Funcionárias de restaurante fast-food acusam cliente de racismo: ‘Disse que viemos da senzala’
Funcionárias de um restaurante fast-food acusam uma cliente de racismo após serem ofendidas dentro do estabelecimento, localizado na Lapa, na região central do Rio. Segundo a denúncia, a mulher disse que as vítimas tinham que voltar para a senzala, fazendo referência ao local onde os negros ficavam no período da escravidão.
O caso ocorreu na noite do último sábado (25) na loja na Avenida Mem de Sá. Ao DIA, Ane Caroline Corrêa da Silva, de 28 anos, conta que a mulher chegou embriagada no restaurante e fez um pedido. Com a nota na mão, a cliente voltou atrás e pediu para cancelar a comida, que já estava em produção.
“Ela estava super bêbada e começou a brigar com o caixa. Falei que toda vez que ela chega desse jeito, ela faz isso. Então, começou a nos xingar. Eu não dei confiança. Ela disse que eu devia voltar para a senzala de onde eu tinha vindo, falou que não gosta de gente da minha cor, de gente feia e gorda. Começou a ofender, dizendo que éramos favelados e que tinha que voltar para lá. Isso não é possível”, explica.
Ainda segundo a funcionária, um entregador chegou no estabelecimento e presenciou as ofensas, também sendo alvo de racismo. A cliente ainda teria acusado ambos de roubarem seu celular.
“Ela disse que a gente tinha roubado o celular, mas estava na mão dela. Precisei tomar remédio para me acalmar. É a primeira vez que passo por algo assim. Trabalho ali há um ano e nove meses e nunca tive problema com cliente. Não é porque sou negra que sou pior ou melhor que alguém. Não consegui dormir, tive insônia. Até para trabalhar está sendo ruim porque fico pensando que ela vai voltar, pois ela me ameaçou de morte”, completa Ane.
A mulher é mãe de dois filhos e conta que precisa do trabalho para conseguir se sustentar. “É inegável que, mesmo em 2025, a presença e a violência do racismo continuam sendo dolorosa em nossa sociedade. A sua persistência demonstra o quão enraizadas estão as lógicas de opressão racial que moldaram a história. Isso precisa acabar. Tenho dois filhos negros e nem imagino eles passando por tudo que eu passei”, finalizou.
Quem também recebeu as ofensas foi a gerente Giovana Miller Souza, de 21 anos. A jovem destaca que a cliente dificultou a resolução do problema com o pedido.
“Tentei conversar com ela e a mesma começou a se alterar batendo no balcão e gritando conosco. A racista não só disse que viemos da senzala, como também nos chamou de faveladas, feias e gordas. Disse que não gostava da nossa cor, ameaçou nos matar e também avançou fisicamente nas pessoas, em um entregador e em uma moça da loja ao lado, além de dois policiais. Ela jogou objetos, correu atrás, empurrou e também acusou de roubo o entregador. Já lá na delegacia, ela continuou humilhando a funcionária e o entregador, ainda tentando avançar e acusando eles de várias coisas”, disse.
Giovana ressalta que, assim como Ane, nunca havia passado por uma situação como essa. “Nos sentimos humilhadas e impotentes, mesmo com paciência e carinho atendendo-a, fomos tratadas desta forma. Uma criança não nasce racista. Um racista educa o outro. Isso tem que mudar. A cor não define as pessoas e o que elas são. Eu prefiro acreditar que um dia isso tenha fim. Nunca esperamos acontecer com a gente, até que realmente acontece”, completa.
O caso foi registrado na 5ª DP (Mem de Sá). Segundo a Polícia Civil, a mulher foi autuada em flagrante pelos crimes de ameaça e injúria por preconceito. O caso será encaminhado à Justiça.

