Famílias de militares impedidos de deixar quartel após furto de 21 armas em SP dizem que ‘aquartelados’ estão ‘detidos’
Familiares dos militares que estão impedidos de deixar o quartel de Barueri, na Grande São Paulo, há mais de uma semana, desde que foi detectado o furto de 21 armas, disseram que os “aquartelados” estão na verdade “detidos” e não “retidos”, como afirma o Exército.
Oficialmente, o Exército continua negando que algum militar tenha sido detido ou preso pelo desaparecimento das 13 metralhadoras calibre .50 e das oito metralhadoras calibre 7,62 do Arsenal de Guerra da cidade. O sumiço foi verificado em 10 de outubro, durante uma vistoria para contagem das armas.
Fontes da reportagem que participam da investigação disseram que uma das hipóteses é o envolvimento de militares no furto do armamento. E de que ele tenha sido feito gradativamente, desde setembro, usando caminhões do próprio Exército para retirar as metralhadoras. Até o momento não há registro de que a base tenha sido invadida por criminosos externos.
160 ‘aquartelados’
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Cerca de 480 militares foram ‘aquartelados’ depois que 21 metralhadoras foram furtadas do Exército em Barueri, Grande São Paulo — Foto: Reprodução/TV Globo e Exército brasileiro
Dos cerca de 480 militares que inicialmente ficaram “aquartelados”, 320 deles foram “soltos” nesta terça-feira (17) por decisão de seus superiores. O Exército não deu detalhes dos motivos que levaram à liberação deles, mas alegou que a medida “não é mais necessária”. Apesar disso, outros 160, aproximadamente, continuavam sem poder sair nesta quarta (18).
“O Exército argumenta que eles estão de prontidão, mas isso não é verdade. Eles estão detidos, impossibilitados de sair para a rua”, disse o pai de um dos militares que continuava “aquartelado” e aceitou falar com a reportagem sem se identificar.
A investigação é feita exclusivamente pelo Comando Militar do Sudeste (CMSE), na capital paulista, e o Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), com sede em Brasília.
“Um recruta que sai com uma mochilinha na mão, a pé, não tem condições de carregar uma .50”, disse um homem com parente impedido de deixar o quartel.
Os familiares dos “aquartelados” também estão com dificuldades para manter contato com eles. Os celulares dos militares foram confiscados, e os parentes só conseguem falar com eles pessoalmente durante 10 minutos por dia, na porta do Arsenal de Guerra.
O que se sabe sobre o roubo de armas do exército em Barueri, SP
O “aquartelamento” atinge soldados, cabos, sargentos, tenentes, capitães, majores e até coronéis. Apesar disso, parentes deles acusam o Exército de permitir “regalias” para os “aquartelados” de patente mais alta.
“Eles tiraram celulares só dos cabos e soldados”, disse a esposa de um militar em áudio enviado à reportagem, que também não quis se identificar. “Eles estão estressados e qualquer coisa é motivo de briga entre eles.”
Segundo o Exército, foram disponibilizados cinco telefones fixos para os parentes falarem com os militares “retidos”. O órgão alega que o “aquartelamento” é uma medida necessária para que eventualmente eles sejam ouvidos na investigação que tenta localizar e recuperar as armas.
“Vim visitar o meu filho, graças a Deus consegui, falei com ele, ele está bem”, afirmou a cozinheira Julieta Silva Pereira, mãe de um dos militares “retidos”.
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Famílias têm ido diariamente à frente do quartel buscar informações sobre os militares ‘aquartelados’ em Barueri — Foto: Lucas Jozino/TV Globo
Parentes também contaram que os “aquartelados” lhes disseram que os investigadores estão apurando se o furto do arsenal começou no feriado do último dia 7 de setembro. Em áudios que circulam nas redes sociais, eles contam que as câmeras de segurança teriam sido desligadas para facilitar a retirada das metralhadoras do paiol de armas.
“Na hora, eles desligaram o interruptor. Eles desligaram a câmera. Aí eles vão manter o pessoal que estava no dia 7 de setembro e o pessoal que mexe na eletricidade”, falou uma mulher casada com um militar do Arsenal de Guerra.
Polícias farão buscas por armas do Exército
A reportagem apurou que pelo menos 50 militares já foram ouvidos pelo Exército. A corporação alega que as armas furtadas eram “inservíveis”, não estariam funcionando e passariam por manutenção.
E apesar de o CMSE e o DCT não terem acionado as forças de segurança do Estado para ajudar nas investigações, a Polícia Civil e a Polícia Militar (PM) informaram que estão tentando procurar o armamento do lado de fora do quartel. Para isso, analisam câmeras de monitoramento de Barueri e realizam operações na região.
Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública (SSP), chegou a dizer que o furto pode ter “consequências catastróficas” se as metralhadoras forem usadas pelo crime organizado.
As armas de guerra que sumiram do Exército em Barueri podem derrubar aeronaves, perfurar veículos blindados, disparam 600 tiros por minuto, em média, e são capazes de atingir alvos entre 2,5 quilômetros e 6 quilômetros de distância.
Até a última atualização desta reportagem, nenhum suspeito havia sido identificado ou preso. E nenhuma das metralhadoras havia sido recuperada. Ainda não há confirmação se criminosos entraram na base ou se alguma câmera gravou a retirada das armas do local.
Veja nas ilustrações abaixo como cada uma delas funciona:
21 armas furtadas de quartel em Barueri — Foto: g1-Design