tem atualmente a segunda melhor marca de 2025, o que faz dele nome forte para Tóquio. Para ele, um cenário bem distinto, inédito e surpreendente para ele.

Misto de sentimentos e sensações que ele dividiu abaixo, em entrevista para o Olympics.com, antes do Mundial.

Dardo não é força, é jeito

A conversa começou com Luiz Maurício explicando o lançamento do dardo. O atleta tem 34 metros para correr, executar cerca de 12 passadas frontais e três laterais, chegar em 30km/h e lançar o instrumento (dardo) no ar. Ele é feito de alumínio ou carbono, tem 2,70m de comprimento e 800g de peso. Durante a trajetória, o de Luiz chega a atingir 109km/h.

Corrida e a força podem estar em dia. “Você pode estar bem condicionado, no seu auge físico, mas você tem que transformar isso tudo em metros. Então, se você não aplicar bem e com precisão, não adianta nada”, detalhou Luiz. “Você tem que transferir a sua força para o implemento”, continuou.

O mineiro conseguiu fazer isso no início da carreira, quando foi convocado para o Mundial de base em 2018 e conquistou a prata no Pan-Americano Sub-20, na Costa Rica, em 2019.

Entretanto, se sentia intrigado. Fazia todos os gestos técnicos correspondentes aos dos melhores do mundo, mas não lançava tão longe quanto eles.

“Eu fazia os mesmos movimentos, mas enquanto eles chegavam a 88, 89 demonstrando facilidade, eu ficava quando muito nos 82… fazendo muita força”, lembrou.

No Mundial de Atletismo Budapeste 2023, Luiz fez parte da delegação brasileira, disputou o dardo e registrou em vídeo tudo o que foi capaz, dos melhores na disciplina. “Quero saber o que está acontecendo e o que precisa ser feito”, disse. Na capital húngara, ficou de fora da final, com 77,70m.

Ele se deu conta que não era força, era jeito. “O ângulo de saída do dardo não era o mesmo”, explicou.

Curiosidade e inquietação que Luiz considera também responsáveis pelo seu crescimento.

“Acho que isso me ajudou muito dessa evolução tão rápida.”

Mudança nos treinos e meta de 2025 cumprida

Com apenas 24 anos de idade na altura dos Jogos, e muito ainda para alcançar, o resultado de Paris 2024 mudou os planos do brasileiro.

“Até 2024 a gente pensava em fazer duas competições-alvo no ano, agora a gente tem que fazer muitas mais e manter uma regularidade de resultados.”

Luiz revela que depois dos Jogos em Paris, os treinos passaram a ser mais voltados à precisão e à velocidade. Tem contato com os dardos em apenas uma sessão do dia, chegando a lançar 100 durante a semana de treinos. A atenção é para os detalhes, como a angulatura da saída do instrumento: “Fico muito de olho na posição da mão e do braço.”

A evolução no dardo levou Luiz Maurício para mais provas internacionais. No Quênia, ao lado de Yego, competiu a tradicional Kip Keino Classic e fez 86,34m, superando a marca de Paris 2024. Semanas depois, lançou 86,62m na Diamond League e, em agosto, ultrapassou os 90m no Troféu Brasil 2025.

“A meta do ano já foi cumprida”, revelou Luiz ao comentar ter passado dos 90m. “Ter a possibilidade de fazer 90 metros e isso se tornar realidade… foi isso que passou na minha cabeça lá [no Troféu Brasil].”

 

Luiz Maurício: “Os 90 metros vieram antes do esperado”

“Agora vai começar a parte mais difícil”, disse. “Se manter nessa casa [dos 90m] é totalmente diferente de tudo o que já vivi.”

“Vai ser uma grande aventura e isso é bom porque tira você da zona de conforto.”

Para ele, este será o grande desafio neste ciclo Olímpico rumo a LA28: longe das lesões e na elite da modalidade.

“Os 90 [metros] vieram antes do esperado”, confessou o mineiro. “Tudo aconteceu muito rápido.”

A condição de candidato ao pódio para o Mundial em Tóquio, inédita na carreira de Luiz, não o assusta: “Chegar assim perto de um Mundial com a segunda melhor marca, é algo muito novo para mim, mas é a consequência do trabalho. Eu trabalho justamente para isso.”

“Venho bem na temporada e quero continuar bem. Estou bem tranquilo, com a cabeça boa, porque sei o que devo fazer, as coisas estão acontecendo e estou querendo competir”, terminou.

Mundial de Atletismo Tóquio 2025: programação do lançamento do dardo

Veja abaixo quando Luiz Maurício (BRA) entrará em ação na capital japonesa.

Horários de Brasília.

17 de setembro, quarta-feira

• 7:10 – Classificatórias do Grupo A;
• 8:45 – Classificatórias do Grupo B – com Luiz Maurício.

18 de setembro, quinta-feira

• 7:23 – Final.

Marcas recentes de Luiz Maurício no lançamento do dardo

• 91,00m – 3 de agosto de 2025 – Troféu Brasil de Atletismo
• 90,68m – 3 de agosto de 2025 – Troféu Brasil de Atletismo;
• 86,62m – 20 de junho de 2025 – Diamond League (Meeting de Paris)
• 86,34m – 31 de maio de 2025 – Kip Keino Classic – Nairóbi (Quênia);
• 80,67m – 8 de agosto de 2024 – Jogos Olímpicos em Paris – Final;
• 85,91m – 6 de agosto de 2024 – Jogos Olímpicos em Paris – Fase classificatória;
• 85,57m – 30 de junho de 2024 – Troféu Brasil de Atletismo 2024
• 77,70m – 25 de agosto de 2023 – Mundial de Atletismo em Budapeste.

A melhor marca de 2025 no lançamento do dardo é de Julian Weber (GER), que fez 91,51m na final da Diamond League, em 28 de agosto, em Zurique (Suíça).