3 de setembro de 2025
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Centro oncológico da Unimed Ferj é autuado após denúncias de pacientes

O Espaço Cuidar Bem, em Botafogo, na Zona Sul, foi autuado pela Secretaria de Estado de Defesa do Consumidor (Sedcon) e o Procon-RJ, nesta segunda-feira (1º), por falhas na prestação de serviços. A fiscalização no centro destinado exclusivamente a pacientes oncológicos aconteceu após denúncias sobre mudanças no modelo de atendimento da Unimed Ferj, que provocou descredenciamento de clínicas e médicos conveniados, além da interrupção do fornecimento de medicamentos.

 

A fiscalização identificou problemas no centro oncológico, como falta de medicamentos essenciais para o tratamento, inclusive para quimioterapia; espera superior a três horas para atendimento; atraso de mais de quatro horas para o início das sessões de quimioterapia, mesmo com horário agendado; ambiente mal ventilado e extremamente quente; e ausência de canais de comunicação eficazes. Os pacientes relataram que o local só fornece informações de forma presencial, dificultando o acesso de pessoas debilitadas.

Durante a ação, os agentes ouviram relatos de pacientes sobre abandono e negligência no acompanhamento médico, que levaram à autuação. De acordo com os usuários, o Espaço Cuidar Bem não tem estrutura adequada para a demanda e apresenta um cenário de descaso, com impacto direto na continuidade dos tratamentos. “Eles não têm estrutura para o tanto de gente que tem lá. Saímos de uma clínica quatro estrelas para ir para uma estrela”, contou a paciente Solange Santos, de 58 anos.

Tratando um câncer no pulmão, a dona de casa fazia acompanhamento no Centro Oncoclínicas da Barra da Tijuca (Ceon), na Zona Oeste, e com o descredenciamento da Unimed Ferj, foi transferida para o Espaço Cuidar Bem. Ela conta que em 6 de agosto, chegou ao local no início da tarde, mas só conseguiu receber a medicação às 19h, por conta da lotação. “Parecia um ‘Deus nos acuda’. Era muita gente, eu cheguei lá 13h e saí 21h. Tem cadeirante, gente sem condição de andar. O que eles estão fazendo com as pessoas é um crime, tem pessoas que não conseguem nem ficar em pé”, afirmou.

A paciente disse ainda que em uma segunda ida ao novo centro oncológico, acabou tendo o tratamento remarcado para o próximo dia 3, por falta de medicamento, depois de quase três horas de espera para recebê-lo. “É muito complicado para quem precisa dessa medicação e está refém da Unimed. E a Unimed parece não estar nem aí, processos eles estão colecionando”.

A Sedcon e o Procon informaram que vão continuar monitorando o caso. “É inaceitável que pacientes oncológicos estejam sendo submetidos a essa situação de desamparo, sem medicamentos, em ambientes inadequados e com longas horas de espera. Estamos tratando de vidas. O Estado vai agir com firmeza para garantir que os direitos desses consumidores sejam respeitados. A Unimed Ferj será notificada a prestar todos os esclarecimentos, e responderá por cada falha identificada. Saúde não é favor, é direito”, afirmou o secretário de Estado de Defesa do Consumidor, Gutemberg Fonseca.

Procuradas, a Unimed Ferj e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ainda não se pronunciaram. O espaço está aberto para manifestação.

 

Abaixo-assinado reúne mais de 2 mil assinaturas

 

Insatisfeitos com a situação que descreveram como “desumanidade”, pacientes e médicos cooperados deram início a um abaixo-assinado nas redes sociais. O documento reivindica a apuração da responsabilidade da Unimed Ferj e Unimed Rio na situação atual dos beneficiários e profissionais das operadoras. Nesta terça-feira (2), a petição já contava com 2.030 assinaturas.

 

Médicos e pacientes usaram a página do abaixo-assinado para desabafar. “Sou médica, acompanho a saga de uma pessoa amiga que há três meses tenta iniciar a quimioterapia e não consegue. E como usuária vejo a cada dia diminuir o número de hospitais conveniados, principalmente para atendimento das emergências cardiológicas”, declarou um comentário.

“Estava em tratamento de uma neoplasia de cólon junto à Oncoclínica com excelente atendimento e agora a Unimed Ferj, por conta de seu despreparo e desumanidade, nos joga para um local onde impera o descaso total para os seus pacientes”, se queixou outro.

 

“Sou paciente oncológica em avaliação para transplante e fazendo uso de quimioterapia paliativa para evitar o avanço acelerado. Estou com minha quimioterapia há nove dias atrasada. Alteraram a data para pegar para 14 dias depois, porém vou com frequência e dizem não ter sequer o medicamento na farmácia deles (…) Fora isso, há INÚMERAS negligências técnicas, administrativas e higiênicas, com manipulação de materiais em cima de cadeiras, sem nenhuma higiene e segurança, com extravasamento e contaminação de cateter. A Unimed Ferj parece querer nos matar!”, lamentou mais um.

Segundo a 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Capital, a maior parte dos problemas relacionados à Unimed Ferj vem sendo abordada no procedimento que acompanha o cumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado entre o MPRJ e o Sistema Unimed, com a participação da ANS e da Defensoria Pública do Rio (DPRJ), e em Procedimento Administrativo instaurado para acompanhar a transferência de carteira da Unimed Rio para a Unimed Ferj.

 

“A Promotoria também informa que algumas ouvidorias com reclamações sobre o descredenciamento da Oncoclínicas e a concentração do tratamento no Espaço Cuidar Bem chegaram à Promotoria no dia 05/08 e foram juntadas no procedimento. A Promotoria já requisitou esclarecimentos à Unimed Ferj e à ANS”, completou o Ministério Público do Rio (MPRJ).

 

Histórico de insatisfação

O Espaço Cuidar Bem foi inaugurado no dia 1º de agosto e concentra os cuidados oncológicos da Unimed Ferj, desde que a empresa encerrou as parcerias com outras unidades conveniadas. Na última semana, pacientes protagonizaram uma confusão no local, por conta das irregularidades no serviço. Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver os usuários se queixando da má qualidade do atendimento. Um homem parece passar mal durante a discussão e outro ameaça chamar a polícia.

 

No último dia 22, o DIA mostrou que pacientes já denunciavam a falta de medicamentos essenciais para o tratamento de câncer. A reportagem ainda obteve relatos de que o espaço não tem banheiros suficientes para atender à alta demanda provocada pela mudança nos atendimentos e o ambiente é apertado. No site oficial, a Unimed informa que o novo centro foi “cuidadosamente planejado para unir tecnologia, expertise médica e empatia, proporcionando segurança, conforto e atendimento centrado no paciente”.

O DIA também já havia publicado, em abril, que um grupo de mães enfrentava a interrupção dos tratamentos multidisciplinares dos filhos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). As crianças eram atendidas na clínica Follow Kids, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste, que anunciou a suspensão dos serviços em maio, por conta da falta de repasses financeiros da Unimed Ferj. Algumas famílias chegaram a relatar que a situação já havia acontecido durante o processo de fusão entre a operadora e a Unimed-Rio, que garantia a continuidade dos atendimentos.

 

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