O sargento do Corpo de Bombeiros Paulo César de Souza Albuquerque foi condenado, nesta quinta-feira (27), a 12 anos de prisão, em regime inicialmente fechado, pela tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil contra o atendente de uma lanchonete, Mateus Domingos Carvalho. O crime aconteceu na madrugada de 9 de maio de 2022, no McDonald’s da Taquara, na Zona Oeste do Rio, quando o militar atirou contra o jovem, após uma discussão sobre um cupom de desconto de R$ 4.
Por maioria dos votos, o Conselho de Sentença, formado por sete jurados, considerou Paulo Cesar culpado por atirar em Mateus. A sentença do 4º Tribunal do Júri do Rio foi proferida no final da noite de ontem pelo juiz Gustavo Kalil e decidiu também pelo pagamento de R$ 100 mil de indenização por danos morais para o atendente. Na ocasião, segundo relato de testemunhas e da vítima, o militar estava no drive-thru e a briga aconteceu porque ele tentou adicionar o desconto depois que o pedido foi fechado.
Depois que o atendeu informou que não poderia inserir o cupom, o sargento se irritou, quebrou a proteção de acrílico e deu um soco em Matheus, que revidou. Imagens das câmeras de segurança da lanchonete registraram o momento em que Paulo César entra no estabelecimento com uma arma na mão, vai até a área de trabalho e, de acordo com testemunhas, atira em Matheus e deixa o local. O tiro atingiu o rim esquerdo e o intestino grosso do jovem, que precisou passar por cirurgias e ainda sofre com sequelas.
Na decisão, o magistrado destacou que a vítima afirmou tomar remédio para dormir, perdeu um rim e parte do intestino, anda mancando e faz fisioterapia, por conta de uma lesão na coluna, foi aposentado por invalidez e sua mãe teve que sair do trabalho para cuidar dele, diminuindo a renda da família. O jovem estava juntando dinheiro para começar a faculdade de veterinária, o que não vai ser mais possível, por conta do tratamento de saúde.
“Um jovem de então 21 anos que estava trabalhando com atendente no período da noite. A fala da vítima é compatível com a prova técnica, tanto que o laudo de exame atestou debilidade permanente nas funções renal e digestória, além de deformidade permanente. São consequências gravíssimas e sérias”, apontou o juiz Gustavo Kalil.
Ao Tribunal do Júri, o agressor disse que atirou acidentalmente e justificou o disparo por conta do consumo de bebida alcoólica, remédios controlados, problemas na vida pessoal e por ter sofrido uma ofensa homofóbica por parte do atendente. Ele também disse que não tinha associado o barulho feito pela arma com tiro. No depoimento, o bombeiro ainda alegou que que não ligou para a emergência porque havia esquecido o telefone da corporação em que trabalhava. “Não lembrava do número dos Bombeiros”.
Paulo César está preso desde 20 de maio do ano passado e desde então está em uma unidade prisional do Corpo de Bombeiros. O militar teve o porte e posse de armas suspensos, além de ser alvo de um inquérito e de um conselho disciplinar policial militar que apura a sua conduta profissional. Na decisão, o magistrado manteve a prisão e decretou a perda do cargo, medida condicionada ao trânsito em julgado da sentença, quando esgotados todos os recursos.