Bailarina do Theatro Municipal trata diabetes no Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capliglione
Internações por diabetes infantil cresceram 22% na rede pública do estado do Rio de Janeiro
O equilíbrio da bailarina Carolina Gomes da Silva, do Theatro Municipal, de 17 anos, ao ficar na ponta dos pés para executar sua dança é o mesmo que ela precisa na vida para controlar o diabetes tipo 1. Em tratamento no Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capliglione (IEDE), ela buscou ajuda para reduzir a glicemia que já chegou a 236 mg/dL. Dados do Sistema de Internações Hospitalares do SUS indicam que as internações por diabetes infantojuvenil, entre 10 e 19 anos, aumentaram na rede pública do estado. Em 2022, foram 239 hospitalizações e 292, em 2024.O que representa um aumento de 22% na comparação entre os dois períodos. O país ocupa o terceiro lugar em diabetes mellitus tipo 1 no mundo.
O diabetes Mellitus tipo 1 é uma doença autoimune crônica. Ela faz com que o sistema imunológico ataque e destrua as células do pâncreas que produzem insulina, resultando na incapacidade do corpo de produzir esse hormônio essencial. A reposição é feita com aplicação diária de insulina e o monitoramento regular da taxa de açúcar no sangue, com o propósito de controlar os sintomas e prevenir complicações, como problemas oculares, renais e cardiovasculares.
O aumento do número de internações de crianças e de adolescentes na rede pública é um sinal de alerta para a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello. Segundo ela, a busca por atendimento especializado é uma forma de conter a doença que se apresenta de início agudo, com sintomas claros e abruptos.
“O diabetes não é uma doença somente de adultos. A população jovem também é acometida. Ela pode causar graves problemas à saúde, inclusive com perda de membros. Os responsáveis devem ficar atentos aos sinais para evitar as internações e outras complicações, como fadiga, peso abaixo do normal, cicatrização lenta de feridas e o consumo exagerado de água”, frisa a secretária.
Carolina Gomes teve os sintomas clássicos do diabetes tipo 1: sede em excesso, muitas idas ao banheiro e perda de peso. O alerta para a doença veio em dezembro de 2023, com a realização de exames preventivos que indicaram taxa de glicemia superior a 230. Mesmo com plano de saúde, a estudante do ensino médio preferiu se consultar em uma unidade de referência do estado.
“Sei que estou no melhor lugar para cuidar de minha saúde. Venho em busca de equilíbrio, de rede de apoio, de orientação e de cuidados para ter uma vida regular. Poderia escolher outra unidade, mas priorizei o IEDE. Há oito anos, integro a escola de balé do Theatro Municipal e tenho o sonho de ser a primeira bailarina. O diabetes não me atrapalha em nada, basta cuidar”, explicou Carolina Gomes.
Ambulatório infantil do IEDE atendeu cerca de 2 mil pacientes
De 2022 a 2025, foram totalizadas 979 internações de diabetes tipo 1 nas três redes públicas (municipal, estadual e federal) do Rio de Janeiro. Deste total, 199 foram em unidades da Secretaria de Estado de Saúde, sendo o principal o Instituto Estadual de Diabetes, com 96.
O ambulatório de diabetes infantil do IEDE, para crianças de 12 a 18 anos, funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, com agendamento prévio feito pelo sistema de regulação. A assistência é feita por endocrinologista, pediatra, nutricionista, psicólogo e enfermagem. A unidade realiza exames de acompanhamento e promove a internação, com indicação médica, de pacientes com diabetes tipo I (aqueles que não produzem insulina). Já o Programa de “Educação em Diabetes” desenvolve o trabalho contínuo de orientação a pacientes e familiares sobre o tratamento e como enfrentar o diabetes. Em 2023 e 2024, o ambulatório realizou cerca de 2 mil atendimentos.
Para a endocrinologista e pediatra do Instituto Estadual de Diabetes, Juliana Veiga, a automonitorização glicêmica e a aplicação de insulina de forma adequada são a base para um bom controle do diabetes tipo 1. Outros fatores que contribuem, segundo a especialista, são alimentação balanceada e a prática regular de atividade física.
“Procuramos sempre tentar inserir a dieta por contagem de carboidratos na rotina do paciente, como uma tentativa de permitir maior liberdade de escolha em cada refeição. Desta forma, se o paciente comer mais em uma determinada refeição, ele poderá aplicar mais insulina, de forma adequada, conforme prescrição médica. Damos também muita importância à rotina de horários, duração e intensidade das atividades físicas de cada paciente. Assim, conseguimos individualizar as orientações de cuidados necessários antes e após o exercício”, explica a endocrinologista do IEDE.
O instituto também realiza exames de hemoglobina glicada, dosagem de hormônio para tireoide, perfil lipídico (colesterol e triglicerídeos), hepatograma (exame de fígado), albumina urinária (avaliação da função do rim) e hemograma. Os pacientes com diabetes tipo I podem receber a insulina, enviada pelo Ministério da Saúde, para controlar a doença e um kit com medidor de glicose, fita e lanceta nas clínicas da família e no IEDE.
Brasil é o terceiro no mundo em diabetes tipo 1
De acordo com o Atlas da Federação Internacional de Diabetes (IDF) de 2025, o Brasil possui mais de 92 mil crianças e adolescentes com diabetes tipo 1. O país ocupa o terceiro lugar no ranking de incidência do diabetes mellitus tipo 1 (DM1) infantil no mundo, ficando atrás apenas da Índia (229.400) e Estados Unidos (157.900).
Esses números crescem de forma expressiva em todo o mundo. Em 1990, eram 2,3 milhões de crianças e adolescentes afetados. Em 2020, já eram 8,8 milhões. As projeções para 2040 indicam que serão 17,4 milhões. O mais preocupante é que a cada duas pessoas com DM1, uma morre sem ser diagnosticada.