Artista veterana morreu aos 99 anos e teve papéis marcantes em programas de humor e novelas
Familiares e amigos prestaram as últimas homenagens à Berta Loran, no velório da atriz, nesta terça-feira (30). A artista estava internada no Hospital Copa D’Or e morreu aos 99 anos, na noite do último domingo (28). A despedida aconteceu na Sociedade Religiosa Israelita Chevra Kadisha, na Praça da Bandeira, Zona Norte, e o corpo da veterana será sepultado a partir das 11h, no Cemitério Israelita de Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
No velório, alguns fãs levaram cartazes com homenagens à atriz. “Vá com Deus, Berta Loran”, dizia um deles. Sobrinha de Berta, Clarita Paskin conta que tinha uma relação de mãe e filha com a tia. Ela diz que. além de uma grande artista, com mais de 70 anos de carreira, a artista era uma mulher batalhadora e que amava a família e a vida.
“Ela era única, muito guerreira, muito batalhadora, chegou aqui com 9 anos da Polônia. Ela lutou até o último dia, porque ela amava a vida, amava a família, ela era muito dedicada à família, à mim, a gente tinha uma relação maravilhosa. Acho que ela vai fazer muita falta para a televisão brasileira, para a história da comédia. Ela tem um legado e espero que ela não seja jamais esquecida”, declarou a sobrinha, que também destacou que Berta era uma artista disciplinada e dedicada à profissão.
Conhecida por personagens como a portuguesa Manuela D’Além Mar, da “Escolinha do Professor Raimundo”, e a empregada Frosina, da novela “Amor com Amor Se Paga” (1984), Berta passou os últimos anos longe dos holofotes. O último trabalho da artista em novelas foi uma participação especial em “A Dona do Pedaço” (2019), como Dinorá. Em 2016, o livro Berta Loran: 90 anos de humor (Litteris), escrito oor João Luiz Azevedo, foi lançado em homenagem a ela.
Terezinha Eliza, que dividiu as telas com Berta em nos “Trapalhões”, a “Festa é Nossa”, “Balança Mas Não Cai” e na TV Tupi, descreveu a amizade de mais de 60 anos como uma verdadeira irmandade. “Passamos uma vida juntas, viajamos o mundo todo, vimos todos os teatros do mundo. Eu sei da paixão que ela tinha pela profissão, pelos amigos, pelos companheiros, pela família. Uma das melhores pessoas que eu conheci na minha vida, minha ficha ainda não caiu, para mim ela ainda está viva”, desabafou a atriz, que ressaltou o legado de Loran na dramaturgia.
“Uma mulher culta, que fez todo tipo de teatro, trabalhou na Argentina, em vários países, fora a comediante que ela era. Ela fez drama, também, mas ela era essencialmente comediante. E uma ‘showoman’, porque foi uma das primeiras a fazer shows sozinha. Ela deixa para a gente é esse legado de amor pela arte, antes de mais nada, porque antes de tudo na vida dela, era a arte. Ela acordava e dormia pensando no que podia fazer de melhor para nossa cultura. Ela deixa uma lição de arte e de amor, porque a nossa arte tem que ser com amor”.
Berta Loran casou duas vezes, sendo o primeiro maridoo ator Saul Handfuss, 31 anos mais velho, período em que enfrentou dificuldades financeiras e viveu experiências dolorosas, incluindo dois abortos que a impediram de ter filhos no futuro. Já o segundo casamento foi com Júlio Jacoba, com quem viveu durante 22 anos.
Da Polônia para as telas brasileiras
Nascida em Varsóvia, capital da Polônia, no dia 23 de março de 1926, ela recebeu o nome de Basza Ajs. Anos depois, ao desembarcar no Brasil com apenas nove anos, decidiu adotar um novo nome: Berta. Seu pai, José Ajs, era alfaiate, mas também se dedicava ao teatro, atuando em peças voltadas à comunidade judaica no país. Acompanhando essas apresentações, a atriz descobriu sua própria paixão pelos palcos. Na Globo, Berta estreou em 1966 e se destacou durante décadas em programas de humor na emissora.
No mesmo ano, integrou o elenco de “Riso Sinal Aberto”, ao lado de nomes como Grande Otelo, Nádia Maria e Amândio Silva Filho, sob a produção e direção de Max Nunes e Haroldo Barbosa. Poucos anos depois, entre 1968 e 1971, passou a dividir o palco com Agildo Ribeiro, Paulo Gracindo e Jô Soares no humorístico “Balança Mas Não Cai”. Ela também fez parte de “Faça Humor, Não Faça Guerra”, atração que marcou época ao transformar a forma de se fazer humor na televisão brasileira e que contava com nomes como Jô Soares e Renato Corte Real.
Em 1974, ela participou de “Satiricom”, programa voltado a parodiar sucessos do rádio, da TV e do cinema, onde se destacou especialmente pelas versões bem-humoradas de comerciais televisivos. A parceria com Jô Soares seguiu em “Planeta dos Homens” (1976) e em “Viva o Gordo” (1981). Um dos papéis de maior destaque foi em “Escolinha do Professor Raimundo” (1990), onde interpretou a personagem portuguesa Manuela D’Além Mar.
Em 2004, voltou a brilhar no humorístico “Zorra Total”, onde interpretava personagens como a portuguesa Maria, esposa de Manoel (Agildo Ribeiro), casal que fazia parte do núcleo do Zorra Totawer Residencial. Mais tarde, em 2012, apareceu em “A Grande Família” no papel de Dona Vilma Mendonça. Seguiu sua trajetória na comédia vivendo Adelaide Lacerda em “Vai Que Cola” (2016) e, em 2018, fez uma participação especial como ela mesma no programa “Tá No Ar: a TV na TV”. Apesar de estar longe da TV, a veterana mantinha um contrato vitalício com a TV Globo.
Novelas
A estreia de Berta Loran na teledramaturgia aconteceu em 1984, na novela “Amor com Amor se Paga”, de Ivani Ribeiro. Ela interpretou a empregada Frosina, que acabou se casando com o patrão, o avarento Nono Corrêa (Ary Fontoura). Dois anos depois, em 1986, fez uma participação especial em “Cambalacho”, de Silvio de Abreu, ao lado de Milton Carneiro. Juntos, viveram o casal Souza.
Em 1999, integrou o elenco da minissérie “Chiquinha Gonzaga”, escrita por Lauro César Muniz. Em 2010, esteve em “Cama de Gato”, de Duca Rachid e Thelma Guedes, como a blogueira da terceira idade Loló, que vivia um romance com Waldemar (Luis Gustavo). No mesmo ano, participou da segunda versão de “Ti-Ti-Ti”, na pele de Dona Soledad, e, em 2011, apareceu em “Cordel Encantado”, interpretando a Rainha-mãe Efigênia.
Loram ainda fez uma participação em “A Dona do Pedaço”, como Dinorá Macondo, mãe do meio-irmão de Eusébio (Marco Nanini) em 2019. Além das novelas, Berta também esteve no “Fantástico”. Em outubro de 2015, estreou no quadro “O Grande Plano”, ao lado de Vilma Nascimento e Elke Maravilha. As três artistas usavam suas histórias e vivências para aconselhar jovens que enfrentavam diferentes tipos de problemas.