9 de novembro de 2025
NotíciasNotícias 24hs

Carro 0 km ou seminovo? Especialistas avaliam qual a melhor opção para o comprador

Diferenças entre os tipos de financiamento podem influenciar a escolha

Comprar um carro… Com a realidade econômica brasileira, essa ação se torna mais do que uma compra e vira quase um desafio. Para os que não querem investir em um veículo mais rodado, restam duas opções: adquirir um veículo seminovo ou um modelo 0 km.

Mas qual destas é melhor escolha? Para responder a esta pergunta, O DIA econsultou especialistas do mercado, que detalharam questões como a média de desvalorização de carros 0 km, as diferenças no financiamento e a revenda.

Desvalorização

Raphael Jonathas da Costa Lima, coordenador do projeto Brain (Brazilian Research in Auto Industry), da Universidade Federal Fluminense (UFF), falou sobre a desvalorização dos carros 0 km ao sair da fábrica.

“Não é necessariamente uma desvalorização de 20%, como muitos acreditam. Acho que podemos colocar em uma média de 10%”, destacou. Ele também ressaltou que automóveis podem perder seu valor mais rápido nos três primeiros anos, porém “depois a queda desacelera”.

O professor Ruy Afonso de Santacruz, do departamento de Economia da UFF, concorda com Lima, ressaltando que a desvalorização hoje ao sair da fábrica gira em torno de 10% a 15%. Ele acrescentou que “no passado não tão distante, havia uma taxa de perda de valor muito elevada”. “Mas a gente tem que lembrar que antigamente os carros duravam muito menos. Atualmente, um carro pode rodar 500 mil quilômetros sem grandes problemas. Então essa taxa de desvalorização caiu com o tempo”, esclarece.

Já para Caio Ferrari, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), há, sim, uma “forte desvalorização no primeiro ano”, mas ele diz que “quanto mais o tempo passa, menos o carro desvaloriza em termos proporcionais”.

Financiamento

Lima pontuou também que há diferença nos tipos de financiamento para cada uma dessas categorias. “Geralmente é mais fácil o financiamento para carros 0 km, até mesmo com condições melhores, como melhores taxas de juros. Acho que isto está associado à garantia do veículo”, diz. “No caso do seminovo, o financiamento costuma aceitar prazos mais longos, mas os juros podem ser um pouco maiores. A aprovação do financiamento também pode ser mais criteriosa”, acrescenta.

Ferrari apontou também ressalta a diferença no acesso ao crédito nos dois casos. Ele, no entanto, apontou que “em geral, nos dois casos há disponibilidade de financiamento”.

Santacruz, sem comparar diretamente um e outro, aponta o modelo de consórcio como a melhor opção de compra para carros novos e seminovos, considerando aqueles que podem esperar pelo veículo.

Revenda

Sobre a questão da revenda, Lima ressaltou que os seminovos têm mais estabilidade neste sentido. “O carro 0 km sofre uma desvalorização maior do primeiro para o segundo dono. Já o seminovo, quando passa do segundo para o terceiro dono, tem uma menor depreciação relativa”, explica.

Ele, no entanto, lembrou que “o valor de revenda absoluto do carro comprado 0 km originalmente continua sendo maior”.

Veredito

Para Santacruz, analisando todos os pontos, é melhor investir em um veículo seminovo. Ele disse que “atualmente, um carro com um ou dois anos de uso, com 20 a 30 mil quilômetros rodados, equivale a um carro 0 km”. “Então desse ponto de vista, é sempre melhor comprar o carro seminovo”, sugere.

O especialista entende que este tipo de veículo “não vai ter problemas mecânicos mais altos, ou despesas previstas somente por ter 1 ou 2 anos de uso”. O especialista lembrou ainda que o financiamento pode ter condições um pouco melhores para carros 0 km, mas que isto é compensado, já que estes modelos que saídos da concessionária possuem seguro e IPVA mais altos.

