4 de setembro de 2025
NotíciasRio-EstadoRio-GovernoSaúde

Encontro abre campanha do “Setembro Verde” por doação de órgãos para transplantes

Evento reúne especialistas para debater estratégias e sensibilizar a população sobre a importância da autorização familiar nos transplantes

O Estado do Rio promoveu nesta quarta-feira (03/09) o Encontro da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante 2025 (EnCIHDOTT/RJ), dando início à campanha do “Setembro Verde”. No evento, que ocorreu no campus da UERJ, especialistas analisaram experiências de outros estados e debateram os desafios da Central Estadual de Transplantes do Rio (CET-RJ) para incentivar a doação para transplantes. Também foram discutidas formas de acolher e sensibilizar principalmente familiares de potenciais doadores sobre a importância da autorização no momento tão difícil de perda de um ente querido. O Dia Nacional de Doação de Órgãos é celebrado em 27 de setembro.

“Temos o desafio de atender a uma demanda de transplantes maior que a oferta de órgãos. Muitos aceitam ser receptores, mas ainda enfrentamos resistências na autorização familiar. Entendemos que a decisão precisa ser tomada em um momento difícil. Por isso, aproveitamos o “Setembro Verde” para intensificar ações de sensibilização sobre a necessidade de aumentarmos o número de doações para reduzir a fila de quem precisa. O acolhimento é importante. Doar órgãos é exemplo de amor ao próximo”, afirmou Caio Souza, subsecretário de Atenção à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ).

A coordenadora-geral do Sistema Nacional de Transplantes, Patrícia Freire, destacou avanços na gestão da rede. Segundo ela, a distância entre doações e captações vem diminuindo no Rio de Janeiro. Entre janeiro e julho, foram realizados 651 transplantes no estado — 297 de órgãos sólidos e 354 de córneas — a partir de 775 notificações de potenciais doadores. A taxa de autorização familiar atingiu 69%, a segunda melhor do país, resultando em 241 doadores efetivos em 2025.

“A evolução nos últimos anos é fruto do trabalho das Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT), que acolhem as famílias em momentos muito difíceis”, afirmou.

Patrícia também anunciou o Programa Nacional de Qualidade na Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Prodot), que será lançado em 26 de setembro, véspera do Dia Nacional de Doação de Órgãos. A iniciativa busca qualificar a gestão dos hospitais da rede de doação e fortalecer o setor público.

O diretor-executivo da Fundação Saúde, Paulo Ricardo Lopes da Costa, destacou a importância da doação para o transplante de órgãos e a busca por doadores. A diretora-técnica da Fundação Saúde, Renata Maia, ressaltou o esforço contínuo das CIHDOTT por um serviço de excelência. O diretor do RJ Transplantes, Alexandre Cauduro, chamou a atenção para a importância do trabalho de acolhimento das famílias ao serem abordadas para dar autorização em momento de tamanha dor.

O pró-reitor de Saúde da Uerj, Ronaldo Damião, enfatizou também o trabalho das equipes para identificar possíveis doadores e lembrou que o Brasil é referência mundial em transplantes de órgãos. Em 2024, houve o maior número de transplantes de órgãos e tecidos da história com mais de 30 mil procedimentos. O recorde anterior era de 2023, com 28.700 transplantes.

O médico José Camargo, diretor de cirurgia torácica no Pavilhão Pereira Filho da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, falou sobre os desafios emocionais do transplante de órgãos, mencionando os conflitos vividos pelas famílias e a importância do acolhimento para evitar “remorso tardio”. Ele compartilhou histórias de pacientes e familiares de sua trajetória e lembrou que realizou o primeiro transplante de pulmão da América Latina, em 1989, além de ter sido responsável, há 20 anos, pelo primeiro transplante de pulmão com doadores vivos fora dos Estados Unidos.

Gislaine Duarte da CET do Paraná e Francisco Monteiro da CET de São Paulo expuseram as experiências e as dinâmicas das centrais de cada estado. São Paulo concentra 70% dos transplantes feitos em todo o território nacional. Já o Paraná está em primeiro lugar no ranking de doações.

Edil Vidal, do Banco de Olhos de Sorocaba (BOS), palestrou sobre a doação de córnea. Ele contou a história da unidade inaugurada em 1979 e hoje é a maior referência em captação e transplantes de córneas em toda a América Latina.

“Começamos lá atrás com 20 doações por mês e, em 2023, batemos o recorde com 15 mil captações. O BOS realiza cerca de 300 transplantes de córnea por mês e é a principal referência de porta aberta pelo Sistema Único de Saúde. Além de ser um centro de formação em especialização médica em todo o país”, ressaltou.

A qualidade da doação, o armazenamento adequado e o fornecimento das córneas foram temas enfatizados por  Victor Raisman, do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO). Para ele, todo o processo precisa ser checado para que haja êxito na cirurgia.

“É um caminho complexo que envolve várias etapas de segurança e qualidade, com verificações antes, depois e durante. Temos que avaliar se o tecido está com inflamação, infecção ou se há um corpo estranho antes de liberá-lo. Há também todo o cuidado com o armazenamento na cadeia de frios para que o material seja usado com sucesso”, explicou o representante do INTO.

O projeto “Olhos do Rio” foi o tema destacado por Sandro Montezano do CET-RJ no EnCIHDOTT/RJ. Segundo ele, a iniciativa busca fortalecer a captação de córnea em todo o estado do Rio de Janeiro e atuaria em parceria com oInstituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia.

“Nosso propósito é promover a acessibilidade ao transplante e reduzir o tempo de espera pelo procedimento. O projeto corre em parceria com o INTO, o que garante a integração entre as equipes, padronização de protocolos e otimização de recursos. É uma iniciativa que possibilita a recuperação da visão a centenas de pessoas”, frisou Sandro Montezano.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *