Grávida morta a tiros em Campos dava carona a tia com síndrome de Down: ‘passa o dia chorando’

A família de Letycia Peixoto Fonseca, grávida de oito meses morta a tiros por homens a bordo de uma moto, em Campos dos Goytacazes na última quinta-feira, está em choque. Além da gestante ter apenas 31 anos, e seu filho Hugo ter morrido no dia seguinte ao crime, os disparos foram efetuados na rua em que a família mora há mais de meio século. No momento do crime, Letycia deixava a tia-avó Simone Peixoto, de 50 anos, em casa, após um passeio de carro para acalmá-la: no banco do carona, Simone, que tem síndrome de Down, ficou coberta de sangue e agora chora o tempo inteiro.

O endereço do crime foi a Rua Simeão Schremeth, no bairro Parque Aurora. É nesta rua em que mora boa parte da família: além da tia-avó Simone; a casa em que Letycia morava com a mãe, Cintia Fonseca, fica na mesma rua; bem como a casa do tio-avô da vítima, Célio Pessanha Peixoto, tio de Cintia, que socorreu as parentes e vive no local a vida inteira.

— A minha sobrinha (Cintia) estava tomando conta da minha irmã, Simone, que tem síndrome de Down. Como ela estava agitada, a Letycia a levou para um passeio de carro, porque ela gosta — conta Célio, que explica que, ao retornar à casa de Simone, Cintia desceu do carro. — Foi o tempo da mãe descer para abrir o portão e vieram os dois motoqueiros de farol apagado, que deram cinco tiros na Letycia.

A ação dos criminosos foi registrada por uma câmera de segurança no local. O carro branco, conduzido por Letycia, está encostado em frente à casa da tia Simone. Na parte de fora, em pé, aparece Cintia, que teria descido para abrir o portão e, assim, desembarcar a tia em segurança. Neste momento, na noite de quinta-feira, dois homens encostam, de moto, na janela da motorista e o garupa efetua os disparos.

Cintia corre e tenta reagir, partindo para cima dos criminosos, mas também atingida por um disparo e, ainda assim, volta para tentar socorrer a filha.

— A Simone ficou “estatalada”, coberta de sangue, o que fez a Cintia (mãe de Letycia) achar que ela também tinha morrido. A sorte é que eles (criminosos) atiraram de frente, porque, se atiram de lado, podia ser que a munição vazasse e pegasse na minha irmã — lamenta Célio, que diz que a irmã, que tem síndrome de Down, já era de poucas palavras e agora ficou calada de vez, além de passar “o dia inteiro chorando e tremendo”, observa.

Morador da mesma rua, o tio foi quem prestou o socorro e lembra dos últimos momentos ao lado da sobrinha.

— A Cintia, com um tiro na coxa, foi quem me ajudou a desafivelar o cinto da Letycia e colocá-la no outro banco do carro. Ela foi com uma toalha limpando a boca da filha, daquela secreção que saía e também ficou com o rosto cheio de sangue, por tentar fazer respiração boca a boca na Letycia, que ficou pálida e faleceu — lamenta Célio, que completou 57 anos neste sábado. Enquanto ainda aprende a lidar com a dor, convive com a perda de apetite, além de ter dificuldade para dormir.

Avó tinha comprado bolo para comemorar

A gestação de Letycia já tinha oito meses e a expectativa de ver nascer o seu primeiro filho contagiava a família. Cintia Fonseca, avó da criança e mãe de Letycia, chegou a preparar uma pequena comemoração para celebrar mais um mês de gravidez:

— O bebê nasceria daqui praticamente duas semanas. Estávamos todos na expectativa, a Cintia chegou a comprar um bolinho para cantar parabéns. Agora ela ainda está meio parada pelo susto, não está acreditando (na morte da filha) — lamenta Célio.

A 134ª DP (Campos) investiga o caso. A delegada titular da unidade, Natália Padrão, informou neste sábado que prendeu um dos suspeitos de assassinar Letycia.

— Hoje (sábado) nós fizemos diversas diligências nas comunidades aqui da cidade (Campos dos Goytacazes), arrecadamos mais imagens, ouvimos mais testemunhas, identificamos, qualificamos e prendemos um dos executores que estava na motocicleta, que atirou na vítima. Ele confessou o crime. As investigações seguem no sentido da motivação ser passional. Estamos na produção de provas e na busca do segundo executor — detalhou a delegada Natália Padrão por meio do Instagram.

O Disque Denúncia, pro sua vez, divulgou cartaz para obter informações que pudessem levar à prisão dos envolvidos na morte de Letycia. O telefone para denunciar é (21) 2253-1177.

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