Lima também preferiria um carro novo se estivesse se colocando no lugar do consumidor. Ele, no entanto, fez mais ressalvas. “Considerando a desvalorização e o conjunto de seguro e IPVA mais altos do carro zero, o seminovo tende a ser uma opção mais vantajosa financeiramente”, avalia.

Apesar disso, ele argumenta que “um carro novo com certeza vai gastar menos manutenção do que um carro seminovo, embora o carro seminovo também não demande tanta manutenção”. “O que vai diferenciar o carro zero do seminovo, muitas vezes, é a experiência e a sensação de você ser o primeiro motorista, de você ter um carro novo, cheiroso, enfim. Por isso muita gente gosta de comprar um carro zero”.

Ferrari, por outro lado, não aponta diretamente uma opção como mais vantajosa: “Valer a pena ou não é uma questão subjetiva nesse caso. O que dá para dizer é que sim, o custo com um carro 0 km pode ser mais elevado do que um seminovo, embora nesse caso a depender do modelo, o custo do mesmo seminovo pode ser bastante elevado ainda assim”, disse.

Números equilibrados
A Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) informou que neste ano, até outubro, foram vendidos 2,06 milhões de automóveis no País, nas categorias Auto e Comercial Leve.
Já os relatórios da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), apontaram para números maiores na venda de usados em geral.
Considerando as categorias, Auto (9.448.588) e Comercial Leve (1.762.809), foram vendidos, em 2025 até outubro, 11,21 milhões de veículos do tipo com algum nível de uso.
Já o total de veículos seminovos vendidos até o fim de outubro é de 2.949.014. Este dado, no entanto, também considera as categorias Comercial Pesado, Moto e Outros.
A Fenauto não fornece dados específicos sobre o número de veículos das categorias Auto e Comercial Leve seminovos que foram vendidos até aqui.
No entanto, as duas categorias representam 73,5% do total de vendas de veículos usados. Se este percentual for aplicado ao número de vendas de seminovos, é possível estimar o número de 2,16 milhões, proporcionalmente equilibrado ao número de vendas dos carros 0 km.
Opinião dos compradores
Stefanie Lima, de 29 anos, é gerente de contas de um banco na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ela contou que, junto do marido, optou há três meses por apostar em um carro 0 km. “Viajamos para São Paulo pelo menos uma vez ao mês, então pela distância, conforto e segurança optamos por tirar um zero km”, contou.

Perguntada se ela acredita que a opção vale mais a pena do que um seminovo, ela respondeu que sim, “pois com o seminovo precisamos investigar a procedência do carro, a mecânica e etc..”.

Ela ressaltou que havia comprado um carro seminovo em outra oportunidade e que “não teve nenhum tipo de problema”.
Usados mais antigos também têm vez
Leonardo Nascimento, de 26 anos, é bancário e mora no Cachambi, na Zona Norte carioca. Há seis meses, ele adquiriu um veículo fabricado em 2015.
“Procurei por um modelo mais econômico, essa foi o meu critério na escolha. Estou satisfeito. Ele me atende muito bem”, garantiu.
Ele já havia comprado um outro veículo que não era 0 km. “Nunca tive problemas graves, apenas as manutenções periódicas. Tento verificar ao máximo a procedência e tento comprar sempre diretamente com pessoas físicas que estão vendendo”, disse.
O DIA também conversou com Jarcko Pais, de 54 anos. Questionado sobre os famosos “problemas ocultos”, que carros seminovos podem esconder, ele aconselha a quem tem interesse em adquirir este tipo de automóvel: “Procure sempre as concessionárias, pois existem planos já estabelecidos com garantia de um ano. Isso já faz toda a diferença”, frisa. “Para veículos de agências, ou até mesmo particulares, existe o laudo cautelar que lhe assegura questões estruturais do veículo, assim como, questões fiscais e origem do veículo”, completa.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *