Edmilson Marques de Oliveira também usava unidades de ensino para treinar criminosos para disputas em diversas comunidades da cidade
Investigações identificaram que o traficante Edmilson Marques de Oliveira, conhecido como Cria, morto durante a operação no Complexo da Maré, na Zona Norte, na manhã desta sexta-feira (26), era responsável por planejar invasões do Terceiro Comando Puro (TCP) a comunidades controladas pelo Comando Vermelho. Ele também usava unidades de ensino para treinar criminosos com armas.
O secretário de Estado de Polícia Civil, delegado Felipe Curi, disse, em coletiva realizada na Cidade da Polícia, também na Zona Norte, que traficantes da Maré estavam sendo monitorados há cerca de 60 dias. Nesse tempo, eles se organizaram diversas vezes para invadir o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, e tomar o controle da comunidade.
As buscas pelos criminosos levaram à localização de Edmilson. Segundo Curi, o homem morava próximo a uma creche com o objetivo de dificultar as ações policiais.
“Como estávamos em um monitoramento intenso há cerca de 60 dias, decidimos atuar e conseguimos, após ele ter reagido, neutralizar esse marginal. Quem estava dando todo apoio logístico, deixando o Complexo da Maré a disposição dos integrantes do TCP por trás dessa tentativa de invasão, era o Cria. Na verdade, é um narcoterrorista sanguinário responsável por dezenas de homicídios no interior do próprio Complexo. O Cria tinha uma maior relevância na facção, considerado o homem da guerra, quem planejava as invasões, quem fornecia o armamento e quem dava todas as diretrizes dessa política expansionista do TCP. Ele que estava por trás desses planejamentos”, disse o delegado.
Curi ainda explicou que criminosos começaram a usar unidades de saúde e escolares para se “proteger” das operações, considerando restrições impostas às polícias sobre a atuação próximo a esses locais.
“Isso estimulou que marginais fizessem treinamentos, chefiados por esse criminoso neutralizado, dentro de escolas e Cieps, e que eles fixassem suas moradias próximos a escolas e unidades de saúde. Felizmente, essas restrições acabaram. Hoje, as polícias Civil e Militar podem patrulhar e fazer operações em locais próximos”, explicou o secretário.
“Sanguinário”
O delegado destacou a atuação de Cria na facção. De acordo com o delegado, Edmilson possuía mais de 200 anotações criminais. Ele, inclusive, estava envolvido na morte dos policiais militares Jorge Henrique Galdino Cruz e Rafael Holfgramm Dias, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), ocorridas em junho de 2024. Ambos foram assassinados em uma operação na Maré.
“É um narcoterrorista sanguinário responsável por dezenas de homicídios no interior do próprio Complexo. Ele era um elemento extremamente perigoso, arisco e muito desconfiado. Com certeza, e aqui falo para a população e moradores da Maré, todos sabem que se olhasse para uma pessoa e desconfiasse ele mesmo matava. Era um traficante extremamente sanguinário, assassino e cruel”, comentou Curi.
O traficante era apontado como um dos donos do TCP na Maré, sendo maior na hierarquia do que Thiago da Silva Folly, o TH, morto em maio.
Impactos da operação
Além da morte do Cria, a operação, tratada como ação emergencial pela Polícia Civil, terminou com dois suspeitos presos, fuzil, pistolas e artefatos explosivos apreendidos. Uma granada foi jogada na Linha Amarela, mas não explodiu O Esquadrão Antibombas atuou na ocorrência.
“A equipe nossa do Esquadrão Antibombas teve que impedir o trânsito por questões de segurança. Enquanto faziam o trabalho de retirar a granada do asfalto, eles estavam sendo intensamente atacados. O trabalho que fazemos é de Forças Armadas. Polícia nenhuma do mundo faz o que a polícia do Rio faz”, completou o secretário.
A ação causou o fechamento da Linha Amarela por, ao menos, três vezes. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), quatro unidades de Atenção Primária, entre clínicas da família e centros municipais de saúde, precisaram interromper completamente o funcionamento para a segurança de profissionais e usuários.
Alunos e funcionários de uma escola da região se abaixaram no corredor para se proteger do tiroteio. A Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que as unidades seguiram com atendimento presencial.