Criança de 2 anos morre após suposto espancamento em casa, em Belo Horizonte

Uma criança de 2 anos morreu na terça-feira (10) em Belo Horizonte após ficar internada em estado grave por dois dias, com sinais de possível espancamento. Há suspeita de agressão com envolvimento do pai e da madrasta, que foram detidos em flagrante e tiveram a prisão convertida em preventiva na terça. A reportagem ainda busca contato com a defesa do casal.

Ian Henrique de Almeida Rocha deu entrada no Hospital de Pronto-Socorro de Venda Nova, região norte da cidade, na madrugada de domingo (8), por volta das 4h. A equipe médica que atendeu a criança desconfiou do relato do pai, Marcio da Rocha de Souza, 32, e da madrasta, Bruna Cristine dos Santos, 35, sobre o que poderia ter ocorrido e chamou a polícia.

A criança apresentava lesão na cabeça, escoriação no lado esquerdo do queixo e edema na testa. Quando os policiais chegaram, a equipe médica informou que o estado de saúde do menino era gravíssimo e que ele seria transferido para outro hospital.

A morte de Ian no Pronto-Socorro João XXIII, para onde ele foi levado, foi comunicada oficialmente na terça pela Polícia Civil, que investiga o caso. O corpo do garoto passa nesta quarta (11) por exame de corpo delito no IML (Instituto Médico Legal) da capital.

Em termo de audiência de custódia realizada na terça, ao qual a Folha teve acesso, o casal tentou responsabilizar outra criança que estava com a família —uma menina autista de 4 anos, filha de Bruna— pelas supostas agressões. A mulher disse que, após saída do marido, foi tomar banho por volta das 18h20 de sábado (7). Quando saiu do banheiro, notou que Ian tinha uma lesão na boca e que estava com a testa vermelha.

Bruna afirmou, então, que perguntou à filha o que teria ocorrido, e que a criança disse palavras que a levaram a crer que a agressão poderia ter partido dela. Disse, ainda, que medicou o garoto e que em seguida colocou as duas crianças para dormir.

Cerca de uma hora depois disso, ainda segundo o depoimento de Bruna, ela foi ao quarto e viu que Ian tinha vomitado e que reclamava de dores no pescoço. A mulher disse ter enviado uma mensagem ao marido informando o ocorrido e foi dormir, colocando Ian ao seu lado.

O marido chegou durante a madrugada, ainda de acordo com a mulher, e perguntou pelo filho. Encontrado deitado no sofá da casa, o menino foi levado para a cama e começou a emitir gemidos. Segundo Bruna, houve tentativa de acordar a criança, que não respondia, e foi nesse momento que decidiram levar Ian para o pronto-socorro em Venda Nova.

Em seu depoimento, o pai do menino disse que a filha de Bruna é mais forte do que Ian e se locomove com facilidade, apesar de usar gessos nos dois pés. Marcio disse acreditar que a menina tenha usado o gesso para agredir seu filho.

A mãe de Ian, Isabela Carolina de Almeida Costa, disse à polícia que o filho já havia voltado para casa com machucados após período na casa do pai.

Em seu despacho para converter a prisão em preventiva, a juíza responsável pelo caso, Juliana Beretta Kirche Ferreira Pinto, afirmou que os depoimentos do casal fazem lembrar o caso do menino Henry Borel, morto aos 4 anos no Rio de Janeiro, em 2021.

“Os depoimentos dos autores são extremamente frágeis, inconsistentes, carecem de credibilidade perceptível ao homem médio, revelando-se a extrema brutalidade das agressões que vitimou a criança Ian, agredida violentamente, ceifando-lhe a vida. O caso remete ao triste e emblemático precedente de Henry Borel, amplamente divulgado pela mídia“, escreveu a juíza, na decisão.

Henry Borel, 4, morreu em março de 2021 depois de ser agredido, conforme as investigações. As suspeitas são contra o padrasto, Jairo Souza Santos Júnior, o Jairinho, e sua ex-companheira, Monique Medeiros, mãe do garoto, que irão a júri popular.

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