Segundo investigações, parlamentar usa o mandato para favorecer o crime organizado, intermediando compra e venda de drogas, fuzis e equipamentos antidrones
O deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, (MDB), foi preso, na manhã desta quarta-feira (3), na Barra da Tijuca, Zona Oeste, em uma operação conjunta da Polícia Civil, Polícia Federal e do Ministério Público do Rio (MRPJ). De acordo com as investigações, o parlamentar usa seu mandato para favorecer o crime organizado, intermediando a compra e venda de drogas, fuzis e equipamentos antidrones destinado a comunidades controladas pelo Comando Vermelho (CV).
Entre os alvos da Operação Bandeirantes estão narcoterroristas, um assessor parlamentar e a mulher de um traficante, lotada em cargo parlamentar por indicação do deputado. São quatro mandados de prisão e cinco de busca e apreensão. As equipes também atuam na Freguesia, ainda na Zona Oeste, e em Copacabana, na Zona Sul.
Segundo a Policia Civil, houve movimentações financeiras suspeitas envolvendo empresas ligadas a Thiego, com alertas sucessivos emitidos por instituições financeiras, reforçando a prática de lavagem de dinheiro. O secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi, destacou a gravidade do caso.
“Estamos diante de uma investigação que comprova a infiltração direta do crime organizado dentro do parlamento fluminense. O deputado eleito para representar a sociedade colocou seu mandato a serviço da maior facção criminosa do Rio de Janeiro. A ‘Operação Bandeirante’ é mais uma demonstração de que não haverá blindagem política para criminosos: seja traficante armado na favela ou de terno na Assembleia, a resposta do Estado será a mesma”, disse.
A corporação destacou que, com as provas reunidas, a operação evidencia o papel central do deputado na articulação criminosa, consolidando uma ligação direta com o CV e sua atuação para expandir os interesses da facção.
Denúncia
A Procuradoria-Geral de Justiça do MPRJ denunciou Thiego e outras quatro pessoas por associação para o tráfico de drogas e comércio ilegal de armas de fogo de uso restrito.
De acordo com a denúncia, os acusados mantinham vínculos estáveis com o Comando Vermelho, atuando nos Complexos da Maré, do Alemão e na comunidade de Parada de Lucas, todos na Zona Norte. O grupo é acusado de intermediar a compra e venda de drogas, armas e equipamentos antidrones utilizados para dificultar operações policiais nos territórios ocupados pela facção.
Para o MPRJ, TH Joias usou o seu mandato para favorecer a organização criminosa, inclusive nomeando comparsas para cargos na Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj). Ainda segundo a denúncia, o deputado é acusado de intermediar diretamente o comércio de entorpecentes e de armas, realizando pagamentos a integrantes do CV.
Outro denunciado é apontado como uma das lideranças da facção, responsável pelo controle financeiro e pela autorização de pagamentos vultosos, incluindo a autorização para a compra dos antidrones.
Um terceiro denunciado exercia a função de tesoureiro, encarregado de armazenar drogas, guardar valores milionários, efetuar pagamentos e intermediar negociações de armas e munições.
Um quarto denunciado atuava como fornecedor de equipamentos especializados à facção, em especial os dispositivos antidrones. Ele também era responsável pelos testes em campo e ensinava outros membros da facção a operá-los. De acordo com a Procuradoria-Geral de Justiça, paralelamente, o acusado ocupava o cargo de assessor parlamentar, indicado pelo deputado, como forma de encobrir as atividades ilícitas.
Ainda segundo a denúncia apresentada à Justiça, a quinta acusada havia sido nomeada para um cargo comissionado na Alerj e sua função era servir de elo entre o grupo e o Legislativo. A assessora contribuía para acobertar o papel desempenhado pelo tesoureiro, com quem é casada.
Questionada, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) ainda não respondeu. O espaço está aberto para manifestação.
A reportagem tenta localizar a defesa do deputado.
Operação Zargun
A Polícia Federal realiza, nesta quarta-feira (3), a Operação Zargun, que mira desarticular uma organização criminosa ligada à cúpula do Comando Vermelho, especializada no tráfico internacional de armas e drogas, corrupção de agentes públicos e lavagem de capitais. O deputado estadual também foi alvo dessa ação.
Segundo a PF, as investigações identificaram um esquema de corrupção envolvendo a liderança do CV no Complexo do Alemão e agentes políticos e públicos, incluindo um delegado da PF, policiais militares, um ex-secretário municipal e estadual e o deputado estadual.
Ainda de acordo com a PF, a organização infiltrava-se na administração pública para garantir impunidade e acesso a informações sigilosas, além de importar armas do Paraguai e equipamentos antidrone da China, revendidos até para facções rivais.
Ao todo, ambas as operações buscam cumprir 18 mandados de prisão preventiva e 22 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça Federal e Estadual.
O Tribunal Regional Federal da 2ª Região determinou o sequestro de bens e valores dos investigados, totalizando R$ 40 milhões, além do afastamento de agentes públicos, suspensão de atividades de empresas utilizadas para lavagem de dinheiro e transferência emergencial de lideranças da facção para presídios federais de segurança máxima.
Os investigados poderão responder pelos crimes de organização criminosa, tráfico internacional de armas e drogas, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.