Investigações de 5 mortes do ‘Escritório do Crime’ no Rio não foram concluídas sob gestão Rivaldo, diz PF
Relatório da Polícia Federal aponta que, pelo menos, cinco mortes violentas, que tiveram a participação do chamado Escritório do Crime, não foram concluídas pela Delegacia de Homicídios da Capital.
Os assassinatos aconteceram entre 2011 e 2018, período em que o delegado Rivaldo Barbosa, ocupou, respectivamente, a equipe da DH, a chefia da delegacia e assumiu a chefia de Polícia Civil.
As investigações apontam que os crimes foram cometidos por Adriano da Nóbrega e pelo Escritório do Crime. O capitão Adriano, morto em fevereiro de 2020, é um dos fundadores do grupo junto com o tenente João André e o ex-PM Antônio Eugênio de Souza Freitas, o Batoré. Ambos já mortos.
Neste domingo (24), a Polícia Federal, o Gaeco, do Ministério Público estadual e a Procuradoria Geral da República realizaram a operação Murder Inc que prendeu Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE); seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-Chefe da Polícia Civil, entre 2018 e 2019.
Rivaldo Barbosa entrou para a Delegacia de Homicídios em 2012. Em 2015, o delegado assumiu a chefia da DH. Em 13 de março, ele tomou posse como chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro – na ocasião, a corporação não tinha status de secretaria, como ocorre desde o governo Witzel.
“Os indícios da existência de uma organização criminosa – enraizada no seio da Delegacia de Homicídios da Capital, composta por agentes públicos que, mediante suas condutas “omissivas” (em não apurar crimes) e ‘comissivas’ pelo direcionamento consciente e voluntário de atos de investigação para focos diversos da realidade), permitem a manutenção do esquema criminoso envolvendo contraventores e milicianos”, indica o relatório da PF.
Os crimes apontados como suspeitos e que não foram concluídos durante a gestão Rivaldo são:
José Luís de Barros Lopes, o Zé Personal – 16 de setembro de 2011. Assassinato ocorreu em um Centro Espírita da Praça Seca. Motivação: guerra de caça-níqueis. Zé Personal era marido de Shanna Garcia, filha do contraventor Maninho, morto em 2004.
Geraldo Antônio Pereira, vulgo Pereira – 17 de maio de 2016 – Sargento da PM. Morto na saída de uma academia no Recreio dos Bandeirantes. Motivação: guerra de caça-níqueis.
Marcos Vieira de Souza, o Marcos Falcon – 26 de setembro de 2016. Crime cometido no comitê de campanha em Oswaldo Cruz. Falcon era ex-PM, presidente da Portela e candidato a vereador quando foi assassinado.
Haylton Carlos Gomes Escafura – 14 de junho de 2017 – Também foi assassinada na ocorrência Franciene Soares de Assis, PM e namorada de Haylton. Filho do contraventor Piriunha, ele foi morto no interior do Hotel Transamérica, na Barra da Tijuca. Motivação: guerra de caça-níqueis.
Marcelo Diotti da Matta – 14 de março de 2018. Morto no estacionamento do Outback, na Barra da Tijuca. Diotti era marido de Samantha Miranda, ex-mulher de Cristiano Girão, apontado como chefe da milícia da comunidade Gardênia Azul. Motivação do crime: guerra de caça-níqueis.
Em seu relatório, a PF informa que, se fossem investigados, os crimes praticados por Adriano da Nóbrega e pelo Escritório do Crime poderiam ser evitados:
“Impende destacar que, caso fosse efetivamente investigado, uma série de homicídios atribuídos ao CAPITÃO ADRIANO e ao Escritório do Crime poderiam ter sido evitados”
Delação de Ronnie Lessa
O matador de aluguel Ronnie Lessa afirmou, em delação premiada à Polícia Federal, que o ex-chefe de Polícia Civil Rivaldo Barbosa perdeu o controle do caso Marielle Franco e decidiu entregar os executores do atentado. Antes do ataque, o delegado teria dado uma garantia prévia de impunidade aos mandantes Domingos e Chiquinho Brazão.
“[Os irmãos Brazão] Estavam revoltados da vida, estavam incorporados porque o Rivaldo estava pulando fora; o Rivaldo virou as costas; e o Rivaldo alegou que não tinha mais como segurar, fugiu a alçada dele, e não tinha mais como segurar, tentaram até onde deu e perdeu o controle”, afirmou Lessa em seu depoimento aos investigadores.
A Polícia Federal aponta nas investigações que a morte da vereadora foi um crime idealizado pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e “meticulosamente planejado” pelo delegado Rivaldo Barbosa. Os três foram presos neste domingo (24).
O relatório final da Polícia Federal sobre o caso concluiu que a grande repercussão do crime foi determinante para atrapalhar o planejamento dos mandantes.
“Ainda que tenha conseguido adiar a resolução da investigação por seis anos, a sabotagem do trabalho apuratório esbarrou em uma variável que nenhum dos agentes participantes da empreitada criminosa previu: a magnitude da repercussão midiática do crime”, diz o relatório.
“Com o fim de estancarem a pressão imposta pela sociedade civil e pela mídia, Rivaldo e Giniton, de supetão, conforme será visto adiante, jogaram os executores do delito aos leões e imputaram-lhes a tese do ‘crime de ódio’, com o fim de fechar a tampa da apuração e preservar os autores intelectuais”.
Segundo a PF, Rivaldo Barbosa “foi o responsável por ter o controle do domínio final do fato, ao ter total ingerência sobre as mazelas inerentes à marcha da execução, sobretudo, com a imposição de condições e exigências”.
A PF também afirma que criminosos pagavam uma “mesada” que podia chegar a R$ 300 mil para evitar investigações da DH.
Todos os presos negam as acusações.
Barbosa assumiu chefia da polícia na véspera do atentado
O ex-chefe da Polícia Civil do RJ Rivaldo Barbosa, preso neste domingo (24), é apontado pela Polícia Federal como mentor do assassinato de Marielle Franco. Ele tomou posse em 13 de março de 2018, um dia antes da execução da vereadora.
Após a delação do ex-PM Ronnie Lessa, acusado de ser o executor do assassinato, a PF concluiu que Rivaldo já tinha uma “relação indevida” com os mandantes antes mesmo do crime.
De acordo com a ordem de prisão, “se verifica claramente que o crime foi idealizado pelos dois irmãos e meticulosamente planejado por Rivaldo”.
Segundo a investigação, Rivaldo exigiu que Marielle não fosse morta entrando ou saindo da Câmara. “Tal exigência tem fundamento na necessidade de se afastar outros órgãos, sobretudo federais, da persecução do crime”, diz a PF.
Morte do menino Eduardo de Jesus
A delegacia que era comandada por Rivaldo também conduziu a investigação da morte do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, no Complexo do Alemão, em 2015. O caso ganhou repercussão nacional.
O menino foi atingido na cabeça por um tiro de fuzil disparado por PMs, na porta de sua casa. Na ocasião, a Delegacia de Homicídios era chefiada por Rivaldo. O delegado pediu o arquivamento das investigações.
O delegado entendeu que os PMs agiram em legítima defesa.