1 de setembro de 2025
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Diminuição da população ameaça a economia fluminense

Com envelhecimento da população e migração para outros estados, Rio perde o bônus demográfico e precisa de alternativas para sustentar sua economia.

O Brasil está envelhecendo. Projeções divulgadas na última quinta-feira (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que a população brasileira começará a encolher em 2042. Mas, no caso do estado do Rio de Janeiro, esta linha será ultrapassada em muito menos tempo: em 2028. Ou seja, daqui a três anos, a população fluminense começará a encolher, seja por baixa taxa de fecundidade ou por migrações para outros estados.
A forte desaceleração do crescimento populacional tem implicações no chamado bônus demográfico. Este fenômeno ocorre quando a proporção de pessoas em idade ativa (geralmente entre 16 a 64 anos) é maior do que a de dependentes (crianças e idosos). Quando um estado vive o bônus demográfico, significa que há muita gente produzindo e relativamente menos gente dependendo dessa produção — um cenário favorável ao crescimento econômico.
Quando a população de dependentes se torna maior do que a de adultos em idade de trabalhar, ocorre o contrário. Mais pessoas precisam ser sustentadas por menos trabalhadores. O estado se vê obrigado e investir mais em saúde e políticas sociais, além de aumentar os gastos com aposentadorias e pensões. Outro efeito da redução da força de trabalho é o crescimento (ou redução) do Produto Interno Bruto (PIB), a menos que haja avanços significativos em produtividade e inovação.
Num estado já estrangulado por dívidas com a União, prestes a aderir ao Programa de Pleno Pagamento das Dívidas com os Estados (Propag), esta notícia preocupa. Ainda mais quando se nota que a maioria dos estados do Brasil ainda vai usufruir do bônus demográfico por muitos anos. Na Região Sudeste, que já vem atraindo milhares de cidadãos fluminenses pelas oportunidades e qualidade de vida que oferece, Minas Gerais só verá sua população diminuir em 2029. Em São Paulo, a partir de 2037. No Espírito Santo, em 2047. O filme que se projeta é um Rio economicamente mais frágil em detrimento de seus principais vizinhos.
Envelhecer faz parte da vida — e não é justo culpar cidadãos pelo simples fato de entrarem na terceira idade. Ao se aposentar, depois de cumprir sua pesada jornada de trabalho, eles merecem o justo descanso, assistência em saúde, lazer e muito mais. Com o aumento da expectativa de vida, comemoramos o fato de este grupo estar crescendo. A reflexão a fazer é outra: o que o Governo do Estado, União e municípios precisam fazer para que o Rio seja sustentável do ponto de vista econômico e social.
Há muitos caminhos possíveis. Maior exportador de petróleo do Brasil, o Rio tem uma cadeia produtiva de óleo & gás ainda desconexa. Exporta material bruto e importa derivados a um custo muito maior. A alternativa seria investir mais na indústria de transformação – a exemplo do Complexo de Energia Boaventura (antigo Comperj), que precisa ser concluído o mais rápido possível em Itaboraí.
O Rio de Janeiro também tem uma vocação natural para a saúde, por contar com universidades e centros de pesquisa de alto gabarito. O estado deveria usar essa vantagem para fortalecer um complexo industrial neste segmento. Não custa lembrar que hoje o Brasil importa 90% dos produtos farmacêuticos que consome. Ao investir no setor de saúde, o território fluminense vai gerar empregos qualificados e ganhar divisas.
Outra solução está no turismo. Das dez cidades mais procuradas pelos turistas no Brasil, duas ficam aqui: Rio de Janeiro e Armação de Búzios. Passou da hora de os governos e a iniciativa privada trabalharem juntos por uma política mais agressiva de atração de turistas. Por mais que outros estados divulguem suas belezas, nenhum deles tem o Cristo Redentor, o conjunto arquitetônico de Paraty e as águas azuis cristalinas da Região dos Lagos. O turismo, aliás, disputa com o setor automobilístico o posto de segunda maior fonte de receita do mundo.
O Rio de Janeiro está diante de mais um desafio: transformar o que parece ser um fardo em oportunidade. O envelhecimento populacional não significa estagnação econômica, desde que haja planejamento estratégico e investimento em setores capazes de gerar emprego e renda de forma sustentável. O estado tem vantagens competitivas que podem ser alavancadas para compensar a redução da força de trabalho. Mais do que nunca, será necessário apostar em inovação, tecnologia e qualificação profissional para elevar a produtividade. Só assim o Rio poderá atravessar a transição demográfica com menos riscos e mais chances de prosperar.

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