19 de dezembro de 2025
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Assinatura do acordo UE-Mercosul é adiada para janeiro

Texto é negociado há 25 anos e criaria a maior zona de livre comércio do mundo

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, expressou nesta sexta-feira (19) confiança de que será possível assinar o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul em janeiro, após o adiamento impulsionado por França e Itália em meio a protestos de agricultores.

O texto é negociado há 25 anos e criaria a maior zona de livre comércio do mundo. Com esse acordo, os europeus poderiam exportar produtos como veículos e maquinário aos países do Mercosul: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.

Em troca, facilitariam a entrada nos países do bloco de carne, arroz, mel e soja sul-americanos, considerados mais competitivos devido a suas normas de produção, o que os agricultores europeus veem com temor.

O presidente Lula abriu o caminho para esse adiamento horas antes, após conversar por telefone com a chefe de governo italiana, Giorgia Meloni.

Segundo ele, Meloni lhe pediu “paciência”, assegurando que a Itália acabaria apoiando o tratado.

‘Disputa interminável’

Este prazo adicional representa um revés para a Comissão Europeia, a Alemanha, a Espanha e os países nórdicos, que queriam que o acordo fosse assinado nos próximos dias.

Isso não será “solucionado este ano, mas já parece quase certo que vai acontecer”, comentou, no entanto, uma fonte governamental alemã, que cogitou uma possível assinatura “em meados de janeiro”.

Contudo, a poderosa federação alemã de indústria e farmácia (VCI) expressou sua “frustração” diante de uma “disputa interminável”.

O Executivo Europeu esperava assinar o tratado no próximo sábado durante uma cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu (PR). Mas, para isso, Von der Leyen precisava do aval de uma maioria qualificada dos Estados-membros da União Europeia reunidos em Bruxelas, que não obteve, sobretudo, pela oposição de França e Itália.

Ao final da reunião de cúpula, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu que o texto “mudasse de natureza”, com mais garantias para os agricultores.

Macron não descarta aceitar o acordo em janeiro, mas “é cedo demais para dizer”, destacou.

O maior sindicato agrícola francês, FNSEA, advertiu que o adiamento “não é suficiente” e instou seus militantes a permanecerem mobilizados, pois “o Mercosul continua sendo um NÃO!”.

Agricultores revoltados 

À margem da reunião de quinta-feira em Bruxelas de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, milhares de agricultores manifestaram sua revolta.

Segundo a polícia de Bruxelas, 7.300 pessoas com cerca de 50 tratores participaram do protesto autorizado, a maioria pacificamente.

Mas outros 950 tratores chegaram ao bairro europeu, bloqueando várias ruas, com registro de vários incidentes.

Os protestos deixaram um panorama de pneus incendiados, batatas e projéteis arremessados, jatos d’água e bombas de gás lacrimogêneo lançados pela polícia. A situação ficou especialmente tensa nas imediações das instituições europeias, protegidas por um importante dispositivo policial.

Além disso, pessoas mascaradas quebraram várias janelas de um prédio do Parlamento, constatou a AFP.

Os agricultores protestavam contra diversos temas, não só contra o acordo UE-Mercosul, mas também contra as taxas sobre os fertilizantes e a reforma da política agrícola comum (PAC) da UE, explicaram alguns participantes à AFP.

Florence Pellissier, uma agricultora francesa, denunciou a “concorrência desleal” de produtos importados tratados com substâncias proibidas na Europa.

“Estamos aqui para dizer não ao Mercosul”, declarou à AFP o pecuarista belga Maxime Mabille. “É como se a Europa tivesse se tornado uma ditadura”, acrescentou, ao acusar a presidente da Comissão Europeia de tentar “impor o acordo à força”.

Von der Leyen se reuniu esta manhã com uma delegação da Copa-Cogeca, a principal organização agrícola europeia, e no final da reunião assegurou, em uma mensagem transmitida na rede X, que “a Europa estará sempre ao seu lado”.

A Copa-Cogeca reivindicou 10 mil manifestantes procedentes de vários países, sobretudo da França.

Muitos agricultores europeus acusam os países do Mercosul de não acatarem as normas ambientais e sociais que eles são obrigados a cumprir, o que permitiria vender seus produtos mais baratos.

Também há preocupações com a reforma de subvenções da PAC, que a Comissão Europeia busca, segundo eles, “diluir” no orçamento europeu.

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