25 de dezembro de 2025
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Concentração de poluentes atmosféricos cai mais de 60% no Rio de Janeiro após avanço no controle de emissões veiculares

Pesquisadores da UVA, UFRJ e Uerj analisaram impacto do Proconve nas emissões de hidrocarbonetos e no potencial de formação de ozônio troposférico

 

A concentração de hidrocarbonetos (HCs) na atmosfera, poluentes precursores na formação de ozônio troposférico, teve uma queda superior a 60% entre 2012 e 2023 na cidade do Rio de Janeiro após o avanço do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve).

É o que mostra um estudo feito por pesquisadores da Universidade Veiga de Almeida (UVA), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), publicado recentemente na revista ACS Omega, da American Chemical Society.

A frota veicular na capital passou de 2,62 milhões de unidades para 3,39 milhões no período, um crescimento de mais de 29%. Mesmo com o aumento, o estudo revela uma redução expressiva nas concentrações de hidrocarbonetos no ar.

Em campanhas anteriores de monitoramento, em 2012 e 2016, alguns locais registravam valores acima de 700 μg/m³, enquanto a análise mais recente indicou uma mediana de 101 μg/m³, uma queda superior a 60% em relação aos níveis mais altos observados. As coletas foram feitas nos bairros do Maracanã, Tijuca, Bangu e Del Castilho.

“Esses resultados refletem os efeitos da modernização da frota, especialmente após as fases L6 e L7 do Proconve, que entraram em vigor em 2013 e 2022, respectivamente, e trouxeram limites mais restritivos nas emissões dos gases de escapamento. A renovação da frota brasileira é lenta, visto que a idade média dos veículos leves é de 8 a 9 anos”, explica Cleyton Martins, professor e pesquisador do Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente da UVA e um dos autores do estudo.

A diminuição foi ainda mais evidente nos compostos aromáticos, reconhecidos por serem muito reativos e importantes na formação de ozônio troposférico. Em 2015, os aromáticos representavam até 14% dos hidrocarbonetos medidos, enquanto em 2023 esse valor caiu para apenas 6%.

O potencial médio de formação de ozônio (OFP), ou seja, a massa de ozônio formada na atmosfera por cada grama de hidrocarbonetos emitido, também apresentou melhora significativa. Em 2015, esse indicador variava entre 2,5 e 2,8 gO₃/gHC, enquanto em 2023 a média caiu para 1,75 gO₃/gHC, uma redução de aproximadamente 35%.

“Isso significa que, além de menos poluentes estarem sendo emitidos, a mistura presente na atmosfera está menos propensa a gerar ozônio, o que reduz o risco de episódios críticos de qualidade do ar. O ozônio troposférico é um poluente secundário, que não é emitido, mas se forma quando a luz solar reage com hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio”, completa Cleyton Martins.

O levantamento também identificou o novo perfil das emissões urbanas. Cerca de 94% da massa total de hidrocarbonetos medidos em 2023 concentra-se em apenas 15 compostos, predominantemente alcanos leves como n-butano, propano, isopentano e etano, típicos de emissões veiculares. Já diversos aromáticos e compostos mais pesados, comuns em medições antigas, aparecerem abaixo do limite de detecção.

Apesar dos avanços, o estudo aponta a necessidade de ampliar o monitoramento de compostos orgânicos voláteis no Brasil. “Não há legislação específica para hidrocarbonetos relacionada ao monitoramento da qualidade do ar. No entanto, alguns deles têm potencial cancerígeno, como benzeno, tolueno e xilenos”, finaliza o pesquisador da UVA.

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