Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro lança Mapa Rio Soft Power, estudo que mede o poder de influência dos municípios fluminenses
Estratégia de desenvolvimento socioeconômico destaca identidade, reputação cultura e inovação
Um estado que vai muito além das belezas naturais: o Rio de Janeiro é um território onde identidade, reputação, cultura e inovação se transformam em diferencial competitivo. E ainda há muito mais a ser desenvolvido e valorizado. É o que revela o estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o Mapa Rio Soft Power, ferramenta inédita, que mede o poder de influência e reputação de 20 municípios fluminenses a partir de dados econômicos, culturais, acadêmicos e simbólicos.
“É um mapa do Rio, que mostra onde estão forças tangíveis e intangíveis do estado. Entender o Soft Power é entender como reputação e identidade também geram desenvolvimento socioeconômico”, explica Luiz Césio Caetano, presidente da Firjan.
Um Rio possível
O estado do Rio de Janeiro, assim como o Brasil, reúne uma abundância de recursos imateriais e intangíveis que contribuem para uma imagem globalmente reconhecida. Mesmo diante de desafios estruturais relacionados à segurança, saúde, educação, infraestrutura e ambiente de negócios, o estado preserva ativos simbólicos que inspiram admiração e despertam interesse internacional. A questão central, hoje, não é apenas reconhecer esses atributos, mas explorá-los de forma estratégica, ampliando seu potencial de geração de valor e retorno econômico.
“O estado do Rio possível é aquele que encara suas limitações com realismo e suas vocações com estratégia. Isso significa apostar em um modelo de desenvolvimento que una eficiência na gestão pública, diversificação econômica e valorização dos ativos intangíveis para gerar resultados concretos. Trata-se de construir um futuro viável, baseado em parcerias entre governo, empresas e sociedade, capaz de transformar o que o Rio tem de melhor em base sólida de crescimento e influência”, sugere o presidente da Firjan.
No fim das contas, a proposta vai além da análise: o Mapa pretende ser um guia estratégico para políticas públicas, negócios e projetos territoriais. Ele mostra por onde passam os caminhos da nova economia fluminense, ao transformar cultura, história e inovação em autossustentabilidade. “Mais que medir PIB, estamos medindo potencial de futuro. Talvez seja isso que o Rio sempre soube fazer melhor: transformar o imaterial em valor, e o valor em influência”, afirma Julia Zardo, gerente de Ambientes de Inovação da Firjan e coordenadora da pesquisa.
Um GPS para a economia simbólica
O Mapa Rio Soft Power foi construído a partir de dez indicadores: Produto Interno Bruto (PIB); PIB per capita; Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); densidade empresarial; densidade acadêmica; presença de indústrias criativas; histórico do município com a incorporação do Soft Power em seus produtos e serviços; ativos tangíveis; ativos intangíveis; atores e articulações locais; cruzados com fatores culturais, históricos e identitários.
As análises combinaram dados quantitativos de bases oficiais, como IBGE,e se inspira em referências internacionais como o Global Soft Power Index e o Nation Brands Index. “Essas fontes trouxeram para a pesquisa a metodologia e a inspiração de índices mundiais, permitindo adaptar para a realidade fluminense parâmetros usados na medição do poder de influência de países e cidades no cenário global”, aponta Oswaldo Neto, analista de Projetos Especiais da Firjan e um dos responsáveis pelo estudo.
Segundo o levantamento, sete cidades entre as 20 pesquisadas já atingiram um bom nível de influência, o “Soft Power influente”, e têm potencial para levar valores do Rio para o mundo: Niterói (100 pontos), Rio de Janeiro (92), Nova Friburgo (88), Petrópolis (84), Teresópolis (84), Angra dos Reis (80) e Campos dos Goytacazes (80). Os municípios se destacam por combinar inovação e desempenho econômico sólido com densidade criativa e capacidade de atrair investimentos e talentos.
Niterói, por exemplo, chega ao topo do Mapa com PIB e PIB per capita mais positivos que o da cidade do Rio. Com economia diversificada que combina polo offshore, serviços avançados, comércio ativo e uma crescente cadeia criativa, tem nos dados, no urbanismo e na sustentabilidade, os pilares de sua força simbólica.
Projetos como a TransOceânica, o túnel Charitas–Cafubá e a requalificação das lagoas de Piratininga e Itaipu transformaram mobilidade e meio ambiente em ativos de bem-estar e imagem urbana. Equipamentos icônicos, como o Museu de Arte Contemporânea e o Caminho Niemeyer, reforçam seu potencial cultural e estético, enquanto a Cantareira se consolida como polo criativo e universitário. “O desafio é manter a integração entre tecnologia, natureza e participação social, ampliando conexões entre o Centro, Regiões Oceânicas e a Baía de Guanabara”, sinaliza Neto.
