Brasil registrou 202,9 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes de 2015 a 2021, diz boletim
Um boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde nesta quinta-feira (18) aponta que 202.948 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes foram notificados em sete anos, de 2015 a 2021, no Brasil. São quase 80 casos por dia no período.
Segundo o documento, divulgado no Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, 83.571 (41,2%) dos casos de violência foram contra crianças (0 a 9 anos) e 119.377 (58,8%) praticados contra adolescentes (10 a 19 anos).
Conforme o boletim, no ano de 2021, o número de notificações foi o maior registrado ao longo do período analisado. Segundo dados preliminares, foram pelo menos 35.196 casos no ano retrasado.
O número de casos envolvendo bebês, com até um ano de idade, é de 3.386 entre 2015 e 2021. Ou seja, mais de um caso por dia.
Dados sobre crianças
Os casos de violência contra crianças (0 a 9 anos de idade) que mais ocorreram são estupro, assédio sexual e pornografia.
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Casos mais frequentes de violência sexual contra crianças de 0 a 9 anos de idade — Foto: Reprodução/Ministério da Saúde
O levantamento também mostra que, entre as crianças, as meninas são os principais alvos de agressores, que são majoritariamente do sexo masculino.
Foram 64.230 (76,9%) casos contra meninas de 0 a 9 anos; e 19.341 (23,1%), contra meninos da mesma faixa etária. Um total de 83.571 notificações.
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Dados sobre crianças de 0 a 9 anos do boletim — Foto: Reprodução/Ministério da Saúde
Ainda em relação a crianças (0 a 9 anos), na maioria dos casos, o agressor foi um familiar, seguido de amigo/conhecido.
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Dados sobre os agressores de crianças de 0 a 9 anos de idade — Foto: Reprodução/Ministério da Saúde
E os casos ocorreram, principalmente, na residência ou na escola frequentada pela criança.
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Local da ocorrência dos casos de violência sexual contra crianças — Foto: Reprodução/Ministério da Saúde
Dados sobre adolescentes
Em relação a adolescentes (10 a 19 anos), do total de 119.377 casos de violência sexual, 110.657 (92,7%) foram contra meninas. E 8.720 (7,3%), contra meninos.
A maior parte das notificações, de 2015 a 2021, se deu na faixa etária de 10 e 14 anos.
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Dados sobre adolescentes (10 a 19 anos) — Foto: Reprodução/Ministério da Saúde
Entre os adolescentes, foram notificados:
- 90.308 casos de estupro
- 33.842, de assédio
- 2.503, de pornografia
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Os casos de violência sexual contra adolescentes — Foto: Reprodução/Ministério da Saúde
Assim como nos casos de violência contra crianças, os agressores de adolescentes são majoritariamente homens, familiares e conhecidos. E o local de ocorrência mais comum é a residência.
Cerimônia
O governo realizou um evento, no Salão Nobre do Palácio do Planalto, para marcar este 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
O presidente em exercício Geraldo Alckmin participou da solenidade, na qual o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, anunciou uma série de medidas, entre as quais:
- recriação da Comissão Intersetorial de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes
- o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre casos de violência sexual contra crianças e adolescentes
- retomada, em parceria com o Ministério da Justiça, do Mapear, programa com levantamento pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) de pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes às margens das rodovias federais
- reformulação do atendimento especializado com o Disque 100
‘Pintou um clima’
O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida aproveitou o discurso durante a cerimônia para fazer uma crítica ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que no ano passado provocou polêmica ao afirmar que “pintou um clima” durante a visita a um grupo de meninas venezuelanas no Distrito Federal.
“Eu não quero viver em um mundo em que o representante diga que pintou um clima com adolescentes”, disse Almeida.
Questionado após a cerimônia sobre a referência, Almeida disse que se referiu a Bolsonaro e “a toda e qualquer fala que de alguma maneira diminua a importância de se combater o abuso sexual e a exploração infantil”.
A primeira-dama Janja Lula da Silva também fez menção à fala de Bolsonaro. Uma carta da primeira-dama, que acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagem ao Japão, foi lida durante a cerimônia.
“Meu último recado para vocês é esse: a parceria entre a sociedade civil e o Estado na construção e na execução de políticas de proteção para crianças e adolescentes é o único clima que ponde pintar”, diz trecho da carta.