17 de setembro de 2025
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Ex-delegado assassinado em SP: entenda como o litoral paulista virou palco do crime organizado

O assassinato de Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral de São Paulo conhecido por sua atuação contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), nesta segunda-feira (15) na Praia Grande, é o capítulo mais recente de uma violenta disputa no litoral paulista. A morte de Fontes não é um caso isolado, mas sim o ápice de uma série de confrontos que se intensificaram desde meados de 2023, transformando a região em um “cenário de guerra”, como já havia alertado o Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite.

A preocupação com a segurança na área já era uma realidade para o ex-delegado. Em dezembro de 2023, após ser vítima de um assalto na mesma cidade, Fontes expressou seu temor: “Eu combati esses caras durante tantos anos e agora os bandidos sabem onde moro”. A situação, segundo Derrite, reflete a tentativa de criação de um território paralelo pelo crime organizado.

O estopim das grandes operações

A espiral de violência que levou à atual crise teve um gatilho claro em 27 de julho de 2023, quando o soldado Patrick Bastos Reis, da Rota, foi morto durante um patrulhamento na Vila Zilda, no Guarujá. A morte do policial de elite desencadeou uma mobilização massiva das forças de segurança, dando início à Operação Escudo.

Com um efetivo de 600 agentes de equipes especializadas das polícias Civil e Militar, a operação bloqueou acessos a bairros e, entre o final de julho e o início de setembro daquele ano, resultou em 28 mortes em ações policiais. A Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) defendeu a medida como uma forma de “sufocar o tráfico de drogas e combater o crime organizado na Baixada Santista”.

No entanto, a operação gerou controvérsias: o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) recebeu relatos de excessos, incluindo possíveis execuções e torturas. O debate sobre o uso de câmeras corporais por policiais foi reaceso, especialmente após o Ministério Público acusar dois PMs de cobrirem seus equipamentos para forjar um confronto. Ao fim da operação, o comando da Rota passou por mudanças, classificadas como rotineiras pela secretaria.

Após uma breve trégua, o conflito na região foi retomado em 2024. Em janeiro, a morte de outro PM, o soldado Marcelo Augusto da Silva, atacado na Rodovia dos Imigrantes, em Cubatão, motivou a retomada das ações intensivas. Apenas seis meses após o início do primeiro grande confronto, a região novamente se viu mergulhada em uma nova onda de violência.

Fevereiro de 2024 foi particularmente crítico para as forças de segurança. No dia 2, o agente da Rota Samuel Wesley Cosmo foi assassinado em Santos. Cinco dias depois, na mesma cidade, o cabo do Baep, José Silveira dos Santos, também foi morto em um enfrentamento.

Esses dois casos levaram a uma nova resposta policial que resultou na morte de 27 suspeitos. Entre eles estava um homem conhecido como “Danone”, apontado como líder de uma facção no Guarujá, envolvido com tráfico internacional e atentados contra agentes públicos.

Já em abril, o soldado Luca Romano Angerami desapareceu no Guarujá e seu corpo foi encontrado mais de um mês depois. Em outubro, uma base da PM na Vila Zilda foi alvejada, e policiais em patrulhamento na mesma área foram recebidos a tiros, evidenciando que o local onde a primeira operação começou permanecia como um epicentro de tensão.

Secretaria de Segurança defende as estatísticas

Ao GLOBO, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) defendeu as ações para desarticular a estrutura das facções. A Pasta informou que em agosto, Luken Cesar Burghi Augusto, um dos chefes do PCC mais procurados do país, foi morto em um confronto com a Rota na Praia Grande.

Segundo a SSP, outras prisões importantes também foram realizadas, como a de Karen Tanaka Mori, a “Japa”, responsável por lavar dinheiro para o crime, e de Caio Vinicius, o “Nego Boy”, acusado de liderar o tráfico em Santos.

O órgão afirmou ainda que, apesar da percepção de aumento da violência, os indicadores criminais gerais apresentaram queda. De janeiro a julho deste ano, o Deinter 6 (Santos) registrou 58 homicídios dolosos e dois latrocínios, os menores números da série histórica para o período. Os roubos em geral também atingiram o menor patamar já registrado.

Paralelamente, a secretaria defende que a produtividade policial cresceu. Segundo os dados da Pasta, nos primeiros sete meses do ano, o número de prisões e apreensões aumentou 18,5% em relação a 2024, totalizando 7.996. Além disso, as forças de segurança retiraram 399 armas de fogo ilegais de circulação e apreenderam 12,1 toneladas de drogas, uma alta de 85,84% em comparação ao ano anterior.

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