Microfranquias crescem no Brasil e atraem quem deseja abrir o próprio negócio
Modelo de operação com menor investimento oferece oportunidades em cidades fora dos grandes centros
Com investimento inicial menor que o das franquias tradicionais, o modelo de microfranquia tem atraído cada vez mais brasileiros que sonham em abrir o próprio negócio. De acordo com a Pesquisa de Desempenho do Franchising 2025, da Associação Brasileira de Franchising (ABF), o modelo de microfranquia pura já representa cerca de 21% das operações nos 30 municípios com maior expansão do setor.
As microfranquias puras são redes que oferecem exclusivamente modelos de negócio com investimento inicial de até R$ 135 mil. Já as microfranquias mistas, que combinam modelos de microfranquias com modelos tradicionais, cujo investimento inicial ultrapassa R$ 135 mil, representam 19% dos modelos de operação. Hoje, são consideradas microfranquias apenas os modelos com investimento abaixo desse valor.
O levantamento também aponta que o setor de franquias faturou R$ 287,16 bilhões nos últimos 12 meses. O Brasil é o quarto país com o maior número de redes de franquias no mundo, responsável por gerar aproximadamente 1,7 milhão de empregos diretos.
De acordo com o presidente da ABF, Tom Moreira Leite, o crescimento do número de microfranquias acompanha a tendência de expansão do modelo de negócio para além das capitais.
“Nós temos observado as redes desenvolvendo formatos mais leves, com investimentos mais baixos, modelos de quiosque, modelos home-based, micro-franquias, dark kitchens, possibilitando a penetração em locais com um número de população menor que os grandes centros”, afirmou durante a Convenção ABF do Franchising, realizada outubro em Una, Bahia.
A publicitária e moradora do Rio Carolina Raposo, de 30 anos, conta que escolheu investir em um modelo de microfranquia devido à segurança oferecida.
“Quando decidi empreender, eu queria algo que unisse autonomia e segurança. Começar do zero é empolgante, mas exige tempo, estrutura e um investimento alto em testes e aprendizados”, destaca. “A microfranquia sempre me pareceu o equilíbrio ideal: pude entrar em um modelo validado, com um investimento mais acessível, e ainda assim manter o controle do meu dia a dia, das minhas decisões e da minha rotina de trabalho. Era o formato apropriado para quem queria empreender com propósito, mas também com planejamento.”
A moradora do Rio, que se tornou investidora de uma microfranquia da Peggô Market em julho de 2025, explica os maiores desafios. “O começo foi um misto de empolgação e medo, como toda jornada empreendedora. O principal desafio foi sair da mentalidade de funcionária para a de dona do próprio negócio. Estava entrando em um mundo completamente novo”, explica.
Ela também frisa que, no início, teve dificuldade com a organização do negócio. “Outro ponto desafiador foi organizar o tempo e manter a constância, já que, mesmo com o suporte da franqueadora, o sucesso depende muito da minha dedicação. Aprendi, na prática, que disciplina e foco são tão importantes quanto o investimento inicial.”
Já a engenheira de produção Tatyane Kozuch, de 27 anos, explica que sua maior dificuldade foi em compreender o sistema:
“O maior desafio foi o processo de aprendizado inicial: compreender o sistema, estruturar os processos e entender o perfil do público. As primeiras semanas foram bastante intensas, mas, com o tempo e os treinamentos, tudo se tornou mais organizado e tranquilo.”
A engenheira explica que o apoio da franqueadora foi essencial. “A franqueadora ofereceu amplo suporte durante todas as etapas: Onboarding, Implantação e Consultoria, fornecendo todas as informações necessárias, esclarecendo dúvidas e acompanhando cada fase do processo”, afirma. Ela escolheu investir em um minimercado autônomo, da rede Honest Market Brasil.
Thiago Lupatini, fundador do Food Club, grupo especializado em franchising e alimentação, destaca que, embora seja um negócio já consolidado, ele demanda planejamento e gestão rigorosos.
“O investimento reduzido não significa facilidade. O que diferencia as redes que prosperam é o equilíbrio entre uma marca sólida, suporte efetivo da franqueadora e dedicação do franqueado à operação”, explica Lupatini.
Especialista dá dicas para quem deseja abrir uma microfranquia
Antes de escolher a franqueadora, Thiago Lupatini afirma que o futuro investidor deve seguir alguns passos. Entre eles, avaliar o suporte do negócio e o público-alvo.
“Não adianta buscar um ponto com aluguel baixo se o fluxo de clientes for insuficiente para sustentar o faturamento”, enfatiza o especialista. “É importante que o local e o público estejam alinhados à proposta da marca e ao ticket médio do negócio”, alerta.
Lupatini também aponta que é essencial avaliar o suporte oferecido pela franqueadora: “Um dos erros mais comuns é acreditar que a microfranquia deve oferecer suporte básico. O franqueado, muitas vezes, ainda está em formação como empresário. Cabe à franqueadora oferecer treinamento, acompanhamento e relacionamento próximo – especialmente nos primeiros meses.”
Escolher modelos que permitam uma boa gestão e adaptar o mix de produtos ao perfil local também são passos fundamentais para quem busca investir nesse modelo de negócio.
“Multiplicar unidades sem gestão adequada é um erro. Cada ponto tem um mix e um comportamento de consumo próprios. Tratar várias lojas como renda extra é caminho certo para o fracasso”, afirma. “É preciso entender o que o público valoriza e ajustar o mix de produtos ou serviços conforme a região. Copiar o modelo sem ajustes reduz o potencial de vendas”, orienta Lupatini.
Por último, o especialista destaca que é fundamental não confundir o investimento em microfranquias com sinônimo de lucro fácil. Embora o modelo seja consolidado e ofereça estrutura e segurança, além de processos já validados, o sucesso do negócio, explica o especialista, também depende do trabalho diário do franqueado. “Vender, acompanhar o desempenho e cuidar do atendimento continuam sendo funções essenciais. É o franqueado quem garante o caixa saudável e o crescimento do negócio.”
Municípios brasileiros que mais crescem em franquias
De acordo com o ranking das 30 cidades do franchising brasileiro em faturamento, realizado pela ABF, São Paulo é o município com maior faturamento, registrando R$ 15.721.225.521 no 1º semestre de 2025. O Rio de Janeiro aparece em segundo lugar, com R$ 6.697.574.203, seguido de Brasília, com R$ 3.048.223.349, e Curitiba, com R$ 3.039.821.110.
Já entre os municípios com maior crescimento de faturamento, comparando os anos de 2024 e 2025, destacam-se Porto Alegre, com aumento de 32,97%; Jundiaí, com 29,26%; e Santos, com 19,51%.
Sobre a reputação do setor, um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), em parceria com a empresa Datrix, aponta que 78% dos entrevistados têm uma visão positiva sobre o setor de franquias. Entre os principais fatores de reconhecimento estão a geração de empregos (79%), o desenvolvimento econômico (90%) e o apoio a pequenos empreendedores (87%).
A pesquisa foi realizada entre 12 de julho e 5 de agosto de 2025 e ouviu 1.500 brasileiros das classes A, B e C, em todas as regiões do país, abrangendo capitais e municípios de médio e grande porte, tanto das regiões metropolitanas quanto do interior, com margem de erro de 2,6 pontos percentuais.

