Deputado Glauber Braga e mais 3 alunos são detidos em desocupação na Uerj; PM usa bomba de efeito moral

Por volta das 15h10 desta sexta-feira (20), policiais militares conseguiram retirar os estudantes que ocupavam a Uerj e cumpriram a decisão judicial da 13ª Vara de Fazenda Pública, que determinava a reintegração de posse da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) com a desocupação completa dos prédios.

No início da tarde desta sexta-feira, policiais do Batalhão de Choque da PM entraram na universidade e utilizaram bombas de efeito moral.

Por volta das 14h, três estudantes estavam detidos em um ônibus da Polícia Militar. Além deles, o deputado federal Glauber Braga (Psol), que estava no local para apoiar os alunos da Uerj, também foi detido. Todos foram levados para a Cidade da Polícia.

A entrada dos policiais ocorreu às 13h20, pelo portão 7 da Uerj. Segundo testemunhas, os estudantes jogaram pedras e pedaços de madeira contra os policiais, que revidaram as agressões.

Durante o confronto, alunos colocaram fogo em pneus na Avenida Rei Pelé, uma das principais vias da Zona Norte. Estudantes que estavam do lado de fora da universidade tentaram entrar no local para apoiar os colegas. Ainda não há informações sobre feridos.

Por volta das 14h50, a situação no local estava mais tranquila, mas muitos estudantes ainda ocupavam o prédio principal da sede da Uerj. A desocupação foi confirmada pela Polícia Militar às 15h10.

Ocupação desde julho

Os alunos, que protestam e ocupam espaços no local desde julho por conta de cortes de benefícios, não cumpriram a decisão da Justiça que determinou a desocupação do prédio. Durante a semana, a juíza Luciana Losada já tinha decidido pela desocupação, mas com 24 horas de prazo para liberação da reitoria e das salas de aula.

Os alunos descumpriram a primeira decisão judicial e seguiram ocupando os prédios da universidade. Houve confrontos entre seguranças e estudantes, com portas quebradas e um aluno arrastado durante uma tentativa de invasão do campus.

“Requer, ainda, a expedição de mandado de imissão na posse com uso de força policial suficiente e necessária à desocupação completa dos prédios da UERJ”, escreveu a juíza Luciana Losada em sua decisão desta sexta-feira (20).

Antes do início do confronto, a reitora da Uerj, Gulnar Azevedo e Silva, tentou dialogar e fez um apelo aos estudantes que estão na ocupação:

“Vamos continuar abertos, vamos continuar querendo conversar, mas a universidade tem que voltar a funcionar. O apelo é que eles saiam antes que a gente precise assistir ao uso de força policial”, disse.

Confusão na quinta

A última quinta-feira (19) também foi marcada por tumulto e confusão na Uerj. Vídeos registraram imagens de um aluno arrastado por seguranças, tentativas de invasão e confronto em vários pontos.

Os momentos de maior tensão ocorreram no meio da tarde, quando os seguranças tentaram desobstruir as portas. Teve empurra-empurra e gritos de resistência.

Um vídeo gravado no local mostra um homem, com o rosto coberto, pegando uma mangueira de combate a incêndio e, com a ajuda de uma mulher, jogando água em um dos pontos onde estavam os seguranças.

A PM foi chamada para atuar na parte externa e houve confusão. Bombas de efeito moral foram lançadas e houve confrontos.

A ocupação, iniciada em 26 de julho de 2024, é um protesto contra os novos critérios para a concessão da bolsa de apoio à vulnerabilidade social e o Ato Executivo de Decisão Administrativa (AEDA), de 1º de agosto.

Os estudantes, que apelidaram o AEDA de “AEDA da fome”, afirmam que as mudanças prejudicaram cerca de 5 mil universitários.

A Uerj afirma que o número de alunos afetados é de cerca de 1.600 e que estes ainda recebem outros auxílios.

Cerca de 26 mil alunos do campus do Maracanã estão sem aulas desde 26 de julho. A decisão de desocupação é liminar. A justiça marcou uma audiência para o dia 2 de outubro para discussão do pleito dos alunos.

