Avião de Prigozhin que caiu na Rússia era da Embraer; pelas normas, Brasil poderia participar de investigação
O avião onde estava o fundador do grupo de mercenários Wagner, Yevgeny Prigozhin, foi produzido pela empresa Embraer, símbolo da aviação brasileira nas últimas décadas. O modelo era da família Legacy e o número de série era RA-02795.
O avião caiu em um assentamento na cidade russa de Tver. Havia 10 pessoas a bordo – todas morreram.
Dados de rastreamento do FlightRadar24 – um popular site de rastreamento de voos – não mostram de onde o jato partiu. Os registros estão inacessíveis,
Hoje cedo ele apareceu perto de Moscou, onde subiu a uma altitude de quase 29 mil pés (cerca de 8.800 metros) antes que os dados mostrassem que ele caiu repentinamente.
O avião está registrado na Autolex Transport, empresa que o governo dos Estados Unidos vinculou a Yevgeny Prigozhin.
Os dados mostram que a aeronave fez várias viagens nos últimos meses, sempre com saída ou chegada em Moscou e São Petersburgo.
O avião também foi retratado pelos meios de comunicação locais na Bielorrússia, onde especula-se que o grupo Wagner esteja sediado atualmente.
Dados do site PlaneSpotters, que congrega informações sobre aeronaves, apontam que o avião de Prigozhim foi fabricado há 16 anos em São José dos Campos, interior do Estado de São Paulo, onde fica a sede da Embraer.
A BBC News Brasil procurou a Embraer, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Como regra da aviação internacional, a empresa deve participar das investigações das causas do acidente.
Fundada em 1969, durante a ditadura militar, a Embraer chegou a ser a terceira maior exportadora do Brasil e modelo em inovação. Mas ao longo de quase cinco décadas, a empresa enfrentou altos e baixos e já esteve à beira da falência.
Tendo sido por décadas uma empresa estatal, a Embraer foi privatizada em 1994, durante o governo Itamar Franco.
Em 2018, durante nova crise financeira, a empresa anunciou um acordo com a americana Boeing, uma das maiores fabricantes de aeronaves do mundo, que iria adquirir grande parte da empresa brasileira.
O acordo, no entanto, foi rompido em abril de 2020.
Normas de investigação
Por ser o país onde o avião foi projetado e produzido, o Brasil teria o direito de nomear representantes para participar da investigação sobre as causas do acidente.
Isso é determinado pelas normas da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO, na sigla em inglês). A participação, porém, não é obrigatória pelas normas da entidade.
O país precisa, no entanto, fornecer quaisquer documentos sobre a aeronave que investigadores estrangeiros considerem relevantes para esclarecer os acontecimentos.
Consultado pela BBC News Brasil, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira, ainda não se pronunciou sobre o caso.