Nos áudios de 2020, duas assessoras de Michelle, Cintia Borba Nogueira e Giselle dos Santos Carneiro da Silva, conversam com Cid sobre as irregularidades no pagamento das despesas de Michelle. As assessoras afirmam que tentam convencer Michelle a parar de usar o cartão de crédito da amiga.
“Então hoje é essa situação do cartão realmente é um pouco preocupante. O que eu sugiro para você é o seguinte. No momento que você for despachar com ela, é esse assunto. Você pode falar com ela assim sutilmente, né? (…) Mas eu acho que você poderia falar assim: dona Michelle, que é que a senhora acha da gente fazer um cartão para a senhora? Um cartão independente da Caixa. Pra evitar que a gente fique na dependência da Rosy. E aí a gente pode controlar melhor aqui as contas (….). Pode alertá-las o seguinte, que isso pode dar problema futuramente, se algum dia, Deus o livre, a imprensa descobre que ela é dependente da Rose, pode gerar algum problema”, diz Cintia Borba em áudio enviado à colega Giselle Nogueira em 30 de outubro de 2020.
Em outro áudio, Giselle conta a Mauro Cid ter conversado com uma pessoa próxima a Michelle — Adriana —, e que a ex-primeira-dama ficou “pensativa”, mas que continuaria a usar o cartão de Rosimary. Mauro Cid responde o áudio de Giselle e cita o nome de Flávio Bolsonaro: “Giselle, mas ainda não é o ideal isso não tá? (o uso do cartão de Rosimary). O Cordeiro conversou com ela (Michelle), tá, também. E ela ficou com a pulga atrás da orelha mesmo: tá, é? É. É a mesma coisa do Flávio. O problema não é quando! É como deputado, rachadinha, essas coisas”, respondeu.
Cid continua a explicação para Giselle: “Se ela perguntar pra você ou falar alguma coisa ou comentar, é importante ressaltar com ela que é o comprovante que ela tem. É um comprovante de depósito, é comprovante de pagamento. Não é um comprovante dela pagando nem do presidente pagando. Entendeu? É um comprovante que alguém tá pagando. Tanto que a gente saca o dinheiro e dá pra ela pagar ou sei lá quem paga ali. Então não tem como comprovar que esse dinheiro efetivamente sai da conta do presidente. O Ministério Público, quando pegar isso aí, vai fazer a mesma coisa que fez com o Flávio, vai dizer que tem uma assessora de um senador aliado do presidente, que está dando rachadinha, tá dando a parte do dinheiro para Michelle”.
Mauro Cid ainda envia um terceiro áudio temendo que o caso vá à público: “E isso sem contar a imprensa que quando a imprensa caiu de pau em cima, vai vender essa narrativa. Pode ser que nunca aconteça? Pode. Mas pode ser que amanhã, um mês, um ano ou quando ele terminar o mandato dele, isso venha à tona”, disse o ex-ajudante em novembro de 2022.
Flores para filha de Silvio Santos
A troca de áudios demonstra também que o esquema evitada transferências bancárias e efetuava pagamentos sempre em espécie. Em uma conversa de 8 de novembro de 2021 entre a assessora de Michelle Cintia Borba e o Osmar Crivelatti, militar subordinado a Mauro Cid, os dois combinam como pagar as flores para Patrícia Abravanel, apresentadora de TV e filha de Silvio Santos.
“E sobre as flores da Patrícia Abravanel, ela falou que é para o Cid fazer o pagamento. Mas ele tinha me falado na semana passada que quando for esses pagamentos de terceiros, é pra gente pegar o dinheiro com ele e fazer o pagamento por aqui, tá? Então eu vou pedir para ele para sacar esse dinheiro e peço o Vanderlei para pegar lá para a gente fazer o… Vai ter que ser feito um depósito, né? No número daquela conta que você me passou, tá?”, diz Cintia em áudio para Crivelatti.
Em um áudio de Giselle a uma pessoa identificada com Vanderlei, a assessora comenta sobre a necessidade de fazer os pagamentos “em depósito”: “Boa noite, Vand e Cintía. PD (Primeira-dama) falou, eu perguntei para ela se ela queria transferir Pix, né? Tanto para Bia. Daí, ela falou: não, vamos fazer agora tudo depósito, que, aí pede pro Vanderlei fazer o depósito, a gente consegue o dinheiro e faz o depósito. Só que ela não falou como conseguiu o dinheiro, se o dinheiro está com ela, se a gente pega na AJO. Não falou, tá? Ela falou que assim não fica registrado nada, vamos fazer depósito. Então a gente tem que começar a ter esse hábito do depósito, então né?”, disse Giselle.
Em resposta ao portal Uol, a defesa de Mauro Cid que só vai se manifestar sobre o caso nos autos do processo. Fabio Wajngarten, que tem respondido sobre casos envolvendo Bolsonaro nas últimas semanas, rebateu a publicação afirmando que “os pagamentos de fornecedores informais, pequenos prestadores de serviços, eram feitos em dinheiro afim de proteger dados do Presidente”. “Seria bom e justo incluir na matéria os valores encontrados. Seria bom também a matéria dizer como dados não relacionados ao que resultou na quebra telemática dos envolvidos foram publicitados. Não há nada de ilegal nas transações efetuadas”, diz Wajngarten.