Metade dos bairros da cidade terá desfiles de blocos, que devem arrastar cinco milhões de foliões

A alegria vai à forra: depois do silêncio imposto pela pandemia de Covid-19, blocos vão tomar conta das ruas da cidade neste carnaval. Dos 164 bairros cariocas, 86 (52,43%) receberão desfiles. A multidão — são esperados cinco milhões de foliões — poderá começar a seguir os cordões a partir do próximo dia 21, em uma maratona de 37 dias e 445 desfiles. A maior concentração será no Centro, palco de 53 cortejos autorizados, sendo sete megablocos (aqueles que atraem mais de cem mil pessoas).

Um dos gigantes do carnaval de rua, o Bloco da Preta confirmou ontem que vai tomar a Avenida Presidente Antônio Carlos no dia 12 de fevereiro. Esta semana, a cantora que comanda a festa foi diagnosticada com um câncer no intestino, mas a assessoria da artista informou que a programação está mantida. Em 2020, a atração levou 630 mil pessoas ao Centro.

Em segundo lugar no ranking dos confetes vem a Tijuca, com 27 desfiles. O furdunço segue pela Zona Sul, mas com um leve ajuste. Se antes da pandemia a região teve 110 desfiles, este ano será palco de 99 — sendo 18 em Copacabana. Na previsão inicial divulgada pela Riotur, o número seria ainda menor: 94. O objetivo da tesourada é arrefecer os ânimos dos moradores que ficam ilhados nos dias de desfile.

Menos Banda de Ipanema

Para quem esperou o ano inteiro, os cortes provocaram descontentamento. A Banda de Ipanema, uma das mais tradicionais da cidade, não poderá se apresentar no dia 4 de fevereiro, duas semanas antes do carnaval, como faz há 30 anos. A Riotur autorizou apenas três datas — uma das quais para um baile infantil, mas prometeu reavaliar a quarta apresentação. O presidente da banda, Cláudio Pinheiro, diz que o tempo poderá não ser suficiente para os preparativos.

Após o jejum de dois anos, os blocos prometem animação e criatividade. Conhecido por seu viés político, o Barbas diz que terá um cardápio variado para levantar o público, mas já elegeu seu homenageado —ou alvo. O enredo deste ano ganhou o nome “Imbrochável? Perdeu, mané”, em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O samba será escolhido no próximo dia 19, e o bloco desfilará em Botafogo em 18 de fevereiro.

— Desde 1985, quando foi criado, o Barbas segue uma pegada política nos temas que escolhe, aproveitando a irreverência do carnaval. Depois da pandemia, voltar para a rua também simboliza um gesto de segurar a democracia com as mãos e com muito samba no pé — diz Krika Rodrigues, filha do fundador, o jornalista Nelson Rodrigues Filho.

A irreverência também marcará presença no desfile do Bloco de Segunda, outro que sai pelas ruas Botafogo, mas já em ritmo de nostalgia: eles farão em 20 de fevereiro sua última apresentação. A letra do samba que vai embalar o público ainda está em elaboração. Lídia Pena, responsável pela organização, promete uma despedida memorável.

— Os custos estão muito elevados. Esse desfile, por exemplo, será sem carro de som por economia. Será um carnaval raiz, com samba no pé. E com o coração apertado — disse Lídia.

Alegria e otimismo

Outra agremiação tradicional, o Simpatia é Quase Amor, de Ipanema, deve deixar as críticas pesadas de lado nos desfiles de 11 e 19 de fevereiro e reembalar o enredo de 2022, quando o carnaval de rua foi cancelado pela prefeitura. A homenagem ao compositor Aldir Blanc, que morreu de Covid-19 no ano passado, será uma mensagem de otimismo.

— O samba de 2022 em homenagem a Aldir Blanc ficou muito datado. O cenário era outro. Aldir continua sendo o nosso tema, mas vamos voltar a falar de esperança, das mudanças mais positivas, da alegria do carnaval — disse João Pimentel, um dos compositores do bloco.

O esquema do carnaval de rua divulgado pela Riotur ontem não leva em conta a informalidade da festa. No último domingo, 34 blocos que não concordam com as regras da prefeitura saíram pelas ruas do Centro e da Zona Portuária, em uma espécie de abertura informal do carnaval. Entre eles, o tradicional Boi Tolo, que partiu da Praça Quinze, e o Vem Cá, Minha Flor.

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