Viúva comemora homenagem a Jaguar na Rua da Carioca: ‘Ele ficaria feliz’
A viúva do cartunista Jaguar, Celia Regina Pierantoni, celebrou a homenagem feita pela prefeitura do Rio ao artista na Rua da Carioca, no Centro. Desde o último dia 9, um pequeno trecho da emblemática via, no cruzamento com a Praça Tiradentes, ganhou o nome de Baixo Jaguar. O chargista morreu aos 93 anos, no dia 24 de agosto.
“Acho que ele ficaria feliz se estivesse aqui para ver a placa com seu nome, achei muito interessante. Ele não era muito vaidoso com essas coisas, mas acredito que gostaria muito se estivesse aqui”, comemora Celia.A escolha da Rua da Carioca tem um simbolismo particular. Foi ali, no número 59, que funcionou a última sede do lendário “O Pasquim”. Fundado em 1969 por Jaguar, Sérgio Cabral (1937-2024) e outros nomes importantes, o jornal ficou marcado com um símbolo de resistência à ditadura militar.
Célia conta que o marido gostava de frequentar os bares do bairro e dormia, às vezes, na própria redação. “A última sede do Pasquim ficava num prédio de quatro andares ali daquela rua, então era normal ele dormir por ali mesmo depois de ir em algum bar da região, principalmente o Bar Luiz.”
Último desejo
Além da placa, uma outra homenagem ao cartunista deverá acontecer em breve. Isso porque, Jaguar pediu que suas cinzas fossem jogadas nos bares que mais gostava de frequentar.
A viúva afirma que vai cumprir o último desejo do marido, mas revela que o plano está adiado por questões emocionais. “Separei o ‘Confesso que bebi’, que ele escreveu, e vou fazer a lista dos bares que mais gostava, mas não tive tempo de ver isso direito. Ainda sinto muito a sua falta toda vez que abro o livro”, lamenta.
Celia adianta alguns dos bares onde pretende levar as cinzas: Aqui no Leblon, sei que vou no Bracarense, no Jobi, Casa Clipper e no Degrau, que não é bar mas a gente ia muito. Tem uns que não estão mais abertos, como o Bar Luiz, mas tem muitos outros lugares, em Benfica, Bonsucesso, até em São Paulo.”
Carreira
Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe construiu uma carreira que se mistura com a própria identidade carioca. Começou a publicar seus desenhos na revista “Manchete” em 1952, quando adotou o pseudônimo que o acompanharia por toda a vida – uma sugestão do cartunista Borjalo (1925-2004).
Durante a ditadura, por conta de sua atuação no “Pasquim”, chegou a ser preso em 1970. Foi o único dos fundadores a permanecer na redação até o fim da publicação, em 1991. Jaguar também marcou época com uma coluna no Jornal O DIA.
Além de sua contribuição para o jornalismo, teve papel ativo na cultura carioca, sendo um dos idealizadores da tradicional Banda de Ipanema em 1964, ajudando a fortalecer o carnaval de rua.
Ele também lançou obras como “Átila, você é bárbaro” (1968) e “Confesso que bebi” (2001), que mescla memórias e um guia da boemia da cidade.