Já o a cidade do Rio de Janeiro tem vocação múltipla. É urbana pela forma como reinventa seus espaços; é histórica e patrimonial por carregar o legado de séculos de cultura e arquitetura; é ambiental pela natureza integrada ao cotidiano; e é científica e criativa por ser berço do conhecimento, da arte e da inovação. Sua força está em transformar paisagem em pertencimento, diversidade em identidade e urbanismo em cultura viva.
Para Julia Zardo, “quando o Rio se reinventa, ele não muda apenas o mapa: ele inspira o mundo”. Ela credita que para fortalecer o Soft Power da capital, é essencial consolidar o vetor Urbanismo + Cultura + Inovação, posicionando a cidade como modelo de criatividade urbana.
Para isso, seria desejável expandir políticas de uso misto e habitação no Centro e Porto, estimulando uma lógica de cidade viva; investir em mobilidade sustentável, priorizando pedestres, ciclistas e integração entre modais; valorizar territórios periféricos e favelas, como polos de produção cultural e estética; e promover infraestrutura verde e azul, com arborização, drenagem natural e reuso de águas, reforçando o vínculo entre cidade e natureza.
Em seguida, está o grupo “Soft Power consolidado”, reunindo Paraty (76), Vassouras (72), Três Rios (72), Itaguaí (72), Duque de Caxias (72), Paraíba do Sul (64), São João da Barra (60) e Itaperuna (56), cidades cuja reputação já se tornou ativo de valor. Paraty é referência em preservação ambiental e patrimonial, com 85% de sua vegetação nativa protegida e um conjunto arquitetônico reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial Misto.
Para fortalecer seu Soft Power, a cidade poderia buscar posicionar-se como referência em sustentabilidade e cultura viva, valorizando a narrativa caiçara como ativo simbólico e econômico e expandindo parcerias e eventos que a posicionem como um hub do conhecimento do mar, unindo cultura, natureza e inovação.
No nível “Soft Power em desenvolvimento” estão municípios ainda em processo de consolidar a própria imagem e ampliar visibilidade, como Nova Iguaçu (48), Santo Antônio de Pádua (48), São Gonçalo (44), Guapimirim (44) e Carmo (40). Mesmo em se tratando da última colocada do ranking do Mapa, Carmo tem o tempo como aliado: a história não é passado, é patrimônio vivo.
“O fortalecimento de Carmo, no estudo, passa por transformar seu patrimônio histórico em ativo econômico e cultural, estimulando e economia criativa e o turismo de memória com produtos como a Cachaça da Quinta e eventos como a Lavagem da Ladeira — para reforçar identidade, pertencimento e novas oportunidades para o município”, exemplifica Neto.
O intangível virou estratégia
O conceito de Soft Power, formulado pelo cientista político Joseph Nye nos anos 1990, define a capacidade de um país ou cidade influenciar o mundo não pela força, mas pela admiração que conquista em cultura, inovação, valores e estilo de vida. Londres, Tóquio, Paris e Amazônia são exemplos clássicos. O estudo da Firjan revela que o estado do Rio de Janeiro tem atributos únicos para jogar nesse mesmo campo também.
Lições do mundo
Além do nível de maturidade de Soft Power das cidades, outros quatro grandes eixos expressam as vocações simbólicas e econômicas fluminenses: Urbano, Meio Ambiente, História e Patrimônio, e Conhecimento. O Eixo Urbano reúne cidades como Rio de Janeiro, Niterói, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São Gonçalo, onde a cultura das ruas, o planejamento e a criatividade se tornam vetores de influência, em movimento semelhante ao de Londres, referência mundial em urbanismo criativo.
No Eixo Meio Ambiente, municípios como Guapimirim, Paraty, Itaguaí, Três Rios e Santo Antônio de Pádua transformam biodiversidade e turismo sustentável em estratégia de desenvolvimento, em sintonia com a lição da Amazônia, que projeta o Brasil pela força de sua natureza preservada.
Já o Eixo História e Patrimônio valoriza cidades como Carmo, Paraíba do Sul, Vassouras, Teresópolis e Nova Friburgo, que convertem memória e arquitetura em ativos de identidade, a exemplo do México, que fez de seu patrimônio um motor econômico e cultural.
Por fim, o Eixo Conhecimento destaca Itaperuna, São João da Barra, Angra dos Reis, Campos dos Goytacazes e Petrópolis, territórios onde ensino, tecnologia e inovação impulsionam o desenvolvimento, em linha com o modelo da China, que transformou educação e pesquisa em instrumentos de poder global.
“Juntos, esses quatro eixos revelam um Rio que se reinventa ao reconhecer no intangível a base para construir nova influência no mundo. Temos vários exemplos de territórios internacionais que entenderam que o desenvolvimento começa na identidade. O nosso estado tem todos os ingredientes para seguir essa receita”, destaca Julia Zardo.

