Mercedes fará primeira temporada sem campeão mundial na F1 2025

Os últimos 14 anos da Mercedes foram conduzidos na Fórmula 1 pela experiência de pilotos com vários títulos mundiais e uma longa trajetória no esporte: primeiro, Michael Schumacher e, depois, Lewis Hamilton. No entanto, com a ida do britânico para a Ferrari, a temporada 2025 será a primeira da octacampeã mundial sem um campeão de referência na garagem.

O histórico, aliás, remonta ao passado mais distante da equipe, que nasceu em 1954 e deixou a F1 ao fim de 1955. Nestes dois anos, a equipe também foi liderada por um campeão, Juan Manuel Fangio. O argentino, na época, chegou no time com um título no currículo e despediu-se de lá como tricampeão.

A mudança no cenário da equipe alemã, acentuada ainda pela chegada de um substituto muito jovem – Andrea Kimi Antonelli, de apenas 18 anos -, se dá em um ano marcante para a octacampeã de construtores. Em 2025, o time completará 15 anos de seu retorno à F1 e 70 do grave acidente nas 24h de Le Mans que motivou sua ausência do automobilismo por cinco décadas, até 2010.

E em uma temporada de marcos para a Mercedes, a responsabilidade de guiar o time cairá sobre George Russell, remanescente após a saída de Hamilton. O britânico de 27 anos tem 128 GPs disputados, três vitórias e 15 pódios, números que se distanciam dos 356 grandes prêmios e 105 vitórias de Hamilton – que estreou na F1 em 2007, enquanto Russell surgiu em 2019.

O inglês será a referência do calouro Andrea Kimi Antonelli, cujo início de carreira é comparado até com o de Max Verstappen. O italiano de 18 anos foi campeão da Formula Regional Europeia (FRECA) como calouro, pulou a Fórmula 3 e seguiu para a Fórmula 2, sendo sexto no campeonato.

– Isso é virar uma página. É um novo capítulo. E não sinto de repente nenhuma responsabilidade adicional – garantiu Russell, em trecho de uma entrevista à “BBC F1”.

George Russell e Kimi Antonelli em evento de lançamento da F1 2025 — Foto: Mark Sutton - Formula 1/Formula 1 via Getty Images
George Russell e Kimi Antonelli em evento de lançamento da F1 2025

A aposta da Mercedes no adolescente italiano é grande: a equipe havia oferecido um último contrato mais curto para Hamilton justamente pensando em ter uma vaga disponível para promover Antonelli. Ele foi escolhido nos dias que sucederam o anúncio de Hamilton ainda em 2024; fez testes privados com os carros da equipe e, na pré-temporada deste ano, foi o quinto mais rápido do segundo dia.

– Não me sinto como seu substituto (de Hamilton). Sinto-me apenas como um piloto da Mercedes na F1. Mas é uma grande oportunidade, sou muito grato pela confiança e a oportunidade que a Mercedes me deu. Também é uma grande responsabilidade, porque estou correndo por uma equipe de ponta, e, portanto, eles também têm expectativas. Vou tentar tirar o melhor proveito disso. O que eu não quero fazer é cometer um grande erro, porque você dá alguns passos para trás e a recuperação leva mais tempo – disse Antonelli.

Russell ainda está sob evolução na F1, mas conta com a experiência de três anos ao lado de Hamilton, dois dos quais fez frente ao heptacampeão. A parceria foi iniciada em 2022, ano em que o jovem conquistou a única vitória da Mercedes – no GP de São Paulo.

Em 2023, Lewis terminou o Mundial em terceiro à frente do colega, mas acabou atrás dele em 2024 (sétimo, contra o sexto lugar de Russell). George ainda se tornou o único companheiro do veterano, na história, a vencê-lo em classificações: largou à frente dele em 19 de 24 sessões com média de 0s1 de vantagem.

Em 2025, a Mercedes terá uma última chance de voltar ao topo da F1 antes do regulamento dos carros e dos motores mudar. Seria seu primeiro título sem um campeão a bordo, feito inédito desde a estreia em 1954 – na época o time contava com o argentino Fangio, então campeão de 1951 pela Alfa Romeo. Fangio venceu quatro das últimas seis etapas do ano para assegurar seu bicampeonato com folga.

A escuderia foi ainda mais dominante em 1955, vencendo cinco das sete provas com Fangio e o recém-contratado Stirling Moss. Mas a conquista de mais um título dividiu espaço com uma tragédia, ocorrida há 70 anos, que interrompeu a trajetória da equipe no esporte a motor.

Fangio conduz a Mercedes W196 no circuito de Bremgarten, em 1954 — Foto: Getty Images
Fangio conduz a Mercedes W196 no circuito de Bremgarten, em 1954

Na edição de 1955 das 24 Horas de Le Mans, o piloto francês Pierre Levegh foi atingido pelo britânico Lance Macklin, e o carro decolou. A mais de 200 quilômetros por hora, o bólido passou de uma barreira e atingiu por duas vezes as áreas de espectadores. Na segunda, o carro se desintegrou, e os destroços atingiram os fãs. Levegh morreu na hora, e 83 torcedores também faleceram.

O episódio é tido como um dos maiores desastres da história do automobilismo, e o trauma foi tão grande que quatro corridas da F1 foram canceladas naquele ano: os GPs da França, Alemanha, Espanha e Suíça. No fim da temporada, a Mercedes deixou todas as categorias no automobilismo, incluindo a Fórmula 1.

A equipe só voltou ao esporte na década de 1990 de forma parcial com o fornecimento de motores na IndyCar e, a partir de 1994, para a F1. Na elite do automobilismo europeu, iniciou uma parceria longeva com a McLaren que perdura até hoje e se estendeu para outras equipes: Brawn, Force India (atual Aston Martin), Williams, Manor e Lotus (hoje Alpine).

Depois de 55 anos do acidente em Le Mans, em 2010, a Mercedes retornou de vez à F1, mas como equipe, assumindo a vaga que era da campeã do ano anterior: Brawn GP. E para o ressurgimento, que em 2025 completa 15 anos, apostou em uma lenda: o heptacampeão Michael Schumacher, aposentado desde 2006. Ao lado dele, Nico Rosberg, ex-Williams.

A dupla competiu por três anos e venceu com Rosberg o GP da China de 2012. Com a saída definitiva de Schumacher do automobilismo no fim daquele ano ano, a Mercedes trouxe outro campeão: Lewis Hamilton, vencedor em 2008 com a McLaren.

A parceria foi vista por muitos como uma aposta, já que o britânico passava por altos e baixos na F1, e a Mercedes ainda não era uma equipe de ponta. Mas em 11 anos, rendeu um vice-campeonato de construtores, oito títulos de 2014 a 2021, e seis campeonatos de pilotos para o britânico, que comandou 84 das 129 vitórias que o time acumula na F1.

Hamilton seguiu no time entre as saídas e chegadas de Rosberg, Valtteri Bottas, e Russell. No entanto, o desejo de buscar novos ares motivou o britânico a migrar para a Ferrari em 2025. Pesou, ainda, a falta de perspectiva na Mercedes: a equipe passou a ser coadjuvante no campeonato dominado pela RBR a partir de 2022.

A equipe também não demonstrou planos a longo prazo para o veterano, que completou 40 anos em janeiro: em 2023, renovou seu contrato por apenas um ano, abrindo brecha para o rompimento do vínculo e o acordo com a Ferrari em 2024.

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