O que dizem os envolvidos

 

A Uerj, em nota, confirmou a desocupação da instituição na tarde desta sexta. A direção da universidade lamentou que a situação tenha chegado nesse ponto e afirmou que tentou negociar de forma pacífica com os estudantes.

“Na ação determinada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, foi concluída a desocupação do pavilhão João Lyra filho e assinada a reintegração de posse dos espaços da Uerj. Houve inicialmente a entrada dos oficiais de justiça e da comissão de direitos humanos da OAB, para empreender uma negociação. Na sequência, se deu a entrada das forças policiais no campus Maracanã da Universidade. Ao longo do procedimento, um policial se feriu e foi levado para o hospital. Entre os estudantes, não houve registro de feridos até então.

A maior parte dos grupos da ocupação se evadiu antes que os agentes pudessem identifica-los. Outros, no entanto, foram detidos e levados para registro de ocorrência, visto que se encontravam em descumprimento de decisão judicial. No caso dos grupos que deixaram o campus, há imagens de ataques violentos dos manifestantes, atirando pedras e até um rojão em direção à tropa de policiais. Já há a confirmação de que novas depredações foram feitas pelos ocupantes, para além das registradas no momento da invasão da Reitoria, no dia 26/7.

A Reitoria da UERJ lamenta profundamente que, apesar de todos os esforços de negociação – oito reuniões com entidades representativas dos estudantes, audiência de conciliação com a juíza do Tribunal de Justiça -, a situação tenha chegado a esse ponto de intransigência por parte dos grupos extremistas da ocupação.”

Em nota, a PM informou que policiais militares atuaram em auxílio ao Poder Judiciário para cumprimento de uma decisão judicial na Uerj, Campus Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro.

“Até o momento, policiais militares do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) e do 6ºBPM desobstruíram a Rua São Francisco Xavier, após manifestantes atearem fogo em objetos. Ocorrência em andamento. Equipes do Grupamento Aeromóvel (GAM) sobrevoam a região , que está com o policiamento reforçado”, dizia a nota.

Já o deputado Glauber Braga se manifestou através de sua assessoria de imprensa.

“Ao defender os estudantes da UERJ que estavam sendo ameaçados e agredidos pela Tropa de Choque (que pela primeira vez na história entrou na UERJ!), o deputado federal Glauber Braga foi detido.

Os estudantes participavam de uma ocupação na universidade, lutando contra cortes no orçamento da política de permanência estudantil destinada a estudantes pobres.

Glauber está sendo levado junto com mais 3 estudantes nessa reintegração de posse absurda. É uma detenção ilegal, já que um deputado federal só pode ser detido em flagrante por crime inafiançável.

Assim funciona o autoritarismo e a truculência de Cláudio Castro e da reitoria da UERJ. Lutar não é crime! Abaixo o autoritarismo e a repressão!”

Também em nota, o presidente do Psol do Rio de Janeiro, Juan Leal, disse que o partido está acompanhando os estudantes desde o início da ocupação.

“Estivemos em contato com representantes da reitoria para que fossem atendidas as demandas dos alunos e assim, a retomada dos benefícios estudantis, já que a perda dessas bolsas prejudica, principalmente, aqueles estudantes que mais necessitam.

Ao mesmo tempo, condenamos de forma veementemente o uso de espetacularização e força para a resolução desta situação. Bombas, caveirão e uso de armas menos letais contra um grupo de estudantes expõe de forma grotesca e desproporcional os limites entre uma instituição democrática como a UERJ e o autoritarismo característico do estado governado por Cláudio Castro, o governador das chacinas.

Nosso bravo companheiro, deputado federal do Psol, Glauber Braga, estava no local para a proteção e a defesa dos estudantes contra a iminente violência deflagrada. Ao cumprir seu papel enquanto representante do povo fluminense, foi detido e encaminhado a uma delegacia. Estamos nos deslocando para a mesma e em breve teremos mais informações”, dizia a nota assinada por Juan.

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