‘Mataram ele dormindo’, denuncia familiar de jovem morto pela PM em Santos
Lailton Fernandes da Cruz de Oliveira, de 22 anos, estava dormindo na casa de um amigo no Jabaquara, em Santos, na manhã da última terça-feira, quando foi morto por policiais, segundo relatos de familiares. Na ação, até o cachorro morreu.
Um tio do jovem, que não quis se identificar, foi até o Instituto Médico Legal (IML) da Praia Grande nesta quarta-feira em busca do corpo. Ele diz que o sobrinho não tinha passagens pela polícia e trabalhava como ajudante de pedreiro.
— Mataram ele dormindo. Os policiais entraram na casa do amigo dele, tentaram atirar no amigo, mas ele correu e a bala pegou em outro policial. O moleque era do bem, gostava de jogar uma bola, um joguinho de aposta. Era ajudante de pedreiro, fazia um bico aqui, outro ali. O cachorro tava em cima, ele atirou no cachorro, depois atirou no amigo, o amigo fugiu, e ele atirou no Lailton. Mas nem arma tinha, ele não tinha nada.
Segundo o familiar, os policiais “já chegaram matando, não perguntaram nada”. Os agentes ficaram no local o dia inteiro, até que a perícia chegasse e o corpo fosse retirado às 19h.
— Eu cheguei lá na casa, primeiro os policiais falaram que não era meu sobrinho, insistiram que não era, eu mostrei uma foto. Mas depois eu mandei um advogado na delegacia e viram que era.
O boletim de ocorrência foi registrado no 2º DP de Santos. A SSP disse, em nota, que os fatos estão sendo apurados e que “as forças de segurança atuam em absoluta observância à legislação vigente”. A pasta ainda destacou que, em cinco dias de operação, a polícia prendeu 58 suspeitos e apreendeu quase 400 kg de drogas e 18 armas, entre pistolas e fuzis. “É importante ressaltar que mesmo com o reforço no patrulhamento ostensivo, somente nesta terça-feira (1), dois PMs foram atacados a tiros, o que comprova a necessidade de manter em curso a Operação Escudo na região, para sufocar o tráfico de drogas e desarticular o crime organizado”, acrescentou.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo já contabiliza 16 mortes decorrentes da Operação Escudo, realizada pelas polícias Civil e Militar na Baixada Santista, desde a última sexta-feira (28). A ação é uma resposta à morte do soldado da Rota da PM Patrick Bastos Reis, de 30 anos, baleado na quinta-feira por um traficante durante incursão à comunidade Vila Júlia. O número de baixas já é um dos maiores registrados no estado. Uma a menos, por exemplo, do que a chacina de Osasco, em 2015.
De acordo com a polícia, todas as mortes ocorreram em confronto. Em meio a denúncias e relatos à Ouvidoria da polícia paulista de truculência, abuso de autoridade, torturas e até morte de inocentes, a SSP afirma que determinou que todos os casos sejam investigados “minuciosamente” pela Divisão Especializada de Investigações Criminais (DEIC) de Santos e pela Polícia Militar por meio de Inquérito Policial Militar (IPM).
As imagens das câmeras corporais serão anexadas aos inquéritos em curso e, segundo a pasta, estão disponíveis para consulta irrestrita pelo Ministério Público, Poder Judiciário e a Corregedoria da PM.