Marinha do Brasil recebe Força Naval da China e deve se queixar de pesca ilegal
Autoridades da Marinha do Brasil pretendem aproveitar a visita de uma comitiva de alto nível da Força Naval da China a partir desta quinta-feira (15) para fazer apelos contra a pesca ilegal na costa brasileira e discutir o avanço da potência sobre o Atlântico Sul.
Chineses são acusados de impulsionar pesca ilegal no oceano que separa a América do Sul e a África, utilizando embarcações que saem especialmente da costa africana sem rastreio.
Segundo almirantes ouvidos pela Folha, o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, pretende demonstrar a preocupação que o Brasil tem com os crimes cometidos no Atlântico Sul e deverá pedir apoio das autoridades chinesas para combater os ilícitos.
Além da pauta sobre a pesca ilegal, a Marinha brasileira irá apresentar à chinesa um plano de estudo sobre a presença de países na região marítima. O objetivo, segundo relatos, é avaliar os impactos das potências navais no Atlântico Sul e discutir estratégias de segurança marítima e cooperação regional.
No início do mês, representantes das três Forças Armadas brasileiras participaram de um simpósio na China com altos oficiais regionais. O evento tinha como objetivo “aumentar os intercâmbios e a cooperação militar bilateral e multilateral e o conhecimento mútuo entre a China e os países da América Latina e Caribe, com a finalidade de construir uma comunidade com destino comum entre esses países”, segundo o comunicado interno do Ministério da Defesa ao qual a Folha teve acesso.
A comitiva chinesa será comandada pelo secretário da Marinha, Yuan Huazhi. Integram ainda o grupo o vice-chefe do Estado-Maior da Marinha chinesa, contra-almirante Li Pengcheng, e o adido de Defesa da China no Brasil, general de brigada Zhang Linhong, além de outros cinco oficiais. Os chineses serão recebidos em Brasília pelo comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, e pelo chefe do Estado-Maior da Força, almirante José Augusto Cunha. O grupo ainda visitará a Escola de Guerra Naval, no Rio de Janeiro, e encerrará o périplo em Manaus (AM), onde conhecerá o Comando do 9º Distrito Naval.
Segundo a Marinha, trata-se de uma “visita de cortesia” das autoridades da Força chinesa, sem expectativa de acordos bilaterais. “A vinda da comitiva é resultado de iniciativa para a retomada de visitas a nível da Defesa, iniciada em 2019. Ocorre agora por ter sido adiada durante a pandemia“, diz a nota.
A Folha apurou, no entanto, que o encontro foi viabilizado após pedidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A confirmação da agenda foi feita em data próxima à visita, e a organização foi mais rápida que o usual, o que denota uma aproximação com Pequim —em abril, Lula visitou o líder chinês, Xi Jinping.
O encontro das Marinhas também ocorre em meio à insatisfação de alas do Palácio do Planalto e do Itamaraty contra a participação dos militares na diplomacia brasileira. Em audiência no Senado em maio, Olsen também fez alertas para a presença da China e de outros países no Atlântico Sul e disse que “algumas instâncias decisórias” do Brasil “parecem ignorar essas questões, que são muito atuais”.
A suposta pesca ilegal cometida por chineses também tem sido alvo de denúncias dos Estados Unidos, em mais um capítulo da disputa entre as duas superpotências. A comitiva chinesa chega ao Brasil três semanas após a general americana Laura Richardson, do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, participar de uma série de reuniões com autoridades brasileiras —entre as quais, o ministro da Defesa, José Múcio, e os comandantes Olsen, Tomás Paiva (Exército) e Marcelo Damasceno (Aeronáutica).
Richardson fez uma rodada de visitas aos países da América Latina meses após discursar sobre o que considera a “ameaça chinesa” sobre a região, com o aumento da cooperação e comércio entre os países.